A Bombril pediu Recuperação Judicial e acumula uma dívida de 2,3 bilhões de reais. Mas, afinal de contas, o que aconteceu para a empresa entrar em crise? Entenda a queda da Bombril.
1001 Utilidades.
Essa é a grande ideia que está em torno da Bombril – uma empresa que faz parte da vida dos brasileiros.
Com comerciais lendários, criados pelo saudoso Washington Olivetto, e imortalizados pelo ator Carlos Moreno, a Bombril se tornou uma marca de enorme prestígio e reconhecimento – a ponto de seu nome substituir até mesmo o nome do produto a que se refere – a palha de aço.
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Esponja de aço. Palha de Aço. Ou lã de aço. São alguns dos sinônimos que descrevem o produto que tem múltiplos usos – que vão desde limpeza até instrumento para ajudar a sintonizar um canal de televisão.
Criada em 1948, a empresa foi muito além da palha de aço, e lançou também outros de limpeza como a linha Limpol, MonBijou, Pinho Bril e muitas outras.
Porém, mesmo sendo um sucesso absoluto no Brasil por várias gerações, a empresa não conseguiu transformar o reconhecimento em resultado financeiro – e na última semana a empresa pediu Recuperação Judicial, e escancarou uma crise com uma dívida de 2,3 bilhões de reais…que pode até mesmo fazer com que o negócio vá a falência…
Nesse post, você vai entender a crise da Bombril e porque a empresa está em risco.
COMO A BOMBRIL ENTROU EM CRISE?
Bombril.
A empresa que conquistou o Brasil, ficou marcada pelos comerciais e pelos produtos presentes nos lares brasileiros.
Apesar disso, a repercussão não foi sinônimo de boa gestão – e há décadas, a empresa vem enfrentando dificuldades financeiras.
Primeiro, por uma tentativa fracassada de conquistar novos mercados que ela não dominava, como por exemplo o lançamento de uma linha de cosméticos – a Ecologie, que apostava no setor de higiene pessoal com shampoos, condicionadores e outros produtos capilares.
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O projeto ambicioso foi um fracasso retumbante, e a Bombril além de desistir da empreitada, passou a acumular um endividamento multimilionário.
Entre os anos de 2003 e 2006, o impacto das dívidas foi tão intenso, que a empresa passou por um processo de recuperação judicial – e precisou realizar uma profunda reformulação para continuar no mercado.
Mas não bastassem os problemas internos, a empresa também precisou se preocupar com a concorrência, principalmente com o sucesso da sua maior rival, a Assolan – que ganhou uma fatia significativa de mercado, depois de investir fortemente em publicidade. E da Minuano, que cresceu bem no mercado de produtos de limpeza.
Foi em meio a um cenário em que precisava equilibrar as próprias contas e ainda enfrentar a concorrência cada vez mais robusta que a Bombril viu seu poder diminuir cada vez mais na década seguinte.
BOMBRIL SOME DAS PRATELEIRAS
Para se ter ideia, mesmo com boa aceitação do mercado, a gigante não conseguia atender a demanda dos consumidores – e em 2013, o seu produto mais famoso chegou a sumir das prateleiras, pois a empresa não tinha caixa para produção e transporte dos itens.
E mesmo depois de normalizar a sua logística, a empresa ainda se manteve em maus lençóis.
O que foi intensificado com a crise de 2015, em que a economia brasileira entrou em recessão – e os consumidores tiveram que reavaliar alguns de seus hábitos – como, por exemplo, substituir a qualidade pelo preço – o que levou os clientes a optarem por concorrentes mais baratos e até piores – ou até mesmo, procurarem alternativas para gastarem menos – ou nem gastarem.
Com o impacto, a dívida da empresa chegou aos 900 milhões de reais. O que levou a uma nova reestruturação, que envolveu a eliminação de alguns produtos de seu portfólio e uma decisão bastante questionável – o corte do orçamento de publicidade – o que incluiu o fim dos comerciais com o ator Carlos Moreno.
