O PLANO QUE TRANSFORMOU AS LOJAS AMERICANAS EM UM COLOSSO NACIONAL

O Plano que Mudou as Lojas Americanas para sempre.

A consolidação do negócio tornou os fundadores imensamente ricos e fez com que muitos acionistas tivessem bons retornos com o negócio ao longo dos anos. Porém, no começo da década de 80, o negócio já não era mais o mesmo.

Os principais detentores de ações já estavam acomodados no comando do negócio, e havia uma percepção de que o negócio em si estava deixado de lado.

Enquanto isso, o então banqueiro Jorge Paulo Lemann comandava o Banco Garantia. Na ocasião, o banco queria dar início a uma série de operações de compra de empresas.

A ideia era adquirir um negócio que tivesse com uma gestão fragilizada, mas que seus fundamentos fossem íntegros; e que bastassem pequenas correções para que o negócio se tornasse imensamente lucrativo.

Pouco tempo antes, o banco tinha adquirido parte da Alpargatas, mas não teve sucesso com a empresa de calçados, pois não conseguiu influenciar na gestão da empresa. Mas, ainda assim, o banco queria um negócio dentro do varejo, para poder implementar sua filosofia e lucrar muito com a operação.

Foi nessa busca que os executivos do Garantia encontraram as Lojas Americanas, e vislumbraram a possibilidade de transformar a empresa em um negócio gigantesco.

Para colocar em prática o plano, o Banco começou a comprar uma grande participação acionária da empresa. E assim, o então executivo do Banco, Carlos Alberto Sicupira, foi designado para ser o representante da empreitada.

BETO SICUPIRA

Sicupira, ou simplesmente, Beto, havia sido vendedor de carros usados e calças jeans durante a adolescência, e havia entrado no mercado financeiro anos antes, quando se formou em Administração. Antes de ser parte do Garantia, ele teve uma corretora de valores.

No início, Beto Sicupira passou a frequentar as reuniões do Conselho de Administração da empresa, e ao mesmo tempo foi se inteirando dos processos da empresa. Ao mesmo tempo, ele estudou bastante os concorrentes e também empresas de fora do país que tinham atuação semelhante.

Enquanto ele se preparava para um dia assumir as Lojas Americanas, o Garantia aumentava sua parcela de ações da companhia. E quando a operação de compra de ações deu direito de comando para o Banco, Beto foi designado para ser o principal executivo da Varejista.

Além do desafio, o executivo receberia da varejista um salário de apenas 10% da remuneração que tinha no Banco. Porém, caso conseguisse colocar em prática o plano de transformação traçado pelo Banco, Beto receberia uma gorda bonificação, além de participação acionária no negócio. Junto com ele, foram designados também um auditor e um executivo do Garantia.

A OPERAÇÃO

Ao assumir o comando, ele descobriu uma série de incoerências na gestão da varejista. Enquanto os lucros eram contidos, a empresa aumentava frequentemente seus custos e gastos. Na época, até mesmo havia planos para a construção de uma nova sede para a empresa, que teria até mesmo uma quadra de tênis para os executivos.

Após saber do plano, Sicupira suspendeu a construção da nova sede e deu início a uma nova política de gestão na empresa.

Primeiro, ele realizou uma longa avaliação do corpo de funcionários da empresa. A ideia era conhecer o time, identificar carências, encontrar os melhores e demitir aqueles que não acrescentavam muito para a empresa.

Nesse processo, 40 por cento dos funcionários foram demitidos, num total de 6500 pessoas.

Além disso, houve uma mudança drástica na remuneração dos executivos, com a implementação de um sistema de remuneração variável, de acordo com o desempenho de cada funcionário, baseado também em um sistema de metas.

Até então, os executivos recebiam o salário de forma fixa, e eventualmente recebiam bonificações até mesmo quando a empresa apresentava resultado anual inferior ao ano anterior.

A mudança foi encarada com ceticismo e revolta por parte dos principais executivos da varejista. Na ocasião, foi realizada uma reunião envolvendo 35 executivos e Sicupira, em que foi demonstrada a insatisfação geral a respeito da mudança. Ao final, apenas 3 executivos concordaram com os termos, e os 32 restantes foram totalmente contrários. Posteriormente, os 32 foram demitidos.

MERITOCRACIA

A situação gerou uma série de ações trabalhistas contra a empresa, mas dali em diante estava implementada uma nova cultura na empresa, baseada na Meritocracia, em que a remuneração estava exclusivamente de acordo com a produção de cada funcionário dentro da empresa.

Conheça 18 Princípios do Banco Garantia, que Jorge Paulo Lemann aplica em todas as suas empresas.

Nessa filosofia, promoções e bonificações também estão unicamente de acordo com a produção de cada um, pouco importando o sexo, o humor ou a relação de parentesco ou amizade do funcionário com os demais membros do grupo.

Essa filosofia é parte dos pilares de gestão de Jorge Paulo Lemann, e faz parte da Cultura do Garantia, que é a cultura implementada em todas as empresas do magnata até hoje.

Inclusive já fizemos um vídeo sobre esses pilares:

Curiosamente, devido a nova forma de remuneração, os executivos poderiam ganhar muito mais do que recebiam, caso conseguissem bater as metas da companhia.

Além da rigidez dessa filosofia meritocrática, o próprio Lemann diz que Beto Sicupira era um líder ainda mais rígido e obstinado. Para ele, Beto é como um militar, que gosta de botar ordem em qualquer coisa.

