O mercado automobilístico mundial está em franca transformação, e mais uma tradicional montadora vai ter que se reinventar para continuar nesse mercado.
A bola da vez é a japonesa Nissan.
Em meio a uma forte concorrência em seus principais mercados internacionais, a marca anunciou hoje que precisará demitir 9000 funcionários de seu quadro global.
E isso é só parte do problema e da crise que a marca enfrenta desde a saída de seu antigo comandante, o franco-brasileiro Carlos Ghosn.
Nesse conteúdo, você vai entender o que está acontecendo com a Nissan e porque é um motivo de grande preocupação.
Nissan.
A marca japonesa que já foi responsável por alguns dos modelos mais desejados do mundo, especialmente pelos apaixonados por carros, agora está em meio a uma crise que parece se aprofundar cada dia mais.
LIDERANÇA DE CARLOS GHOSN
Entre altos e baixos nas últimas décadas, a marca conseguiu se estabelecer como opção em vários mercados internacionais, concentrando cerca de 51% de suas vendas nos EUA e na China. O que faz dela a 6ª marca mais vendida no mundo.
Grande parte de suas vendas nas últimas décadas foi turbinada por um plano de ação desenhado pelo antigo comandante da montadora, o franco-brasileiro Carlos Ghosn que foi o responsável por reposicionar a montadora, em uma parceria com a francesa Renault e a também japonesa Mitsubishi.
Porém, os últimos anos têm sido esquecíveis para a Nissan. E a derrocada coincide com a saída de Carlos do comando do negócio, em uma situação polêmica e controversa até hoje.
Em 2018, ele foi acusado de diferentes crimes financeiros e chegou a ficar preso por mais de 100 dias pela Justiça Japonesa, até conseguir fugir para o Líbano, onde pediu asilo.
Segundo ele, a prisão decorreu de uma grande armação de alguns japoneses insatisfeitos com o fato de um estrangeiro comandar uma das empresas tradicionais do país.
De toda forma, desde a saída de Carlos, a Nissan entrou em um declínio vertiginoso, tanto pela falta de inovação e introdução de produtos realmente impactantes, como também pela queda nas vendas e falta de aceitação do público internacional.
NISSAN NO BRASIL
A título de exemplo, no Brasil, a montadora ensaiou um crescimento interessante na década passada ao apostar no mercado brasileiro com um leque de modelos como o compacto March, a minivan Livina e os sedãs Versa e Sentra.
Os veículos encorpavam o portfólio da Nissan no Brasil, que até então se destacava apenas com a picape Frontier.
Posteriormente, ela também lançou o bem aceito Kicks.
Contudo, nos últimos anos a marca tem perdido vendas, e tem diminuído o seu portfólio e também o seu alcance. A ponto de eliminar os modelos March e Livina, e agora oferecer apenas 4 modelos a combustão – Kicks, Sentra, Frontier e o novo Versa, que passou a ocupar uma faixa mais alta do que sua antiga versão.
Além disso, a marca oferece também o 100% elétrico Leaf, que ocupa uma faixa premium de preço.
Por aqui, a marca tem perdido terreno e hoje ocupa a posição de 9ª marca mais vendida do país. No ano passado, a marca teve 3,35% do mercado nacional, com 65.145 carros vendidos.
AMEAÇA DA BYD NO BRASIL
E ela vem sendo ameaçada pela BYD que deve ultrapassar a japonesa nos próximos meses – uma vez que vem introduzindo modelos mais baratos que disputam mercado com boa parte dos modelos da Nissan.
A BYD e outras empresas chinesas também preocupam muito a Nissan em outros mercados, especialmente no mercado chinês.
QUEDA NO MERCADO CHINÊS
Historicamente com grande destaque no mercado chinês, a Nissan vem perdendo terreno de forma abrupta graças aos incentivos governamentais locais dados as montadoras chinesas, e em especial aos carros elétricos.
Mesmo tendo sida uma das pioneiras no mercado elétrico, com o modelo Leaf – a Nissan tem dificuldade de oferecer produtos no ramo de carros elétricos; e por enquanto, quando o assunto são carros de passeio, a marca apenas oferece esse mesmo modelo para o mercado chinês.
Em contrapartida, além de subsidiados, os carros chineses possuem diferentes modelos e atendem várias categorias do mercado. Ou seja, a cada dia a Nissan tem menos força para concorrer com os carros locais e menos opções também. O que não permite com que ela se adapte em um curto espaço de tempo.
Por enquanto, só no primeiro semestre, a queda nas vendas da Nissan na China foi de 14,3%.