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Apesar de controversas, as decisões levaram a empresa a sair de um prejuízo de 400 milhões de reais em 2015, para ter lucro de 40 milhões em 2016. O primeiro resultado positivo em seis anos.
AS DÍVIDAS DA BOMBRIL – O ENDIVIDAMENTO BOLA DE NEVE
E no ano de 2017, um grande acordo com credores fez com que o endividamento baixasse para 400 milhões de reais, mas um total de compromissos com significativos juros de 24% ao ano.
Na época, o mercado financeiro reagiu bem ao movimento, e as ações chegaram ao valor de 5 reais e 89 centavos. Uma valorização robusta, já que apenas dois anos antes, a valorização chegou a 1 real e sessenta centavos.
Apesar disso, o valor é muito menor do que foi em 2007, quando as ações da Bombril valiam mais de 17 reais.
Só que mesmo com a melhora econômica nos anos seguintes, a Bombil continuou enfrentando dificuldades – ainda que vendesse como nunca.
Isso, porque, no ano de 2022, a empresa registrou faturamento recorde de 2 bilhões de reais. E mesmo com os esforços da concorrência, estima-se que a participação de mercado da Bombril seja entre 70 e 80% do mercado de palha de aço.
Ainda assim, os outros produtos de limpeza enfrentam dificuldades perante seus concorrentes, e foram perdendo participação de mercado ao longo do tempo.
Só que ainda assim, no ano de 2023, a empresa recorreu a um empréstimo de 300 milhões de reais, para tentar um fôlego extra e manter a estrutura de pé.
O grande problema é que mesmo vendendo bem, a empresa ainda tinha dificuldades para custear sua estrutura, já que a dívida se tornou um enorme peso nas costas do negócio.
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Conforme estudo do analista Sidney Lima da Ouro Preto Investimentos, apenas com juros das dívidas, a empresa consumia quase que um quarto de seu caixa para honrar o encargo. Percentual que excede e muito até mesmo o lucro bruto das empresas do setor de produtos de limpeza, que não chegam a 24% de margem.
Além disso, ela ainda está limitada a apenas canais de vendas tradicionais – que mesmo com bons números totais, não significam um bom lucro para a empresa.
Em conjunto, a Bombril não conseguiu introduzir inovações relevantes no mercado de produtos de limpeza, e se manteve dependente apenas daquilo que ela já tinha construído ao longo dos anos.
E outros problemas foram acumulados ao longo do tempo, que não tem relação com a atividade da empresa em si.
Isso, porque, ao longo dos anos, a Bombril também apostou em operações financeiras arriscadas, como a compra de títulos públicos, dentre eles, títulos da dívida americana e até argentina. Tudo isso com o caixa da empresa.
E além dos desafios da sua própria atividade, a gigante criou para si um problema enorme em um setor que não era a sua praia – e que resultou em um rombo no caixa e no patrimônio da empresa.
O que mostrou que mesmo vendendo bem, um conjunto de más decisões pode acabar com um negócio….
BOMBRIL PEDE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
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Sem alternativa comercial, a Bombril decidiu recorrer novamente a recuperação judicial, para que com a ajuda da Justiça, ela consiga escapar da falência.
No processo, a Justiça vai determinar um caminho para ajudar a empresa a regularizar suas dívidas, de acordo com os termos da lei própria. E caso, a Bombril não consiga atender os passos do processo, a sua falência poderá ser decretada em juízo.
A Justiça já aceitou o pedido e concedeu prazo de 60 dias para a empresa apresentar um plano de recuperação – que precisará apontar se de fato ainda há uma esperança, ou se a única opção é a falência.
Agora, o tempo dirá se a gigante vai conseguir escapar mais uma vez, ou se de fato o problema que a Bombril criou ficou tão grande que vai destruir tudo aquilo que ela construiu….
E você, acha que a Bombril vai se recuperar?
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