Um dos maiores orgulhos do Espírito Santo, a Chocolates Garoto é uma marca que faz parte da vida de milhões de brasileiros e se tornou uma empresa de enorme sucesso com produtos vendidos em vários países.
Tudo começou em 16 de Agosto de 1929 quando o imigrante alemão Heinrich Mayerfreund decidiu abrir uma fábrica de balas em um galpão no bairro de Prainha, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo. Surgia assim a H.Meyerfreund e Cia, uma fábrica de balas que se notabilizou na cidade por vender seus produtos por meio de garotos que buscavam a primeira oportunidade de trabalho. Foi assim que as balas ficaram conhecidas como Bala dos Garotos.
As balas que no começo eram feitas usando frutas e açúcar, depois evoluíram para outros sabores, recebendo também uma linha de caramelos e pastilhas.
Mais tarde, a empresa decidiu adotar o nome Garoto, em homenagem aos garotos que vendiam seus produtos, e também pela fama de ser a bala do garoto.
Em 1934, quando Meyerfreund recebeu a herança de seus pais ele investiu na modernização de sua pequena fábrica e também passou a apostar na fabricação de chocolates. No mesmo ano, foi lançada a famosa pastilha de hortelã, que existe até hoje. A pastilha foi um sucesso e ganhou consumidores de várias regiões.
Com o sucesso das pastilhas e com o chocolate em seu portfólio, o empresário decidiu aumentar ainda mais suas apostas na empresa, e assim a empresa se mudou para uma nova instalação no bairro da Glória, também em Vila Velha; que é a sede da empresa até hoje.
A nova fábrica possibilitou não só um aumento na produção, mas também um aumento do leque de produtos, e principalmente de chocolates. Assim foram criadas linhas e formatos diferentes; alguns voltados para as crianças e outros para os adultos. Nesse rol, estavam chocolates de vários tamanhos, sabores e recheios.
Em 1938, a empresa ganhou um novo sócio, o também alemão Günter Zenning, que consigo trouxe um relevante aporte de capital para o negócio. Além do dinheiro, Zenning também trouxe uma nova visão comercial e produtiva; com o intuito de tornar o negócio ainda maior e mais moderno.
Porém, a prosperidade da empresa foi interrompida pelo começo da Segunda Guerra Mundial. Por conta de sua nacionalidade, Heinrich foi detido e sua fábrica sofreu uma intervenção federal, sendo gerida por autoridades do Governo.
Apesar do momento delicado, a empresa conseguiu passar pelo período sem grandes dificuldades, e após o momento conturbado, o fundador foi liberado e retornou para o comando do negócio.
Com seu fundador de volta, a empresa lançou sua primeira barra de chocolate recheada, que recebeu o nome de Guarapari, em homenagem a cidade capixaba. Já no final da década de 40, foi a vez do lançamento do Leite – Mel, que cerca de 30 anos depois seria rebatizado como Batom, um símbolo da marca até hoje. E pouco tempo depois foi lançado o bombom Serenata de Amor.
Os novos produtos representaram um grande salto para a empresa, consolidando uma das épocas de maior progresso da companhia.
Na década seguinte, os bombons da marca foram reunidos e lançados em uma caixa de bombons na cor amarela, nos moldes do modelo que existe atualmente.
Com uma linha vasta, a empresa prosperou bastante no cenário nacional, mas sofreu um duro golpe quando Zenning faleceu em um acidente aéreo. Por conta disso, Meyerfreund decidiu tornar a empresa uma sociedade anônima de capital fechado, mudando o nome da empresa oficialmente para Garoto S.A.
Pouco tempo depois, o fundador passou o bastão para seus filhos Helmut e Ferdinand, que passaram a dividir o comando do negócio.
Na década de 70 a empresa expandiu seu leque de produtos e passou a também exportar seus itens, entre eles a manteiga e a torta de cacau que foram enviados para países da América Latina e para os EUA.
No final da década, a empresa já contava com mais de 70 produtos diferentes em sua linha, e se consolidou como uma das maiores fabricantes de chocolate do Brasil.
Já no final da década de 80, a marca já havia se alastrado por vários cantos do país e para isso ganhou centros de distribuição em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Além disso, entrou em operação uma nova fábrica apenas para a produção de pastilhas.
