É O FIM DA GOOGLE? – POR QUE O GOVERNO AMERICANO QUER DIVIDIR A GOOGLE?

A Google é um monopólio?

Ou mais de um?

Essas e outras perguntas sobre uma das maiores empresas do mundo tem sido feitas ao longo dos anos – e uma delas acabou de ser respondida.

Segundo decisão recente da justiça americana a resposta é Sim.

Pelo menos, para ela, a Google possui um monopólio quando o assunto são as buscas pela internet. Especialmente aquelas feitas em dispositivos móveis.

Isso, porque, a empresa que detém 89,2% do mercado de buscas, teria cometido crime ao pagar mais de 26 bilhões de dólares para fechar acordos com as fabricantes de smartphones Apple, Samsung e Motorola para garantir que as três usassem o Google como mecanismo de busca padrão dos aparelhos.

Esses acordos garantiram uma fatia de 94.9% do mercado de buscas feitas por dispositivos móveis; fato que torna a Google um monopólio na visão da Justiça.

O que em tese coloca em xeque aquele que teoricamente é o negócio essencial da gigante.

E agora, com a decisão que entendeu que o mundo está diante de um monopólio, uma forte ofensiva contra a Google está começando, e o processo pode levar a empresa a ser dividida em pelo menos duas partes.

E o pior ainda pode estar por vir.

E pode respingar também em outras empresas de tecnologia.

Nesse artigo, você vai entender o que aconteceu com a Google e porque essa decisão pode mudar tudo no mercado de tecnologia.

Google.

O maior buscador do planeta conquistou o mundo com uma série de funcionalidades que fizeram dele não só o centro de informações da Internet ocidental, mas também se tornou uma máquina de receita.

Além de concentrar dados e informações, a plataforma integra o maior sistema de veiculação de anúncios na rede, o Google Ads – ferramenta multibilionária que é considerada o maior diferencial do buscador.

Para completar, a empresa que se tornou a Holding Alphabet também adquiriu o Youtube, que além de ser disparada a maior rede de vídeos do planeta, também se tornou o segundo maior mecanismo de busca do mundo. O que reforça a dominância da empresa no setor.

Dessa forma, a Google pode ter consolidado não apenas um monopólio, mas três – o mercado de buscas, o mercado de anúncios online e também o de vídeos online.

Ainda assim, por enquanto a Justiça americana aponta apenas para um ponto específico que é o mercado de buscas online em dispositivos móveis. O problema é que esse pode ser apenas o primeiro desafio.

E com a situação, uma série de discussões aparecem.

A primeira delas é sobre o que se trata um monopólio.

O QUE É UM MONOPÓLIO?

De forma geral, entende-se que um monopólio é uma situação de mercado em que uma única empresa é responsável pelo fornecimento de um produto ou serviço, sem concorrência direta.

Isso pode ocorrer por diversas razões, como controle de recursos essenciais, barreiras à entrada para outras empresas, ou devido a regulamentações governamentais que concedem privilégios exclusivos a uma empresa.

Esse monopólio pode ser concedido de forma legal, quando a lei determina quem será o monopolista como já foi o caso da Petrobras no setor do petróleo e como é o caso dos Correios, no setor de serviços postais.

Nas hipóteses em que a empresa assume a posição de monopólio ao dominar o mercado e incorrer nas hipóteses de controle de mercado ou a criação de barreiras à concorrência, esse monopólio é considerado ilegal.

Já na visão da Escola Austríaca de Economia, um monopólio só se consolida de fato se houver a intervenção estatal – de modo que o Governo crie condições para que ele exista.

E mesmo que uma empresa exerça a posição de dominância conhecida como ‘’monopolista’’, isso se deve a sua competência – o que faz da posição uma conquista, que se dá constantemente pelo fato de o monopolista estar vencendo os seus concorrentes  naquele momento em específico – e caso ele deixe de ser competente, perderá sua relevância tempos depois.

Para os austríacos, em caso de intervenção estatal para quebrar ou regular a atividade dessa empresa dominante, o resultado pode ser pior para o mercado, e principalmente para os consumidores.

Você concorda com qual das duas visões?

MONOPÓLIOS HISTÓRICOS

Historicamente, algumas empresas já enfrentaram acusações e processos por práticas monopolistas. O primeiro grande caso foi o da petroleira Standard Oil, em 1911.

Criada por John D. Rockefeller, considerado por muitos como o empresário mais rico da história, a empresa se consolidou como a maior empresa do planeta ao concentrar todo o mercado de petróleo – desde a extração, refino, distribuição e venda de seus produtos e subprodutos.

