A ASCENSÃO E QUEDA DA JAC MOTORS NO BRASIL

Carros populares completos, sem opcionais. Com uma cesta de produtos muito superior aos concorrentes. Endossado por ninguém menos do que Fausto Silva.

Uma estrutura robusta com dezenas de concessionárias espalhadas pelo país. Tudo sob o comando de um dos maiores empresários do mercado automobilístico nacional.

Essa era a promessa da JAC MOTORS ao desembarcar no Brasil. Um projeto que na teoria tinha tudo para dar certo…, mas…não foi bem assim…

Nesse artigo, você vai entender como a JAC Motors em poucos anos foi de esperança a fracasso. E como ela tenta dar a volta por cima …

JAC Motors.

Ou para nós simplesmente JAC.

A montadora chinesa desembarcou no Brasil oficialmente em 2011, trazendo consigo muita mídia e muito barulho. E uma promessa irresistível para grande parte da população brasileira – um carro popular completo, sem opcionais e mais barato que os concorrentes nacionais.

Inicialmente importados da China, os dois primeiros carros da JAC chamaram bastante atenção do mercado – o J3 e sua versão sedã, o J3 Turim.

Com o dólar valendo apenas 1 real e oitenta centavos, os veículos desembarcaram no Brasil com preços extremamente atraentes – bem mais em conta do que as montadoras tradicionais.

PRIMEIRA INVASÃO CHINESA NO MERCADO BRASILEIRO

Além da JAC, outras marcas chinesas como Cherry, Effa, Lifan e outras também viram o Brasil como uma grande oportunidade. Naquilo que ficou conhecido como a primeira invasão das marcas chinesas no mercado brasileiro – quando o país em poucos meses recebeu diversos modelos chineses – e era até difícil conhecer, entender e saber qual era qual.

Porém, nenhuma delas era tão promissora como a Jac.

Endossada por ninguém menos que Faustão, a nova marca chegava com a inauguração imediata de 50 lojas em todo país. E nos bastidores, um brasileiro comandaria a operação brasileira da JAC – Sérgio Habib.

Ex-presidente da Citroen Brasil e antigo representante de marcas internacionais no país, como Aston Martin, Hummer, Jaguar e a própria Citroen, o empresário acumulava dezenas de concessionárias que formavam o Grupo SHC, que na época faturava bilhões de reais anualmente.

Com condições então favoráveis, o empresário acreditava que trazer uma montadora chinesa para o Brasil como sócio poderia dar origem a um grande sucesso – tal como havia acontecido pouco tempo antes com o grupo CAOA que estava tendo enorme sucesso com a coreana Hyundai.

Foi assim que ele se associou a chinesa JAC Motors para tentar conquistar o mercado brasileiro em um curto espaço de tempo – em uma aposta simultânea que uniria seu conhecimento no mercado e um produto novo, capaz de oferecer muitos equipamentos por um preço bem mais atrativo.

Com esse objetivo, Sérgio trouxe ao Brasil a linha J3 que seria o popular mais completo do Brasil, com um preço mais interessante que os concorrentes como Gol e Palio.

FAUSTÃO COMO GAROTO-PROPAGANDA DA JAC

Só que não bastava um produto e uma oferta promissores; era necessário também promover a novidade – foi assim que a montadora contratou o apresentador Fausto Silva, que além de garoto-propaganda, também anunciaria os carros em seu programa na Rede Globo.

A aposta inicial foi um tremendo sucesso. E após o lançamento oficial em Março de 2011, a JAC logo foi ganhando muito espaço e chamou a atenção até mesmo de revistas e analistas tradicionais – que inicialmente elogiavam os carros da JAC, ao contrário dos demais modelos chineses.

Dessa forma, o preconceito inicial aos poucos foi sendo superado e em apenas alguns meses a JAC passou a vender 3000 carros por mês no país. Ou em torno de 1% do mercado de automóveis zero quilômetro.

Não demorou muito, a JAC passou a incomodar bastante as marcas tradicionais, especialmente aquelas que fabricavam no Brasil. E logo, surgiu um conjunto de elementos que podem ser considerados um ‘’suco’’ do que é o Brasil.

AUMENTO DO IPI SOBRE VEÍCULOS IMPORTADOS

Pressionada pelas reclamações das grandes montadoras, em setembro de 2011, a presidente Dilma Rousseff aumentou o IPI sobre os automóveis importados em 30 pontos percentuais, com o objetivo de prestigiar e proteger a indústria nacional.

