É o fim do ESG?
Depois de se espalhar pelo mundo e determinar a forma como as empresas agem, a política começa a enfrentar uma forte debandada daqueles que a promoveram – principalmente a Black Rock – a gestora de mais de 10 trilhões de dólares, que começa a mostrar sinais de que sua ideia pode estar com os dias contados.
Isso, porque, ela vem reduzindo o seu apoio à pauta e até elegeu outros pontos como foco para o futuro…
E agora, fica a discussão sobre se o ESG realmente era uma ideia útil ou se foi apenas uma manobra de mercado…
Nesse post você vai entender o que é o ESG e porque agora a Black Rock e outras empresas estão deixando essa pauta de lado…
O QUE É O ESG?
Nos últimos anos, o mundo conheceu o conceito de ESG, a sigla que significa Enviromental, Social and Governance – ou Ambiental, Social e Governança – conhecida por nós como ESG.
O conceito parte do princípio de que as empresas devem ser norteadas por um conjunto de boas práticas que possam tornar o planeta melhor – tanto da interação entre os seres humanos, como da interação dos seres humanos para com o ambiente.
Em teoria, a ideia abarca uma série de conceitos como a necessidade de se preocupar com o meio ambiente – a partir tanto do controle das emissões de carbono, como também do uso de recursos naturais, a gestão dos resíduos e os impactos nas mudanças climáticas.
No campo social, a ideia verifica o impacto de uma empresa na sociedade – isso é: a forma como são tratados funcionários, clientes, fornecedores e a comunidade em geral. O que inclui os direitos humanos, as relações trabalhistas e conceitos como as chamadas diversidade e igualdade de gênero.
Por fim, no quesito governança, as empresas devem seguir parâmetros para garantir a transparência, a ética, o combate a corrupção; e que também norteiam a estruturação dos conselhos de administração das companhias.
COMO SURGIU O CONCEITO DE ESG?
O conceito foi introduzido ao longo dos anos na sociedade, e o grande marco para sua implementação aconteceu na ONU em 2004, quando a entidade criou a iniciativa Who Cares Win, – quem se importa, ganha – que incentivava os investidores a terem abordagens mais holísticas na hora de investirem em empresas – ou seja, que em teoria, colocassem outros fatores em pauta, além simplesmente do lucro.
Com esse histórico, a ideia foi abraçada por diversos nomes do mundo empresarial e lideranças globais, tendo algumas das maiores instituições financeiras como grandes patrocinadores do conceito.
Dessa forma, o grande nome do mercado financeiro a adotar o conceito foi a famosa Black Rock – a gestora de investimentos que concentra 10 trilhões de dólares sob custódia; e que não só apadrinhou o movimento, como também passou a incluir o ESG como um critério para investir ou não nas empresas globais.
E que se tornou o maior propagador do conceito; principalmente, na figura de seu CEO, o famigerado Larry Fink.
Além dela, outras grandes gestoras e instituições financeiras também adotaram a mesma postura – como as também conhecidas State Street, Fidelity e Vanguard.
O conceito passou a guiar forma como elas alocariam seu capital, no que ficou conhecido como investimento verde ou até mesmo investimento woke – dado a sua convergência com os valores do movimento de mesmo nome.
Não apenas isso, as gestoras também criaram produtos financeiros que concentravam apenas empresas que obedeciam ou propagavam os critérios da agenda – como no caso dos fundos mútuos e ETFs com a sigla ESG.
A Black Rock, inclusive, é responsável por dois dos cinco maiores fundos exclusivamente ligados ao ESG, com um total de mais de 48 bilhões de dólares de ativos sob gestão.
Em todos os casos, as gestoras avaliavam o quanto as empresas globais atendiam aos critérios do ESG, e caso não tivessem um mínimo de aproveitamento – seriam compelidas a melhorarem seus índices – ou até descapitalizadas – uma vez que as gestoras venderiam suas ações ao mercado de forma imediata.