Com tanto poder nas mãos de apenas um negócio, a Justiça Americana entendeu que a Standard Oil não poderia existir mais nos mesmos moldes; e tinha que ser dividida em múltiplas partes para que essas novas partes se tornassem novas empresas que pudessem competir entre si.

Assim, a Standard Oil foi dividida em 34 empresas, que deram origem a diferentes players do mercado petrolífero como Exxon, Chevron e Mobil.

Teoricamente, a subdivisão acabou restabelecendo a concorrência no mercado petrolífero. Apesar disso, nas décadas seguintes o mercado novamente se afunilou.

Curiosamente, em 1999 duas das empresas criadas se fundiram formando a Exxon Mobil; consolidando a maior empresa do mundo em seu ramo, na ocasião.

DIVISÃO DA AT&T

Outro caso famoso ocorreu em 1984 quando a gigante da telecomunicação AT&T foi subdividida em diferentes empresas, mantendo parte de suas operações em alguns setores. Ainda assim, anos depois, a própria AT&T se fundiu com algumas de suas antigas subsidiárias, como a SBC em 2005.

Já no mercado da tecnologia, o grande caso se deu na virada do século quando a Microsoft foi acusada de controlar um monopólio.

PROCESSO ANTITRUSTE CONTRA A MICROSOFT

Apesar de seu domínio com relação a instalação de seu sistema operacional nos computadores pessoas de todo o mundo, o grande calcanhar de Aquiles foi seu navegador de Internet, o Internet Explorer.

Isso, porque, para a Justiça, a Microsoft praticamente obrigava os clientes do Windows a usarem o seu navegador gratuito e já instalado; o que tirava espaço para que os clientes comprassem navegadores concorrentes como o Netscape Navigator.

Apesar de esse ter sido o ponto de controvérsia, o alvo era a totalidade da empresa, assim como nos casos da Standard Oil e da AT&T.

Em virtude desse processo, para não sofrer sanções consideráveis e nem ter que se dividir, a Microsoft acabou celebrando um acordo com a Justiça de forma que ela teve que abrir diversas concessões, pagar multas e até foi obrigada a compartilhar tecnologia com o mercado para sair da mira do Estado.

A situação é descrita como uma das responsáveis pelo fato de a Microsoft ter perdido o mercado de navegadores nos anos seguintes para concorrentes como Mozilla Firefox e o Google Chrome; outro produto que agora está também sob investigação de também ser considerado um monopólio.

Hoje, o Chrome detém 65,41% do mercado global de navegadores. O segundo mais usado é o Safari, da Apple, com apenas 18,39% do mercado.

Assim, a Microsoft conseguiu escapar das sanções entregando alguns anéis para não perder os dedos.

Apesar disso, a empresa de Bill Gates amargou mais de uma década de estagnação com poucas inovações e pouca mídia em torno de si; até passar por uma revolução na última década, como já contada no canal.

E mesmo assim, a Microsoft tem feito uma prática atualmente que pode colocá-la em maus lençóis mais uma vez – como contado recentemente aqui no canal.

Mais de vinte anos depois, a Google é o alvo da vez. E pode ser o maior caso desde a divisão da AT&T.

PROCESSOS ANTITRUSTE CONTRA A GOOGLE

Para a Justiça americana, o buscador Google se tornou um monopólio ao longo dos anos, e cria distorções no mercado ao se consolidar a partir de um acordo comercial que impõe o seu uso aos consumidores de aparelhos celulares da Apple, Samsung e Motorola – o que seria uma barreira de entrada para outros concorrentes como Bing e Duck Duck Go.

Por isso, a Justiça entende que será necessária uma intervenção para que a concorrência seja restabelecida. O que pode resultar tanto em uma divisão da empresa, como também em uma série de acordos e concessões que podem desconfigurar o negócio da gigante. Ou seja, mais uma vez, um problema específico é o estopim para um enfrentamento contra toda a empresa.

A Justiça nesse momento estuda alternativas para o caso, mas dentre as possibilidades está a imposição de que a Google seja obrigada a se desfazer de alguns de seus ativos como o sistema operacional Android, o buscador Chrome ou até mesmo o sistema Ads, seu principal canal que gera mais de 230 bilhões de dólares de renda anual -responsável por dois terços de sua receita.

