A briga entre Elon Musk e o ministro Alexandre de Morais ganhou um novo participante na última semana – a Cloudflare, empresa que recentemente passou a prestar serviços para a rede social X, e acabou possibilitando que a rede furasse o bloqueio da Anatel – deixando a plataforma aberta aos brasileiros durante algumas horas.
Por causa dessa confusão, muitos brasileiros ouviram falar sobre a Cloudflare, e muitas perguntas surgiram a respeito do negócio que atende milhões de sites brasileiros, incluindo bancos e serviços do Governo.
E nesse post, você vai conhecer a história da Cloudflare e como ela se tornou responsável por garantir a segurança de milhões de sites mundo a fora.
Cloudflare.
A empresa que ganhou os noticiários brasileiros na última semana é uma das maiores redes de entrega de conteúdo do planeta – serviço chamado de CDN.
Em teoria, o papel da Cloudflare é garantir que sites e plataforma entreguem seus conteúdos para o mundo, e ao mesmo tempo também é responsável por garantir a segurança desses ativos digitais, especialmente contra os ataques cibernéticos. O que faz com que seu serviço seja conhecido como escudo digital.
FUNDAÇÃO DA CLOUDFLARE
Fundada em 2009 por Matthew Prince, Lee Holloway e Michelle Zatlyn, a então startup se tornou popular pela sua capacidade de otimizar a velocidade de carregamento dos sites e ao mesmo tempo também por garantir a proteção dos endereços, garantindo a privacidade de dados de diversas plataformas.
Seu lançamento oficial foi durante a conferência da Tech Crunch, onde ela inicialmente já chamou a atenção de algumas das principais empresas e startups do Vale do Silício.
E com clientes importantes desde o início, não tardou para a empresa ganhar não apenas o mercado americano, mas também o mercado mundial. Especialmente, por ser capaz de oferecer soluções bastante avançadas dentro de um mercado que não para de crescer.
E graças a sua competência, especialmente na proteção dos sites, que a empresa ganhou a confiança de governos e grandes empresas, que hoje endossam uma cartela de mais de 25 milhões de domínios que tem a Cloudflare como garantidor.
Além disso, plataformas e serviços de streaming como Spotify e Uber são clientes notórios da empresa.
Estima-se que atualmente mais de 20% da Internet dependa de algum serviço da Cloudflare.
Com capital aberto na Bolsa de Nova York desde 2019, a agora gigante está avaliada em mais de 26,8 bilhões de dólares, e tem como acionistas alguns dos maiores fundos do planeta como Black Rock e Vanguard.
Por questão de privacidade e segurança, a empresa não expõe publicamente seus clientes, mas é sabido que além agora da rede social X, a empresa também presta serviços para diversos sites do Governo Brasileiro.
E estima-se que entre 50 e 70% dos sites mais importantes do Brasil usufruam de algum serviço regular da Cloudflare, dentre eles o site do Banco Central, veículos de imprensa e sites governamentais.
Com milhões de clientes, sendo boa parte deles muito endinheirados, não demorou muito para que a Cloudflare se tornasse um negócio bilionário – que cresce significativamente ano após ano.
Em 2023, a empresa faturou mais de 1,2 bilhão de reais, com um crescimento de 33% em relação a 2022. E a tendência é que quanto mais valores circulem pela Internet mundial, mais a empresa fature.
O grande trunfo da empresa é a sua capacidade de proteger websites contra ataques, especialmente aquele que é chamado de DDoS – Negação distribuída de serviço, em tradução livre.
Explicando de forma simplista; para garantir a segurança de seus clientes, a Cloudflare desenvolveu uma rede de servidores distribuídos no mundo inteiro – de forma que ela consiga migrar dados de um ponto para outro de forma constante, evitando que os hackers concentram um ataque em um ponto específico. O que transforma o ataque em uma perseguição de gato e rato, dificultando e muito a vida de um hacker.
Na Internet, cada site recebe um número IP, que a grosso modo é como se fosse o identificador daquele site – e que estabelece o endereço digital que permite que um site seja localizado e se comunique com a rede global.
