O que houve com as ações da Netflix? O que justifica a queda das ações da Netflix?
2022 não parece estar sendo um bom ano para a Netflix.
Depois de ver suas ações caírem fortemente no início do ano, após resultados decepcionantes no último trimestre do ano passado; quando o lucro foi bem menor do que o esperado; a empresa agora escancarou novos problemas que colocam em dúvida o futuro do negócio; e que fizeram com que as ações derretessem mais de 35% nos últimos cinco dias.
Mas o que está acontecendo?
O que justifica a grande queda das ações da empresa?
Será o fim da Netflix?
Rainha do Streaming; a Netflix pode não ter sido a primeira, mas com certeza se tornou a maior empresa do mundo quando o assunto é streaming de filmes e séries.
Com um catálogo recheado e uma assinatura acessível, a empresa foi responsável por popularizar a modalidade; e conquistou rapidamente a confiança e a adoração dos fãs. Ao ponto de colocar em xeque até mesmo a necessidade de salas de cinema mundo afora.
Um crescimento que parecia não ter limites.
Além do pioneirismo, a empresa conquistou milhões de usuários com um serviço de qualidade, que além de reproduzir conteúdo de terceiros; também começou a produzir seus próprios filmes, documentários e séries.
Uma estratégia que não só aumentava o leque de opções dentro da plataforma, como também preparava a empresa para um futuro próximo…. e que parece ter chegado com até mais rápido e com mais força do que o previsto.
Em Minas Gerais, dizem que a Onça que chega primeiro bebe a água limpa. E de fato, a Netflix conseguiu reinar absoluta no mercado de streaming durante muitos anos.
Porém, grande parte das mídias que compunham o catálogo da plataforma vinha de grandes estúdios, que licenciavam o conteúdo para a gigante.
E em alguns casos, havia também a cooperação da Netflix com outros estúdios, como aconteceu com a Marvel; o que deu origem a séries como Demolidor e os Defensores.
SURGIMENTO DA CONCORRÊNCIA
Contudo, assim como em todo mercado, logo surgiram concorrentes estruturados, loucos para destronarem a Netflix; e assim chegaram outras plataformas como Amazon Prime Video e Apple TV.
Duas apostas de gigantes que não entram para brincar; e que mostraram que a barreira de entrada no mercado era menor do que o imaginado.
Uma constatação que levou também com que os próprios estúdios que antes eram parceiros e fornecedores da Netflix também criassem suas próprias plataformas de streaming. O que deu origem a outros novos concorrentes, como a Disney Plus; a iniciativa mais estrutura dentre os estúdios, e que trouxe consigo o sistema Star Plus.
Com esse movimento, a Disney, por exemplo, não só restringiu o licenciamento de seus conteúdos, como também deu início a criação de suas próprias séries exclusivas, com o endosso de suas próprias franquias como Marvel e Star Wars. O que na prática, fez com que a antiga fornecedora literalmente se tornasse concorrente direta da Netflix.
Um movimento que de certo modo já era calculado pela Netflix, que já há alguns anos investe voluptuosas quantias na criação e na aquisição de séries e franquias; como foi o caso da série La Casa de Papel; que foi adquirida pela empresa, e que depois ganhou novas temporadas criadas pela própria Netflix.
Na mesma linha, a Netflix há alguns anos vem investindo na criação de Filmes, que inclusive foram postulantes ao Oscar de Melhor Filme.
Entretanto, as coisas não estão acontecendo conforme o planejado pela gigante. E enquanto muitos apostavam que ela reinaria absoluta pelos próximos anos, a realidade tem sido bem diferente do projetado…
INDEPENDÊNCIA, MAS NEM TANTA
Com o investimento em produções originais, a empresa que começou como uma curadoria de conteúdo, passou a posição de produtora; o que demanda imensamente o seu caixa.
Contudo, para se manter sempre atualizada e com os fortes investimentos, nos últimos anos a empresa aumentou consideravelmente o preço de seu serviço em todo o mundo; e começou a criar uma série de pequenas restrições para cobrar mais dos usuários.
Como, por exemplo, passou a cobrar pelo direito de acessar o conteúdo em diferentes dispositivos de forma simultânea.
Uma atitude que tirou um dos méritos iniciais que era de um preço módico para um grande benefício; e que criou uma das barreiras que hoje a empresa enfrenta.
Como produtora, vieram também novos desafios.
Ao mesmo tempo em que a empresa precisa ser disruptiva, ela também precisa atender às demandas do público que já tem seus gostos e preferências.
Nessa linha, a Netflix ainda encontra dificuldade para agradar o grande público com suas produções originais.