O sistema de anúncios Adwords tem como seu maior setor, o próprio mecanismo de busca Google, que ano passado foi responsável por 175 bilhões de dólares de receita.

O processo ainda deve demorar meses ou até alguns anos, mas para se ter ideia do tamanho do impacto de uma possível seção o faturamento planejado para 2027 com anúncios é de mais de 340 bilhões de dólares.

A empreitada também está sendo alvo de processo judicial, mas ainda não há decisão sobre o assunto. A tendência é que outra condenação aconteça, uma vez que a Google controla quase 30% do mercado de anúncios online, seguida pela Meta com 19,6%.

E o ponto mais sensíveis é que a Google oferece tanto o serviço para quem quer anunciar em sites, através do Google Ads, como o serviço para sites que querem ter anúncios. O problema é que a empresa ganha comissão do anunciante e cobra comissão do site que recebe o anúncio. E ainda é responsável pela arbitragem que envolve as duas pontas, no chamado Google Ad Exchange.

O que de acordo com o Tecnoblog seria um ganho nas duas pontas, tal como se a Google vendesse a faca e o queijo, já que ela domina 90% do mercado de sites que tem anunciantes e 80% dos anúncios que são feitos nos sites.

Na visão dos acusadores, ao abrir mão de alguns de seus negócios, o poder da Google seria dissipado e abriria espaço para os concorrentes – tanto nos mercados em que ela abriria mão, como nos demais que ela continuar atuando.

E o caso do sistema Android é talvez o mais delicado; uma vez que já houve decisão judicial recente entendendo que o sistema atua como monopolista ao impor condições em sua loja de aplicativos, a Play Store.

Além dela, o sistema também já vem com o aplicativo do Google Chrome instalado, que tem a pesquisa Google como padrão – o que configuraria uma espécie de armadilha em que o cliente utiliza produtos da mesma bandeira o tempo todo.

Para completar, conforme exposto pela decisão judicial envolvendo o Android, o sistema já vem com diversos programas da Google instalados de fábrica e um usuário comum não consegue deletá-los – sendo necessária ajuda técnica para a remoção. O que teoricamente configura uma imposição ao consumidor e uma barreira para os concorrentes nos ramos específicos.

De acordo com a Bloomberg, dentre as medidas estudadas, as menos severas seriam uma imposição para que a Google compartilhe dados com seus concorrentes – como, por exemplo, informações sobre como a empresa opera seu mecanismo de busca.

Outra possibilidade é a imposição de limitações para sua entrada no mercado de inteligência artificial; especialmente porque com a entrada de novos players como o Chat GPT, a pesquisa Google pode perder uma fatia do mercado.

Na visão do Departamento de Justiça, mesmo com a entrada de novos players, a Google ainda tem uma vantagem injusta em relação a seus concorrentes.

Além disso, o Governo estuda a proibição de acordos impositivos, como os celebrados entre a Google e as fabricantes de smartphones citadas.

O processo ainda deve se desenrolar e novos capítulos ainda estão por vir – inclusive a chance de a acusada oferecer alternativas para escapar das punições mais severas.

Você acha que a Google vai ser dividida?

Você acha que ela de fato é um monopólio ilegal?

EFEITOS DO PROCESSO NO MUNDO TECH

E não é só a Google que sofrerá consequências desse processo.

Com a condenação, a Justiça Americana poderá penalizar também as empresas que participaram do acordo do buscador, a exemplo da Apple – que do total de 26 bilhões pagos, recebeu 20.

O acordo foi celebrado depois que a Apple passou por um processo de negociações para que a concorrente do Google, Duck Duck Go se tornasse a ferramenta de busca padrão dos iPhones em todo o mundo. O que pode endossar que a Maçã participou de um conluio anti- concorrencial ao aceitar o caminhão de dinheiro da Google.

O processo também pode abrir um precedente perigoso para todo o mercado de tecnologia; que pode afetar, por exemplo, a posição da Meta, detentora de três das maiores redes sociais do mundo e também mais uma vez a Apple, que já passou por polêmicas envolvendo sua loja de aplicativos App Store. Isso sem contar outras empresas que também detém grandes fatias de mercados, como a Amazon.

Vale ressaltar que no início do século passado, o alvo foi apenas uma única gigante, mas agora o alvo podem ser várias. O que pode não só derrubar um setor específico, mas o mercado como um todo.

Ou seja, pode ser que um novo capítulo seja escrito no capitalismo mundial.

O que você acha disso tudo?

Pode ser o fim das grandes empresas de tecnologia, como conhecemos?

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