Você já se perguntou como bilionários como Jorge Paulo Lemann, o antigo homem mais rico do mundo Bernard Arnault, e até Elon Musk compram empresas bilionárias?
Obviamente com dinheiro. Mas não exatamente com dinheiro deles.
Esse é o conceito de OPM – Other People’s Money. Ou dinheiro de outras pessoas. Mas, existe uma operação ainda mais interessante que esses e outros bilionários usam para aumentarem cada vez mais seus impérios.
Nesse post, você vai entender a sofisticada estratégia dos bilionários para comprarem empresas.
Alguns bilionários se destacam pela habilidade de comprarem grandes empresas e formarem grandes grupos de negócios, como é o caso do antigo homem mais rico do mundo Bernard Arnault – que dominou o mercado de luxo mundial com a holding LVMH, que possui marcas como Louis Vuitton e Dior; e o brasileiro Jorge Paulo Lemann, que criou a maior cervejaria do mundo, a AB Inbev – a partir da junção de gigantes como InBev e Anheuser Busch, dentre outros negócios.
Dessa forma, esses bilionários realizam a chamada consolidação de mercado, quando criam gigantes que concentram boa parte do setor em que atuam.
Só que ao contrário do que muitos pensam, a compra de empresas não acontece simplesmente a partir de um investimento direto desses grupos.
Na verdade, os grupos precisam apenas de uma parte do total para abocanharem outros negócios.
Essa estratégia é conhecida como Leverage Buyout ou simplesmente LBO. E ela é simples, porém bastante arriscada…
LEVERAGE BUYOUT
O Leverage Buyout, ou em tradução livre Aquisição por Alavancagem é uma estratégia financeira usada por empresários e investidores para comprar empresas, mesmo quando eles têm pouco dinheiro próprio, ou apenas uma fração do total da aquisição.
Através desse tipo de operação, os compradores recorrem a diferentes bancos e outros investidores para celebrarem as aquisições, na mesma medida em que acumulam dívidas com esses participantes.
Porém, mesmo assumindo o risco de dívidas bilionárias, os compradores enxergam que a dívida gerada pode ser um problema pequeno perto dos benefícios que podem ser obtidos no curto e no longo prazo.
Na prática, a ideia parte do princípio de que mesmo assumindo uma dívida considerável, são os próprios negócios adquiridos é que vão pagar essas dívidas – mesmo que o pagamento demore anos para acontecer.
Para trazer um exemplo simples, é como se os bilionários estivessem comprando uma casa. E para comparem essa casa, eles investem uma pequena entrada, e o restante é pago através de dívida, como por exemplo por meio de um financiamento.
A ideia é que os rendimentos gerados pela própria casa, como um aluguel, paguem as parcelas e juros da dívida assumida.
E com o passar do tempo, a casa pode ter também uma valorização que compense o risco assumido.
Essa estratégia é descrita como um conceito milenar usado por árabes e judeus, que criam um vasto patrimônio imobiliário dessa forma.
Já no caso dos compradores bilionários a estratégia é ainda mais sofisticada.
Isso, porque, eles entendem o poder da chamada Sinergia.
SINERGIA
Sinergia é um conceito empresarial que indica uma série de ganhos e benefícios existentes quando há a fusão ou aquisição de uma empresa por outra empresa maior ou igual.
Na linguagem popular, a junção dessas duas empresas cria um negócio que a princípio não tem o valor de uma empresa somada a outra, e sim um valor maior do que a soma das empresas individualmente.
O que é popularmente conhecido como a operação 1 +1 é mais do que 2.
Essa ideia parte do princípio de que um grupo que seja formado por duas empresas tem um valor de mercado maior do que a soma das empresas individualmente.
Isso, porque, a criação de um novo grupo por si só já demonstra mais força e robustez de mercado, a ponto de influenciar as dinâmicas de um setor, como a precificação dos produtos envolvidos no mercado.
Mais do que isso, a ideia de Sinergia indica que a soma das empresas pode gerar uma série de ganhos para a estrutura dos negócios, uma vez que é possível cortar custos, ganhar eficiência e maior capilaridade nos negócios – em que elas podem compartilhar estruturas, fornecedores e uma série de elementos que podem gerar mais receita, custos menores, e mais lucro no final da equação.
De modo geral, o processo começa quando um comprador identifica uma empresa com potencial.
Em teoria, ela precisa ter lucros estáveis, ativos valiosos (como imóveis ou marcas) e, idealmente, espaço para melhorias. Ou então, no caso de empresas compradoras, que o negócio comprado tenha capacidade de sinergia com o negócio a que vai ser integrado.
Em boa parte dos negócios, o comprador entra com algo entre 20 e 40% do capital total necessário – normalmente de seu capital próprio, ou do capital da empresa compradora.
O restante é obtido com investidores e/ou bancos. Como foi o caso de Elon Musk na compra do Twitter, em que ele recorreu a diferentes fontes.