Uma das saídas foi apostar em uma grande quantidade de conteúdos voltados para nichos específicos, com um viés relativamente ideológico.
O problema é que muitos espectadores passaram a reclamar que nessas produções o viés político e ideológico é mais acentuado que a qualidade narrativa do conteúdo; o que tira grande parte do público e gera até mesmo movimentos de boicote mundo afora. Inclusive no Brasil.
No campo dos filmes, a empresa apostou em produções orientadas para vencerem prêmios e honrarias; de forma a chancelar a qualidade das produções da casa. Afinal de contas, grandes estúdios também recebem grandes prêmios.
OSCAR FRUSTRADO
Contudo, nem mesmo um investimento massivo em propaganda e um elenco estelar, foi capaz de premiar o recente filme ‘’Não Olhe para Cima’’ com um Oscar ou um Globo de Ouro. Produção que foi a grande aposta da empresa nos últimos anos.
Além disso, durante muito tempo, houve a alegação por parte da própria empresa de que filmes de streaming não recebiam grandes prêmios;
Entretanto, essa questão também caiu por terra; já que o vencedor do Oscar de 2022, o filme CODA – No Ritmo do Coração foi lançado também em streaming… pela concorrente Apple TV; que comprou o filme logo em seus primeiros dias de exibição; e o divulgou mundialmente através de sua plataforma.
Já no campo das Séries, a empresa também tentou conquistar o público com adaptações, remakes e reboots de obras já conhecidas; como o anime Cavaleiros do Zodíaco; que acabou desagradando imensamente a base de fãs. O que faz com que até mesmo as escolhas criativas sejam questionadas pelo público; o que transformou a possibilidade de uma adaptação pela Netflix uma preocupação e não uma esperança.
E o problema parece persistir.
Enquanto a Netflix apostou na massificação, com uma infinidade de séries de diferentes tipos, mas sem uma grande franquia já estabelecida; as concorrentes estão crescendo com o endosso de grandes marcas; como é o caso do HBO Plus, que vêm ganhando espaço, principalmente depois do lançamento exclusivo do filme Liga da Justiça Snyder Cut; e mais recentemente com a chegada do Filme The Batman.
Outro problema é que concorrentes como Star Plus e Amazon Prime Video possuem também direitos sobre transmissões esportivas ao vivo; e vêm aumentando o leque cada vez mais; como a Amazon que fechou acordo para transmitir os jogos do Cruzeiro, e do Atlético Paranaense, através de lives na Twitch; que estão inclusas na assinatura prime.
Novas modalidades que a empresa pioneira ainda não consegue acompanhar. E que chegou a dizer que não pretende se aventurar.
De toda forma, a cada dia os clientes tem mais opções para escolher; e a vida da Netflix fica mais complicada.
Não bastasse os problemas decorrentes da competição e da chegada de novos players, a Netflix ainda anunciou que pela primeira vez, desde 2011, registrou queda de assinantes.
PERDA MASSIVA DE ASSINANTES
Além de ter desligado 700 mil assinantes russos, após suspender suas atividades no país. A plataforma registrou a saída de outros 200 mil assinantes; um golpe forte, especialmente porque a empresa planejava ganhar 2,5 milhões de novos assinantes no mesmo período.
E se engana quem acha que o problema para por aí.
De acordo com os cálculos da própria empresa, até o meio do ano a expectativa é que a plataforma acumule perda de um total de mais de 2 milhões de assinantes.
Um dos motivos dessa saída, segundo a empresa; é que o valor das assinaturas passou a ser visto como um impedimento para a continuidade desses usuários.
O que pode ser um fato, especialmente pela escalada mundial da Inflação; que faz com que as pessoas tenham de eliminar gastos supérfluos e confortos imediatos.
Ainda assim, o mesmo não se pode dizer de concorrentes como o Disney Plus; que está superando as expectativas de crescimento.
FUTURO COM PROPAGANDAS?
Nesse cenário, a Netflix anunciou que pretende disponibilizar novas modalidades de assinatura, mais baratas, em que propagandas serão apresentadas durante a exibição dos filmes e séries, a exemplo do que acontece no Youtube.
Uma decisão que desagradou e muito os acionistas; que acreditam que a opção pode prejudicar a experiência e a percepção de valor da plataforma.
Você considera uma boa ideia?
De toda forma, a situação toda coloca uma grande interrogação sobre o futuro da Netflix.
Será que a empresa será capaz de recuperar a fatia de mercado que perdeu?
Será que a Netflix vai conseguir inovar mais uma vez dentro do mercado de streaming?
Ou será que o Oceano Azul ficou vermelho de vez?
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