A decisão era uma resposta direta ao crescimento das vendas não só da JAC, mas principalmente das coreanas Kia e Hyundai que cresciam exponencialmente no país.

A título de exemplo – antes, o IPI variava e representava entre 7 e 25% do preço dos veículos importados. Com a nova regra, o IPI passou a variar entre 37 e 55% do preço dos carros, dependendo do modelo.

Ou seja, imediatamente a contabilidade das novas montadoras já era brutalmente afetada. E seria difícil continuar oferecendo preços tão atrativos.

FÁBRICA DA JAC MOTORS

O empresário Sérgio Habib afirmou que se preparava para uma resposta nesse sentido, e que o objetivo era criar uma fábrica no Brasil nos anos seguintes, assim que a JAC estivesse consolidada no país.

O sonho foi endossado depois que o Governo Brasileiro lançou o programa Inovar Auto, que em teoria promoveria a indústria nacional e pretendia atrair novos participantes para o mercado. E ali, a JAC via a oportunidade de se estabelecer no país.

A ideia da JAC era investir 600 milhões de dólares para a construção de uma fábrica na cidade de Camaçari na Bahia. E o projeto inicialmente foi abraçado pelo Governo do Estado da Bahia, que prometeu liberar um financiamento robusto para o projeto.A projeção era que a produção começasse em 2014.

Só que o sonho começava a se tornar um pesadelo….

ESCALADA DO PREÇO DO DÓLAR E CRISE DE 2015

Para completar a tempestade perfeita, aos poucos o Brasil passou a ser visto não mais como um destino interessante para o investimento estrangeiro, e nos anos seguintes o dólar então em torno de 1 real e oitenta centavos passou a aumentar e chegou em poucos meses ao patamar de 2 reais e cinquenta centavos. 

Ou seja, de um lado o valor do dólar e os impostos inviabilizavam os preços competitivos dos carros da JAC, e do outro não havia dinheiro circulando na economia brasileira para que a montadora pudesse erguer sua própria fábrica e conseguisse equilibrar os custos de seus veículos para continuar viva no mercado.

Sem saída, a JAC aos poucos teve que desmobilizar o seu plano de crescimento, e praticamente encerrou seu plano de conquistar a faixa de mercado dos chamados carros populares. O que a fez desmobilizar investimentos, fechar concessionárias e rever totalmente sua estratégia – já que no plano de negócio original a marca aguentaria um grande aumento do IPI ou até mesmo uma forte alta no dólar – mas não os dois problemas ao mesmo tempo. Sem contar a crise que viria logo depois…

Não tardou, a JAC que vendia 3000 carros por mês, passou a vender mensalmente apenas 300 carros.

E com a margem cada vez mais apertada, o preço dos veículos cada vez mais altos; começaram os problemas – que logo resultaram em corte de custos, fechamento de estruturas e uma derrocada quase tão rápida quanto sua ascensão.

Para completar, a última esperança de salvar a JAC no longo prazo ficou apenas na promessa, e diante da crise econômica nacional, o Governo da Bahia não liberou o financiamento prometido e a fábrica que inicialmente sairia em 2014, nunca saiu do papel.

Mesmo que de forma educada, Sérgio Habib já declarou publicamente que as decisões da então presidente Dilma foram equivocadas e determinantes para acabar com os objetivos da JAC no Brasil, e principalmente para o estouro da crise econômica que viria a estourar pouco tempo depois no país.

E apesar de não ter mencionado o Governo da Bahia, é possível afirmar que, no conjunto, um dos grandes vilões, ou talvez o maior algoz da JAC tenha sido o Governo Brasileiro e a burocracia que existe em nosso país…

Porém, vale ressaltar que além de problemas externos, problemas internos também foram determinantes para o fracasso da JAC.

PROBLEMAS NOS CARROS DA JAC

Com relação ao produto, foram várias queixas relacionadas aos modelos da marca chinesa.

Algumas são comuns a marcas novas – como a dificuldade de se conseguir peças de reposição, a falta de uma rede autorizada de manutenção e até o desconhecimento dos mecânicos com relação aos automóveis, que minam a experiencia do consumidor.

Outras críticas envolveram ações e decisões da própria marca, que desagradaram consumidores e prejudicaram a imagem da marca.