De modo geral, os ativos da própria empresa comprada serão a garantia para as dívidas assumidas.
E o pagamento aos investidores e credores em geral é feito com os lucros gerados pelo caixa da empresa comprada, que tende a ser mais bem gerenciada pelo comprador, principalmente quando se trata de aquisição ou fusão de empresas que tenham uma melhor capacidade de gestão do que a da empresa comprada.
Outra forma do pagamento dos investidores é através da conversão da dívida em ativos mobiliários como ações da companhia em garantia – que podem render valorizações bem mais robustas do que o valor emprestado.
Vale lembrar que normalmente quando uma empresa realiza fusão ou aquisição com outra do mesmo segmento, a tendência é um grande aumento no preço das ações da empresa compradora.
Nesse caso, a valorização pode remunerar tanto os investidores como os credores, de forma parcial ou total.
E se engana quem acha que a estratégia fica restrita a apenas uma única operação.
O apetite de compradores é grande, e é comum que a empresa compradora venha a comprar também outros negócios de porte menor ou igual, criando assim um portfólio de empresas.
Essa estratégia é usada pela AB Inbev, que vai encorpando a sua linha de bebidas com a aquisição frequente de outras bandeiras menores. Como a aquisição da SAB Miller em 2016.
E quanto maior o apetite, maior o valor reunido e maior o risco.
Em números, é estimado que a AB Inbev tenha valor de mercado de mais de 129 bilhões de dólares, mas ao mesmo tempo a empresa acumula uma dívida total de mais de 72 bilhões de dólares.
Bilionários usam essa estratégia com maestria.

Bernard Arnault, o homem por trás da LVMH, adquiriu o grupo de luxo em 1987 por cerca de US$ 1,5 bilhão, usando dívida significativa. Ele reestruturou marcas como Louis Vuitton e Dior, transformando a LVMH em um império avaliado em mais de US$ 400 bilhões hoje.

No Brasil, Jorge Paulo Lemann, junto com a 3G Capital, comprou a Anheuser-Busch em 2008 por US$ 52 bilhões, financiando cerca de 70% com dívida.
Após cortes de custos e expansão, a AB InBev virou a maior cervejaria do mundo, dona de marcas como Budweiser e Brahma.
Porém, nem tudo é sucesso garantido: se a empresa não gerar lucro suficiente, a dívida pode levar à falência.
Um exemplo é a aquisição do Twitter por Elon Musk em 2022, que usou US$ 13 bilhões em empréstimos e enfrentou desafios para pagar os juros devido a quedas na receita – levando a um recente resgate pela X AI.

E o próprio Jorge Paulo Lemann também amargou uma dura derrota ao formar o conglomerado Kraft Heinz. Depois de aquirir o grupo Heinz, em parceria com o megainvestidor Warren Buffett, Lemann avançou para a fusão com a Kraft, outra gigante do mercado alimentício.
Porém, a fusão das gigantes teve um resultado bem diferente do esperado.
Primeiro, porque a ideia era juntar outras gigantes ao grupo, como a Unilever, que rejeitou uma proposta robusta de compra da Kraft Heinz. O que por si só já travou o plano ousado.
E o pior, o plano de Lemann de tornar a Kraft Heinz um negócio extremamente lucrativo foi um grande desastre – e o sonho terminou mal, com o desembarque de Buffett e gradualmente dos brasileiros do 3G.
De toda forma, quanto maior o risco, maior o ganho. Mas, muitas vezes o sonho vira pesadelo…
E você, acha que vale a pena o risco?
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