Porém, ao mesmo tempo em que a empresa cresceu bastante, ela também passou a enfrentar diferentes desafios do mercado.
Primeiro, na década de 90, o mercado brasileiro recebeu uma série de diferentes marcas de chocolate advindas do exterior, que atuavam em diferentes faixas de preço e qualidade de chocolate. Outro problema, foi relativo à gestão da empresa, que sofreu com decisões equivocadas e que não acompanharam a modernização e os desejos do mercado consumidor. Para completar, houve uma série de disputas entre os herdeiros da companhia, que resultou no afastamento de Helmut Meyerfreund.
Além dos representantes da família do fundador, os herdeiros de Zenning também reivindicavam direitos; e um dos herdeiros, Klaus Günter Zenning, ocupou a presidência na época por cerca de 60 dias.
Porém, ao final, decidiu-se que o comando seria entregue para Paulo Meyerfreund, neto do fundador da empresa.
Ainda assim, as crises internas impactaram a operação e fizeram com que a empresa despertasse o desejo de uma possível aquisição por parte dos principais concorrentes. E nesse cenário de incerteza, a Garoto acabou sendo vendida para a gigante Nestlé em 2002, por cerca de 250 milhões de reais.
Estima-se que no momento de sua venda, a Garoto possuía 24 por cento de participação no mercado nacional.
Porém, a aquisição enfrentou resistências das autoridades brasileiras, principalmente por conta do CADE, o Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência. Segundo a entidade, o negócio representaria um entrave a livre concorrência entre as marcas de chocolate no mercado brasileiro, já que a Nestlé teria controle de mais da metade do mercado nacional, após a aquisição da Garoto. Na época da operação a Nestlé que já tinha 34% do mercado, ficaria com 58%, ante 33% da Lacta.
Por conta disso, em 2004, a entidade decidiu suspender a negociação. E desde então, o CADE e a Nestlé travam uma briga judicial que já teve vários capítulos. Porém, ao que tudo indica, a Nestlé terá que se desfazer de algumas das marcas mais populares de seu portfólio de chocolates para que a aquisição seja enfim oficializada. E essa operação pode envolver também algumas das bandeiras da Garoto.
Enquanto isso, a discussão persiste na Justiça. E os ativos da Garoto estão separados da Nestlé, impedindo a sinergia entre as duas empresas.
De todo modo, o mercado de chocolates continua dominado pelas três grandes marcas.
Sob o comando da Nestlé, a Garoto lançou novos produtos, aproveitando também o embalo de seus clássicos como o Batom e o Serenata de Amor, que ganharam novas versões, tamanhos e sabores.
Além das balas e dos chocolates, foi lançada uma linha de biscoitos recheados em 2011, que vem tendo boa aceitação do mercado. A empresa também tem uma linha de sorvetes. Ao todo, após a aquisição da Nestlé foram lançados mais de 100 novos produtos, entre itens fixos e sazonais.
Sob o comando da multinacional a Garoto vem tendo grande crescimento ao longo dos anos.
Em tempos de Páscoa, a empresa fabrica mais de 20 milhões de ovos de chocolate.
No campo estrutural, a Garoto possui atualmente a maior fábrica de chocolates de todo o hemisfério sul. Com 68 mil metros quadrados de área construída, em um terreno com mais de 200 mil metros quadrados.
Estima-se que a fábrica consiga produzir mais de 140 mil toneladas de chocolate por ano. Além de seu tamanho e imponência, a fábrica é um grande ponto turístico da cidade de Vila Velha, e recebe visitas diariamente; contando também com um centro de memória. O local recebe uma média de 2800 visitantes por mês, em tempos normais.
Atualmente a marca está presente em cerca de 60 países e conta com 3500 colaboradores direitos, e um faturamento estimado de 2.5 bilhões de reais. Em seu portfólio, a empresa conta com mais de 130 itens diferentes.
Por conta de todo esse sucesso, a trajetória da Garoto é motivo de admiração e curiosidade de pessoas de todo o Brasil, e é mais uma história de sucesso que merece ser contada em nosso canal.
Facebook Comments