Enquanto Beto colocava ordem na casa, o Garantia consolidou uma fatia de 70% das ações das Lojas Americanas, gastando um total de 24 milhões de dólares na época.

Curiosamente, seis meses depois da implementação da Cultura do Garantia na empresa, um grupo de investidores fez uma proposta de compra de 20% das ações da empresa por um total de 20 milhões de dólares, o que fazia com que o negócio já estivesse avaliado em 100 milhões de dólares.

Enquanto estudava e implementava mudanças no negócio, Beto Sicupira enviou cartas para os 10 maiores varejistas do mundo. Nelas ele se apresentava e pedia para conhecer a operação de cada uma das empresas. A ideia era que as melhores práticas desses varejistas fossem implementadas nas Lojas Americanas, naquilo que é conhecido como Benchmarking.

Prática comum e que já explicamos em nosso canal:.

SAM WALTON

Destas cartas, a maioria não obteve nem resposta. Porém, uma delas gerou um telefonema que foi decisivo para a operação; uma ligação de Sam Walton, cofundador do WalMart.

Walton é considerado um dos maiores varejistas de todos os tempos, e na época ele estava construindo seu império nos Estados Unidos, com um total de 32 lojas.

Confira uma lição fundamental de Sam Walton

Em nosso canal, já contamos a história do magnata, e por que ele seria hoje um dos homens mais ricos do mundo, ou talvez, até mesmo o mais rico de todos. E o link estará na descrição deste vídeo.

A partir da ligação, Sam Walton convidou Beto e Jorge Paulo para conhecer as operações do Wal-Mart. Por lá, o próprio Walton recebeu a dupla, e os levou para conhecer todo o negócio. 

O supermercado se tornou um grande sucesso por oferecer produtos a preço baixo e uma enorme variedade de produtos. Para isso, todos os custos eram extremamente monitorados por Sam Walton, que valorizava cada centavo. Esse controle era realizado por meio de uma política recorrente de corte de custos e otimização de processos, tudo para aumentar os lucros e também deixar os produtos mais baratos do que a concorrência.

Além disso, o próprio Sam visitava diariamente suas lojas espalhadas pelos Interiores dos estados dos Estados Unidos. Ele até mesmo dispunha de seu próprio mini avião, em que ele mesmo pilotava e monitorava várias lojas em um mesmo dia.

Com esses pilares, o Walmart se tornou referencia mundial em Supermercados.

Da visita, surgiu uma grande amizade. E o magnata americano se tornou a principal referência de Beto no comando das Lojas Americanas. Tanto que na década, Beto e Jorge Paulo trabalharam para trazer o Wal Mart para o Brasil, através de uma parceria com as lojas americanas.

A parceria durou três anos, e a dupla deixou a operação no Brasil por divergências com os operadores locais, após o falecimento de Walton.

Dessa inspiração veio o hábito de participar do dia a dia de várias lojas da empresa. Cada processo foi pessoalmente acompanhado por Beto; desde o pagamento no caixa, até mesmo a descarga de itens que chegavam às lojas. Nesse esquema, não foram raras as vezes que ele mesmo descarregava caixas, junto aos demais funcionários. Literalmente sentindo na pele as dificuldades e as necessidades de cada setor. Ou como o grupo gosta de dizer, gastando a sola do sapato.

Além de remodelar e modernizar a gestão da empresa através de um choque de gestão, Sicupira também enxergou outro ponto interessante no negócio.

Até 1989 a varejista contava com 50 pontos de vendas, e todos os imóveis eram da própria empresa. A título de curiosidade, o valor dos imóveis era de 100 milhões de dólares na época da aquisição da empresa pelo Garantia, valor cerca de 3 vezes maior do que o da empresa, no momento da negociação.

O fato de as lojas estarem em imóveis próprios era interessante pois não era necessário pagar ou negociar aluguéis. Mas, em contrapartida, os imóveis eram possíveis ativos que estavam subutilizados, pois não encorpavam a valorização da empresa.

Nesse ponto controverso, Beto decidiu criar a São Carlos Empreendimentos Imobiliários, uma empresa que nasceu para gerir os imóveis das Americanas. A empresa que começou com os pontos de venda em seu portfólio, ganhou vida própria e além de receber aluguel das lojas, também passou a adquirir outros imóveis, que também são usados para locação. Estimasse que atualmente a empresa possua mais de 3,5 bilhões de reais em imóveis.

Com todas essas mudanças, as Lojas Americanas reencontraram o caminho do crescimento e aumentaram consideravelmente suas margens de lucro, possibilitando também a criação de novos pontos de venda.

Após colocar as Lojas Americanas nos trilhos e impulsionar a empresa a uma lucratividade até então nunca antes vista, Beto Sicupira deixou a operação do negócio em 1993 para dar início a um projeto ainda mais ousado que deu origem ao primeiro fundo de private equity do brasil, o GP Investimentos.

Desde então, Beto é sócio de Jorge Paulo Lemann, e atualmente forma ao lado de Marcel Telles, o Grupo 3G Capital, que possuí empresas como Ambev, Burger King, Kraft Heinz, entre outras. Os três figuram recorrentemente entre os homens mais ricos do Brasil e são os protagonistas do livro Sonho Grande, da escritora Cristiane Correa.

Eles também são os principais acionistas da Budweiser

Conheça aqui a História da Budweiser

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