A queda não é privilégio da Nissan, e a compatriota Honda também informou que teve uma queda de 5% no mercado chinês.
CRISE NO MERCADO AMERICANO
Já nos EUA, a Nissan tem perdido cada vez mais protagonismo, e, segundo a Reuters, é onde está o maior problema da montadora.
Depois de conquistar entusiastas com sedans e principalmente com seus esportivos, a marca atualmente oferece apenas SUVs para o mercado americano.
Esses modelos têm sido considerados obsoletos e não tem conseguido acompanhar os concorrentes, tanto quanto o assunto são os modelos a combustão, como também quando o assunto são modelos híbridos ou elétricos – faixas que a japonesa não consegue atender, e tem sido engolida pela Toyota, por exemplo.
E até mesmo o CEO da companhia afirmou que a marca não percebeu o quanto o mercado híbrido estava crescendo nos EUA.
Diante da queda local, a marca tenta recuperar espaço e começa a introduzir atualizações em seus modelos, como o lançamento do novo Kicks.
No primeiro semestre, a queda acumulada nas vendas nos EUA foi de 3%.
Porém, até mesmo no mercado americano, a marca tem perdido espaço para marcas chinesas, que tem conquistado mercados na América e na Europa. Não à toa, há um movimento internacional de taxação pesada nos carros chineses, que deve entrar em vigor nos próximos meses.
PROBLEMA GLOBAL – A CRISE DA NISSAN
Apesar de ser a 6ª marca mais vendida no mundo, e a terceira maior montadora japonesa, a empresa tem um faturamento a quem de outras empresas com capilaridade bem menor.
Ela tem o 8º maior faturamento do planeta, mas com números bem menores do que a americana Jeep e a italiana Fiat, que tem grande capilaridade apenas na Itália e América Latina.
E a BYD incomoda a Nissan também no ranking mundial, já que nesse ano está se tornando a 8ª marca mais vendida do planeta, e está investindo fortemente para aumentar seus números – especialmente com um possível aumento dentro do mercado brasileiro.
A situação mostra que apesar do volume, a marca tem dificuldade para gerar uma grande soma de dinheiro, não só em termos de faturamento, como principalmente de lucro. O que denota também um problema de gestão da montadora.
Entre abril e setembro desse ano, a marca teve uma queda em lucro de incríveis 93%. E no ano, a queda nos lucros deve ser de 73%.
Já as vendas devem ser bem menores do que o projetado para o ano. E no primeiro semestre, a queda global foi de 3.8%.
MEDIDAS PARA SE RECUPERAR DA CRISE
E para tentar recuperar o espaço perdido, a Nissan anunciou mudanças significativas. A primeira delas é a demissão de 9000 pessoas. Ou 6.7% do total de empregos da montadora.
E apesar de percentualmente pequeno, o corte representa também a redução de 20% na capacidade de produção da empresa; e ao final, uma economia de 2,6 bilhões de dólares no ano fiscal da empresa.
Até mesmo o CEO da empresa, Makoto Uchida afirmou que reduzirá seu salário em 50% a partir do próximo mês. E afirmou que os executivos do primeiro escalão serão convidados a também reduzirem seus salários voluntariamente.
Outra medida importante é o anúncio de que a marca irá vender 10% das ações que possui da montadora Mitsubishi. Na operação, a empresa espera arrecadar algo em torno de 442 milhões de dólares. Estima-se que a valorização da Mitsubishi Motors seja de 4,4 bilhões de dólares.
Com o caixa, a empresa espera investir em novos modelos e pretende sanear as dificuldades financeiras que tem encontrado.
Já na operação, a Nissan quer aprofundar seus laços de cooperação com a Renault e com a própria Mitsubishi – fruto da parceria que já dura duas décadas. Além disso, a ordem é diminuir o prazo para desenvolvimento de novos modelos para 30 meses. E agora, ela corre contra o tempo para tentar atender os mercados que perdeu ou está perdendo.
A redução do número de modelos também está em pauta. Hoje, somados, são 25 modelos diferentes oferecidos globalmente, e a tendência é que a montadora opte por menos modelos, e que esses modelos tentem atender vários mercados e não mercados específicos, como acontece hoje com alguns carros.
Por enquanto, a marca deve lançar alguns modelos novos, como, por exemplo, o Novo Kicks no Brasil e em outros mercados.
Porém, se quiser dar a volta por cima, a marca terá que fazer muito mais do que simplesmente atualizar os modelos que ela já tem. E se não conseguir se reinventar e voltar a inovar, pode ficar definitivamente para trás….
E você, acha que a Nissan vai dar a volta por cima?
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