Como por exemplo uma das versões do modelo J5, que era vendido com motor 1.5 que não conferia o desempenho necessário para o tamanho do carro. E que por tanto, era um veículo aquém do prometido.

Fato que foi confirmado pelo próprio Habib, que alega que a opção pelo motor fraco se deu por uma dificuldade jurídica com um dos fornecedores que atuava no Brasil.

Além disso, a desconfiança do mercado brasileiro tanto em relação aos veículos chineses, como em relação à própria JAC também fizeram com que a marca se tornasse indigesta para os consumidores. Principalmente pela alta desvalorização que os veículos tinham no mercado de usados.

E mesmo pagando mais barato por um carro mais completo quando novo, na hora da venda os donos de JAC se assustavam com desvalorizações acima dos 20% ao ano na tabela da FIPE – sem contar a dificuldade de se achar compradores – que quando queriam, queriam pagar valores bem abaixo da tabela.

Problema que se tornou caótico nos últimos anos, em que os problemas se multiplicaram com cada vez menos peças e menos interessados. E até um suposto abandono da marca aos antigos clientes.

Com esse enorme desafio, a JAC aos poucos abandonou a faixa dos populares, e nos anos seguintes tentou se reinventar ao apostar em veículos diferenciados com valor agregado. E assim tentou emplacar SUVS e utilitários.

Porém, novamente não houve adesão.

A título de exemplo, a Van JAC T8, que era vista como um produto ideal para o turismo no Brasil, foi um grande Mico.

Foram trazidas 500 unidades que demoraram 2 anos para vender, depois de testar vários preços e demandar muito esforço. E claro, prejuízo.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO GRUPO SHC

Enquanto isso, o Grupo SHC, que controla as operações da JAC no Brasil, também foi imensamente afetado; especialmente pelas decisões de sua principal parceira – a Citroen.

Com uma queda de quase 80% em suas vendas no Brasil e novas diretrizes para o mercado brasileiro, a Citroen se tornou um grande prejuízo para o Grupo – que fechou todas as suas concessionárias da marca e alegou quebra de contrato por parte da marca francesa, que deveria ter indenizado o grupo por suas decisões.

Com dívidas acumuladas de várias origens, o Grupo SHC pediu recuperação judicial em 2019; e nos últimos anos realizou uma grande readequação depois de renegociar com seus créditos. Recentemente, o Grupo afirmou ter pedido para encerrar a RJ, uma vez que pode caminhar com as próprias pernas.

Em conjunto, Sérgio Habib ainda tenta emplacar a JAC Motors no Brasil.

PLANOS DE FUTURO DA JAC MOTORS NO BRASIL

Nos últimos 5 anos, a JAC tem buscado retomar o seu protagonismo, mas de uma forma bem diferente. Agora, ela atua em mercados diferenciados, especialmente no ramo de veículos híbridos e elétricos – com foco no transporte urbano comercial.

Com carros e caminhões elétricos, a JAC tem oferecido veículos para motoristas de aplicativo e empresas que precisam de alternativa mais barata para o transporte dentro das grandes cidades. E mesmo com um preço premium, os veículos prometem uma grande economia de combustível no médio prazo – que tornam os veículos da JAC escolhas racionais.

A título de exemplo, os caminhões elétricos da JAC conquistaram grandes empresas como a AMBEV, que os utilizam para transporte de mercadorias dentro das grandes cidades.

Vale ressaltar que o próprio Sérgio já afirmou que acredita que os elétricos são excelentes como uma solução para o transporte urbano, e não para o uso rodoviário. E que esse deve ser o nicho de atuação dos veículos da JAC; ao contrário de outras concorrentes chinesas que pregam o uso completo dos veículos – mesmo quando ainda a malha de carregamento dos veículos elétricos é quase inexistente no país.

De toda forma, a JAC tenta agora se consolidar como um produto diferenciado, e assiste de forma paralela a nova invasão de veículos chineses, capitaneado por marcas como BYD e GWM.

Ambas tem feito um enorme barulho, principalmente a BYD – que prometeu milhares de veículos e um investimento bilionário para o Brasil.

Porém, agora o tempo vai dizer se essas novas montadoras chinesas conseguiram cumprir o que prometem ou se elas também terão o mesmo destino que anos atrás teve a JAC….

E você?

O que acha?

Será que as novas montadoras chinesas vão conseguir conquistar o Brasil? Ou elas também serão vencidas?

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