Porém, a Cloudflare pratica o chamado proxy reverso com IPs dinâmicos – o que basicamente significa que os IPs dos sites ligados a Cloudflare mudam constantemente os seus números – de maneira que eles não possam ser identificados por muito tempo, o que dificulta e muito a possibilidade de bloqueio ou invasão hacker.
Supostamente, foi graças a essa funcionalidade que a rede social X conseguiu furar o bloqueio da Anatel por algumas horas. Uma vez que antes de migrar para a Cloudflare, a plataforma X atuava no Brasil através de seu próprio sistema – que contava com um IP específico – e era esse IP que era bloqueado pela justiça brasileira.
Ou seja, ao trocar de IP, a rede não mais estaria no radar do bloqueio judicial – e por isso, ficou disponível aos usuários brasileiros.
COMO O CLOUDFLARE AJUDOU NA VOLTA DO X NO BRASIL
Assim como Elon Musk, a empresa indiretamente já se manifestou como uma defensora da chamada neutralidade da rede, em que ela acredita que a Internet deve ser o mais livre possível para que as informações sejam distribuídas, sem censura prévia. Além disso, ela trabalha para garantir que existe liberdade de expressão na Internet, mas já realizou atitudes corretivas públicas para coibir abusos. Mesmo assim, são frequentes as críticas a empresa, que garante a segurança e a atuação de sites considerados ofensivos ou polêmicos.
Só que apesar do suposto alinhamento ideológico, a empresa informou em nota que não ajudou Elon Musk a restabelecer o acesso ao X, e informou que atuou junto a Anatel para bloquear o acesso à plataforma no Brasil, assim que identificou o problema.
Apesar de ter sido noticiado como falha, o fato de o X ter ficado disponível no Brasil durante algumas horas teria sido na verdade uma manobra de Elon Musk para mostrar que o bloqueio judicial não é totalmente efetivo contra uma plataforma online – e que bastaria uma simples alteração de IP para que o acesso a ela fosse restabelecido.
Mais do que isso, o movimento expôs uma suposta fraqueza da Justiça – já que se o Ministro Alexandre de Morais realizasse algum bloqueio maior contra a própria Cloudflare, a ação geraria instabilidade ou queda de alguns dos maiores sites do Brasil e poderia deixar expostos sistemas e dados de bancos e de entidades governamentais brasileiros. E até mesmo o sistema do Pix poderia ser inviabilizado.
Ou seja, supostamente a atitude de Musk seria tal como um movimento de xeque no Xadrez.
Porém, o suposto êxito durou apenas algumas horas e o bloqueio foi restabelecido pela provedora, que negou que tenha ajudado tal prática.
A atitude foi encarada como uma provocação, mas oficialmente não houve uma justificativa para o fato de o X ter aderido aos serviços da Cloudflare.
Contudo, a explicação pode ser mais simples.
MUDANÇA DO X PARA O TEXAS
Como o X está alterando seu endereço físico da Califórnia para a cidade de Austin, no estado do Texas; a empresa teria feito a alteração dos seus servidores como parte da mudança. Porém, o fato também não foi confirmado.
Mesmo sem que o motivo fosse explicado, a movimentação foi vista pelo ministro Alexandre de Moraes como um desrespeito a decisão judicial anterior, e para tanto ele fixou multa diária de 5 milhões de reais ao X e a Starlink, a ser cobrada de acordo com o tempo em que o X estivesse no ar.
No momento dessa redação, o X continua bloqueado no Brasil e a sua volta durou apenas algumas horas do dia 18 de setembro. E por enquanto continuam as negociações para que a plataforma possa voltar ao Brasil, o que inclui até mesmo o dinheiro da Starlink – que tem Musk como um dos sócios.
De toda forma, esse é mais um capítulo da saga de Elon Musk contra autoridades e empresas em todo o mundo, sob a bandeira de liberdade de expressão. Que envolve não só a discussão com Alexandre de Moraes, mas também outros casos – como um processo contra mais de 100 empresas gigantes – como já contado no canal.
E agora, resta saber quais serão os próximos capítulos. E quem vai vencer essa queda de braço.
E você, acha que quem está certo?
Você está do lado de Elon Musk ou acha que devem haver limites para a expressão das pessoas.
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