Sinônimo de alta performance, o Gatorade se tornou uma das bebidas mais icônicas do mundo e o que começou de maneira despretensiosa se tornou um negócio bilionário.
Tudo começou em 1965 na Universidade da Flórida, mais precisamente no departamento de Medicina da instituição; onde a equipe de cientistas liderados pelo médico Robert Cade, buscava resolver um intrigante problema que afetava os jogadores de futebol americano da liga universitária.
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Na época, a liga sofria severamente com problemas de desidratação dos atletas, que sofriam com a combinação de alta performance e sol escaldante que era comum durante os jogos da competição.
O problema era tão sério, que naquele ano, foram vitimados 25 atletas por conta da desidratação.
Pensando em resolver essa questão, os cientistas trabalharam na criação de uma bebida que tivesse caráter regenerativo, e que fosse capaz de repor imediatamente os nutrientes que os atletas perdiam durante a prática esportiva de alta intensidade.
Nessa busca, os pesquisadores encontraram a fórmula daquilo que poderia ser o elixir dos atletas: uma combinação de água, açúcar, sódio, potássio e fosfato. Ao longo dos testes, a solução parecia ser capaz de resolver o problema dos atletas, mas tinha um problema fundamental: o sabor era horrível.
Devido a combinação dos ingredientes, a solução não tinha um gosto aceitável, mas tudo mudou graças a sugestão da esposa do Dr.Cade que propôs a adição de suco de limão à mistura, para torna-la mais palatável.
A ideia foi bem aceita e o resultado final era uma bebida que cumpria seu propósito principal e tinha um gosto razoável, que ao menos garantia que os atletas pudessem tomar a bebida em grandes quantidades, e sem fazer cara feia.
Os primeiros testes com os atletas foram feitos com o time de futebol americano da Universidade, os Gators. E durante as experiências, tanto os cientistas, quanto os atletas, perceberam que a bebida não só cumpria o seu propósito de repor os minerais dos atletas, como também lhes davam energia extra, mesmo após já estarem cansados durante a atividade.
Durante o experimento, havia uma dúvida se a bebida era realmente poderosa, ou se ela tinha também um efeito placebo, capaz de tornar os jogadores mais energizados. Porém, de todo modo, funcionava; e os atletas adoravam.
Em pouco tempo, jogadores de outras escolas perceberam que os Gators tinham um líquido que lhes era fornecido durante os intervalos, e que os faziam ter uma performance acima da média. O líquido parecia uma limonada e logo ficou conhecido como a limonada dos Gators; fato que foi amplamente noticiado pelo jornal The Miami Herald, que ficou intrigado sobre o que era aquela bebida mágica.
Para o jornal, a bebida havia sido capaz de fazer um milagre com os jogadores dos Gators durante uma partida disputada no estádio Orange Bowl; quando os atletas conseguiram uma virada improvável em um jogo que parecia perdido, e ainda esbanjando energia.
Inicialmente, a bebida foi batizada pelos cientistas como Semoline Fire Water, mas ao longo do tempo, surgiu a ideia de renomea-la para Gator-Aid, ou ajuda aos Gators, em tradução livre. Porém, o sufixo Aid poderia gerar problemas junto aos órgãos regulatórios governamentais, já que tal expressão era usada normalmente para designar remédios e medicamentos, o que não era o caso da bebida.
Diante deste impasse, a bebida acabou reunindo um pouco de cada uma das influencias, e a limonada dos Gators, ou Gators Lemonade, se tornou apenas Gatorade.
Quase 3 anos depois de seu desenvolvimento e uso local, a bebida ganhou notoriedade nacional por conta de um relato feito para a popular revista Sports Illustrated, que também publicou um publicou um artigo, assinado pelo jornalista Gil Rogin, falando dos benefícios da nova bebida. “Equipes esportivas famosas vão ao delírio quando falam sobre o líquido verde-limão, opaco, com alguns atributos estranhos e sabor incomum”.
Diante da exposição nacional, os cientistas perceberam que não havia interesse por parte da Universidade em tornar a bebida um produto comercial; e então, o Dr. Cade decidiu vender os direitos da bebida para a fabricante Stokely Van-Camp, uma empresa consolidada no mercado de comidas e bebidas enlatadas, também conhecida como SVC.
Pelo acordo, além de ceder a fórmula da bebida, houve um acordo para melhorar o sabor da bebida, e também para acrescentar dois por cento de açúcares na mistura para que o produto fosse mais comercial, e capaz de chamar a atenção de outras pessoas, além de esportistas de alta performance. Surgia assim uma nova classe de bebida açucarada, que ficou conhecido popularmente como isotônico.
A partir daí, no verão de 1968, o Gatorade de lima-limão foi introduzido nos supermercados da Flórida, e um ano depois em todo o território dos Estados Unidos. Em 1970, foi a vez da introdução da embalagem com o famoso raio que se tornou marca registrada do produto. O símbolo era um recado direto sobre os supostos benefícios do produto e ajudou a alavancar as vendas da bebida.