Isso, porque, essas gestoras, e outras instituições financeiras como o banco Morgan Stanley, concentram generosas participações acionárias de algumas das maiores empresas do mundo.
E basta que elas liquidem essas participações no mercado para que uma empresa não só os perca como investidores, mas também veja o preço de suas ações derreterem.
E como esses agentes tem força para determinar o movimento do mercado financeiro como um todo, não tardou para que outros players do mercado também adotassem diretamente ou indiretamente a mesma postura. O que criou um efeito multiplicador e mudou o parâmetro de investimento em todo o mundo.
Ou seja, o ESG se tornou não só uma referência para se investir, mas também para se desinvestir – agindo indiretamente como um instrumento de pressão para com as empresas.
Caso elas quisessem ter acesso a capital ou ao menos para que mantivessem suas valorizações – elas tinham que seguir esse referencial.
E isso afetou não só a forma como o mercado financeiro investia, mas também como as relações entre empresas se realizavam.
Já que uma empresa que atendesse os critérios ESG somente faria negócios com outra empresa que também estivesse dentro do parâmetro ESG. O que mudou todas as relações entre empresas grandes e gigantes.
E até mesmo a forma como a publicidade é feita em todo o mundo.
Afinal de contas, ninguém quer perder espaço no mercado – seja por falta de investidores ou por falta até mesmo de compradores – já que empresas que forneciam para outras empresas, tiveram que se adequar ao ESG para continuarem comerciando com empresas que já tinham aderido ao ESG.
O que fez com que as empresas mudassem imediatamente, o quanto antes, sob medo de desinvestimento ou problemas.
O que inclusive foi verbalizado pelo próprio Larry Fink, da Black Rock.
Ou seja a grosso modo, se não seguirem essas diretrizes – tchau e benção…
Com essa estrutura o ESG passou a ser implementado nos últimos anos em todo o planeta, tanto em empresas de capital aberto, como também em empresas de capital fechado – como, por exemplo, a rede Globo, no Brasil.
Isso explica uma série de mudanças de políticas nas empresas – o que vai desde novas formas de contratação de pessoas, a até novas abordagens as formas como as empresas realizam suas atividades.
Ou seja, a implementação do ESG ao longo dos anos causou uma mudança completa em toda sociedade.
Primeiro, no mercado financeiro, que ganhou uma nova orientação para investir. Depois, nas empresas, que tiveram que se moldar a nova realidade.
Em seguida, também até mesmo na forma como a sociedade passou a encarar as empresas – o que ficou expresso na mídia – seja no jornalismo, seja também nos filmes e séries – e também nas redes sociais.
CRÍTICAS CONTUNDENTES AO ESG
O problema é que nem tudo são flores quando se fala em ESG.
Apesar de ter boas intenções, a pauta gera uma série de críticas contundentes.
A primeira delas é que a implementação da política cria um conjunto grande de obrigações e atribuições para as empresas, que custam muito e muito dinheiro. E que pode significar perda de eficiência da empresa não só no curto, mas também no longo prazo. O que afundaria as empresas no longo prazo e daria a elas um papel social que não é parte de sua essência.
A segunda, e mais grave, é que por trás do discurso bonito e contra a lucratividade a qualquer preço – o ESG seria na verdade uma forma de aumentar e muito o lucro.
Isso, porque, como o ESG exige uma série de condutas e práticas que custam, somente as maiores empresas do mundo conseguiriam atender todos os requisitos. Principalmente, pois a implementação de todos os critérios custa muito dinheiro. Seja no presente, para se adequar à pauta, seja no futuro para continuar com ela. O que pode ser gastar agora ou também deixar de ganhar por se abster de uma prática, em nome do ESG.
Logo, as empresas de médio porte, e concorrentes que estão ascendendo, podem perder competitividade contra as empresas gigantes – seja por não terem condições financeiras de bancarem o ESG, ou por simplesmente perderem investimentos e acordos por não terem alcançado os níveis considerados aceitáveis no ranking do ESG.
