Até onde vai a habilidade humana de enganar as pessoas?
Esse é um questionamento importante e que vale para um dos casos mais emblemáticos de pirâmides financeiras do Brasil
A Boi Gordo, que não só criou um esquema financeiro, como também envolveu a pecuária brasileira em suas operações.
Nesse post você vai conhecer a história da Boi Gordo e como se desenrolou esse esquema bilionário.
Empreender é um jogo de credibilidade, longo prazo e habilidade.
E se você pudesse aprender com as palavras de um dos maiores empreendedores da História?
No nosso curso As Cartas de Rockefeller, você vai ter acesso às cartas escritas por John D. Rockefeller, tido como o homem mais rico da história contemporânea, para seu filho John D. Rockefeller Jr.
Além das cartas, você também terá um conjunto de comentários que vão completar o seu aprendizado.
E tudo isso em áudio, para você escutar no transporte público, em casa, ou onde você preferir.
Não perca a chance de conhecer a mentalidade de um dos titãs do empreendedorismo. Em suas próprias palavras.
No final da década de 90, o Brasil foi palco de um dos maiores esquemas financeiros do planeta – o caso das Fazendas Reunidas Boi Gordo, ou simplesmente da Boi Gordo.
Fundada em 1988, a empresa ganhou muito destaque a partir de 1996, quando ganhou a mídia brasileira com a promessa de investimentos coletivos que geravam retornos muito acima das taxas de mercado.
A título de exemplo, na época a SELIC fechou o ano de 1996 com taxa anual de 23,94%, enquanto a Boi Gordo prometia um retorno mínimo de 42% após 18 meses.
Em teoria, o dinheiro aplicado por investidores de todas as classes sociais era empregado na empresa através da emissão de Contratos de Investimento Coletivos, conhecidos como CICs.
O dinheiro recolhido seria aplicado em boi magros das fazendas da Boi Gordo, com a promessa de engordá-los para que eles fossem posteriormente vendidos ao mercado. Os bois seriam criados em fazendas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
Na teoria, a empresa prometia que investidores pudessem participar da pecuária brasileira sem que precisassem sujar os pés de terra.
Para turbinar ainda mais os investimentos, a Boi Gordo optou por uma estratégia bastante agressiva, usando o maior holofote que era possível na época – o intervalo da novela das 8 da Rede Globo.
Para tanto, a empresa se aproveitou do enorme sucesso da novela ‘’O Rei do Gado’’ – um fenômeno de audiência que tinha o ator Antônio Fagundes como protagonista.
O ator era também o garoto propaganda do anúncio da Boi Gordo que era veiculado nos intervalos da novela – o que reforçava a suposta confiabilidade do negócio, e trazia uma promessa ainda mais sólida para os contratos da pecuarista.
Segundo a empresa, além de garoto propaganda, Fagundes era também um investidor do negócio – assim como o autor da novela, Benedito Ruy Barbosa.
Turbinada pela mídia, a Boi Gordo atingiu seu ápice nos anos 2000 quando conseguiu a autorização da Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, para abrir o seu capital na bolsa de valores.
Na ocasião, a pecuarista dizia que contava com 100 mil cabeças de gado, que eram cuidados com os recursos acumulados ao longo dos anos. E além de investimentos comuns, era possível investir em ações da empresa que circulavam no mercado financeiro.
Porém, um ano depois a verdade viria à tona.
Enquanto se dizia um negócio saudável, a Boi Gordo começou a enfrentar o problema clássico que denuncia um esquema Ponzi- as conhecidas pirâmides financeiras.
Como toda pirâmide, o esquema tem como base o fato de que além de ganhos muito acima do mercado, os investidores antigos sejam remunerados não com o sucesso da empreitada, mas com o capital que é alocado a partir da entrada de novos investidores.
Ou seja, para manter a roda girando é necessário que cada vez mais pessoas entrem no negócio, para que os demais continuem a serem remunerados, de acordo com os rendimentos prometidos.
O problema é que em algum momento o esquema vai ruir – seja pela própria evidência de sua natureza fraudulenta – ou pelo mais comum, que acontece quando o esquema não consegue mais honrar os compromissos assumidos.
E a segunda hipótese foi o que escancarou a operação da Boi Gordo. Primeiro, com a interrupção do pagamento de seus compromissos – depois com um acúmulo de ações judiciais e reclamações.
Mesmo diante dos fatos e problemas, a Boi Gordo ainda conseguiu se manter ativa até 2003, quando recorreu ao mecanismo de concordata – em que assumia o compromisso de renegociar suas dívidas.
Porém, a situação mostrou a realidade cruel do negócio, e que fez com que no ano seguinte fosse decretada a falência da empresa.
Isso, porque, na ocasião a empresa tinha uma dívida de 4,2 bilhões de reais, em valores da época.
Um valor absurdo que foi acumulado a partir da entrada de cerca de 32 mil pessoas, que acreditaram nas promessas da Boi Gordo. A maioria delas de classe média.
E até mesmo investidores estrangeiros também caíram no golpe.
Estima-se que cerca de 70% dos investidores alocaram quantias abaixo de 40 mil reais. E que muitas vezes representavam as economias de uma vida inteira – que em tese, seriam multiplicados.
Exposto por investigação policial, o esquema não só ruiu financeiramente, mas também foi descoberto que na verdade a empresa operava com uma série de irregularidades.
Primeiro, porque a operação era bem diferente do que era propagado – e a receita do negócio era obtida não somente com a dita engorda dos bois e sua posterior venda – mas também com a venda de fazendas e sêmen bovino – que serviam também como maneiras de maquiar o esquema, ocultando as irregularidades financeiras.
Além disso, o número apurado de cabeças de gado era muito menor do que o propagado pela empresa. Assim como seus números financeiros reais eram bem diferentes dos apresentados publicamente.
Na ocasião, a Boi Gordo tinha 17 fazendas, que foram posteriormente leiloadas para ressarcir algumas de suas vítimas. Os imóveis totalizaram algo em torno de 540 milhões de reais entre os anos de 2017 e 2018.
Ainda assim, mesmo diante das evidências, Paulo Roberto de Andrade, que foi apontado como o grande mentor do esquema, não enfrentou punições criminais significativas.
Em 2009, o STJ anulou a ação penal contra ele, por prescrição. E na esfera administrativa, a CVM aplicou multa de 20 milhões de reais ao empresário – e a proibição de que ele atuasse como administrador de empresas de capital aberto por 20 anos.
Em 2003, o empresário tinha vendido a Boi Gordo para grupos do agronegócio, que também se tornaram suspeitos no caso – e que supostamente operavam por meio de uma pessoa que sequer existia.
Assim como outros casos, como a Avestruz Master, por exemplo, a Boi Gordo evidenciou uma prática alarmante e que traz valiosas lições para os investidores brasileiros.
De modo geral, toda vez que um negócio prometer retornos garantidos ou remunerações muito acima das taxas de mercado, provavelmente se trata de um negócio obscuro, de alto risco ou até mesmo uma pirâmide financeira.
Portanto, além de verificar a procedência de um negócio financeiro, é importante também estar ciente dos possíveis riscos envolvidos. Ou seja, quanto maior a promessa, maior o risco.
Ou no popular, o santo desconfia quando a esmola é muita.
Logo, na dúvida, procure investimentos tradicionais e que estejam comprovadamente dentro da lei.
Assim, a Boi Gordo marcou negativamente o agronegócio e mostrou que a criatividade muitas vezes é também usada para o mal.
E você, se lembra de outra grande pirâmide financeira?
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