Outro fato que levou o produto a outro patamar foi a celebração de um acordo entre a fabricante e a Liga Nacional de Futebol Americano, a NFL. Pelo contrato, além de fornecer a bebida para os atletas profissionais, a marca Gatorade também se tornaria patrocinadora da liga.
Porém, o sucesso da bebida logo despertou a ira da Universidade da Flórida que decidiu mover uma ação judicial contra a SVC, pleiteando o recebimento de royalties sobre o produto; considerando que tal invento foi criado dentro da estrutura da Universidade. Devido ao processo, 20 por cento dos royalties da invenção do produto se tornaram direito da instituição. Estima-se que pelo acordo, cerca de 12 milhões de dólares são enviados anualmente para a escola.
Outro problema foi uma notificação da agência nacional FDA, que exigiu a remoção do ciclamato, adoçante utilizado na bebida. Desde então, a fórmula passou a conter frutose em sua composição.
Em paralelo as brigas judiciais e algumas polêmicas sobre sua eficácia, a bebida ganhou também mais uma versão: de sabor laranja.
Com um sucesso comercial turbinado por um sabor diferente do que estava disponível no mercado, aliado a uma mística de bebida para atletas, o Gatorade se tornou um sucesso absoluto e que estava literalmente nas mãos do povo.
Além de consumidores comuns, a bebida era vista constantemente nas mãos dos principais atletas das modalidades esportivas mais famosas da época.
Até mesmo durante a celebração das vitórias a bebida estava presente. Em 1987, foi imortalizada a comemoração em que há literalmente um banho de Gatorade entre atletas, treinadores e dirigentes. O fato se tornou comum e acontece até hoje em vários esportes.
Com a junção de todo tipo de Marketing, o isotônico se tornou mania nos Estados Unidos, a ponto de incomodar fabricantes de gigantes do mercado de bebidas.
Em 1983, a SVC foi vendida para a gigante Quaker e a venda fez com que o Gatorade se tornasse um novo queridinho da empresa, que o levou não só para vários pontos de vendas nacionais, como também começou um processo de internacionalização da bebida, iniciando as vendas no Canadá no ano seguinte.
Três anos depois, a bebida já estava na Ásia, e em 1988 chegou a Europa e também para a América do Sul. No mesmo ano, a bebida desembarcou no Brasil com o slogan ‘’ A bebida número um para atletas’’.
Por aqui, a bebida teve grande sucesso desde sua chegada e atualmente o Brasil é um dos maiores consumidores do isotônico. Além de comerciais poderosos, a marca ganhou notoriedade ao se tornar fornecedora de vários times de diferentes esportes e também por várias campanhas de patrocínio a times, ligas e atletas.
Atualmente, no mercado brasileiro, a bebida detém expressivos 70 por cento de atuação em seu nicho.
Ao longo dos anos, o Gatorade ganhou novas versões, sabores e tamanhos, e durante muito tempo reinou em um mercado que parecia ser a prova de concorrentes. Se tornando inclusive sinônimo de uma classe inteira de bebidas.
Para completar, o Marketing da empresa reinava absoluto; principalmente durante os anos 90, quando a empresa criou uma campanha com o astro Michael Jordan. Na ação, a bebida propagava a ideia de que qualquer um poderia ser como o jogador.
Além de um sucesso de marca, a campanha ‘’Be Like Mike’’ é considerada uma das ações mais bem sucedidas de todos os tempos, e que consolidou conjuntamente o nome da marca e do astro em todo o planeta.
O sucesso encorpava o já robusto portfólio da Quaker, que foi vendida para o conglomerado PepsiCo em 2001. Dessa forma, o Gatorade passou a fazer parte de uma imensa lista de bebidas capitaneada pela Pepsi Cola.
Em paralelo, desde 1992 a Coca-Cola já possuía sua resposta ao Gatorade, o Powerade. Atualmente, em todo o mundo, a bebida vende cerca de apenas 20 por cento do volume de Gatorades vendidos.
Com a aquisição da PepsiCo, a marca Gatorade ganhou ainda mais produtos e versões, atuando, por exemplo, em nichos para consumidores que não podem ingerir açúcar, e até mesmo uma versão que usa apenas ingredientes considerados totalmente naturais. Além das bebidas, a marca também criou uma linha de suplementos em pó e uma linha de barras de nutrientes.
Enquanto isso, a empresa se tornou uma grande patrocinadora do esporte e da alta performance em todo o mundo. Junto a um centro de desenvolvimento de produtos, a empresa também fomenta o esporte e pesquisas relacionadas a saúde e alta performance, contando com seu próprio instituto, com instalações ao redor do globo. Todo esse esforço visa consolidar ainda mais a relação íntima da bebida com os esportes.
Atualmente, a bebida que surgiu em uma Universidade se tornou um dos produtos mais conhecidos do mundo, com presença em 80 países e faturamento de mais de 5.5 bilhões de dólares.
E por conta de todos estes feitos, a história do Gatorade é mais uma história de sucesso que merece ser contada em nosso canal.
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