Ou seja, na prática, a implementação do ESG pode esmagar a concorrência, ou pelo menos, impedir que empresas mudem de patamar, e possam incomodar efetivamente as maiores empresas do planeta.
Dessa forma, cria-se uma reserva de mercado – em que apenas as grandes empresas podem efetivamente cumprir o ESG.
O que garante a elas, pelo menos, o mercado que elas já têm hoje. E, pior, pode ser que o ESG seja o instrumento usado para descapitalizar as concorrentes, abrindo espaço para que essas gigantes também abocanhem a fatia de mercado das concorrentes que não se adaptaram. E ao final, vão lucrar muito mais.
Ou seja, para os críticos, o ESG é apenas uma forma de se lucrar ainda mais.
E ele seria também uma contradição latente.
Já que a BlackRock, por exemplo, que exige diversidade nas estruturas executivas das empresas que investe, não tem nenhuma diversidade em seu próprio quadro executivo… O que endossa as críticas de faça o que eu falo, mas não faça o que eu falo…
O que você acha?
Lucro ou Benfeitoria?
DIMINUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS EM ESG
De toda forma, ao longo do tempo, a BlackRock e outros players do mercado financeiro exerceram pressão nas empresas para que elas se adequarem à agenda. Mas, agora, parece que o foco é outro.
Isso, porque, para se adequarem às exigências do ESG, as empresas tiveram que deslocar volumosas somas de dinheiro para criarem departamentos de inclusão e mais uma série de braços que não necessariamente significavam retorno financeiro para os negócios.
Nos últimos anos, o acesso a capital estava fácil, especialmente com bancos centrais de todo mundo imprimindo dinheiro como nunca, e com taxas de juros bem baixas em quase todo o planeta. Então, era relativamente fácil pegar dinheiro para pagar o que seria vulgarmente tal como um pedágio para o ESG.
O problema é que agora que as taxas de juros estão subindo e o acesso a capital se torna cada vez mais difícil, a situação do ESG ficou bem complicada.
Uma vez que, sem acesso fácil a capital, a competição se torna cada vez mais intensa – já que o lucro se torna a única bússola das empresas; não apenas para competir, mas para sobreviverem.
Nesse cenário, ao longo do tempo as empresas têm abandonado as políticas acessórias e tem se concentrado apenas na essência de seus negócios – ou seja, se for para gastar dinheiro, que seja com o que dá dinheiro para a empresa. O que é gasto, tem que ser cortado.
Com esse corte de gastos, empresas de todo o mundo tem diminuído o investimento em práticas do ESG, principalmente no campo social. E o foco tem sido unicamente a lucratividade. Ou no que a própria Blackrock tem chamado de resiliência financeira.
Inclusive, até mesmo a Black Rock também notou que a maré mudou, e tem privilegiado empresas financeiramente saudáveis, em detrimento do critério ESG.
E agora, diminuiu seu apoio às iniciativas ESG para o menor nível histórico.
Já as empresas têm diminuído muito seu apoio a pauta; e inclusive estão eliminando iniciativas ligadas ao ESG – como os famosos departamentos de diversidade – eliminados por empresas gigantes, como a Microsoft, por exemplo.
E até a orientação publicitária tem mudado, com ações voltadas as massas e não mais a grupos específicos.
Ou seja, parece que agora que a maré baixou, o mercado mostrou quem estava nu e quem realmente estava saudável financeiramente. E em tempos de dinheiro cada vez mais caro, o ESG ficou em segundo plano. E agora, o culto ao bom e velho lucro está de volta.
Nos próximos meses, o mercado mostrará suas novas direções, mas ao que tudo indica, o ESG pode ter perdido espaço, e pode voltar a ser como era quando começou… apenas uma ideia…
E para você, é uma ideia boa ou ruim?
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