Por que é assim? Porque sempre foi assim.
O aplicativo Uber é um fenômeno mundial. Inegavelmente, por onde passou, o serviço prestado pelo aplicativo causou alvoroço. Seja pelos diversos questionamentos sobre sua legalidade. Seja pelo entrave causado junto aos taxistas e o Poder Público. É impossível negar a relevância do aplicativo no contexto mundial.
O seu funcionamento consiste basicamente no bom e velho transporte de pessoas; ocorrendo na esfera privada, ao contrário do serviço de táxi, que funciona mediante permissão dos Municípios. Pelo aplicativo o usuário pode solicitar um veículo para realizar o devido traslado, com determinadas características básicas de conforto; tendo direito a usufruir de mimos como ar condicionado, água mineral e balas, sem custo adicional, e de acordo com sua vontade. Além disso, tal como uma rede social, o aplicativo permite o compartilhamento de cupons de descontos progressivos entre os usuários, que recebem da plataforma um código para compartilhar com os amigos e gerar os respectivos descontos.
Dentre as modalidades do serviço, no Brasil, estão: o Uber Black, em que são disponibilizados carros sedan na cor preta, cumprindo alguns requisitos de luxo e conforto; e a versão X, que abarca modelos menos equipados, porém com tarifa básica menor. Em outros países há versões que acomodam mais de 04 passageiros, batizada de Uber Van, que deve desembarcar no país em breve.
Dado a escassez de veículos da plataforma, principalmente no horário de pico, o valor básico da tarifa poderá ser multiplicado, de acordo com a demanda. Quanto maior a demanda por veículos em determinado horário, maior será o fator de multiplicação, e maior será o preço da tarifa. Entretanto, o usuário poderá ter conhecimento do valor praticado antes mesmo da corrida, tendo também uma previsão do valor médio do percurso. Quanto ao pagamento, o próprio aplicativo cuida disso, debitando a corrida no cartão de crédito do usuário, tal como os aplicativos de táxi.
Porém, de modo geral, o serviço consegue praticar, em média, preços mais competitivos do que aqueles praticados por taxistas e outras opções tradicionais. Tudo isso, graças à dinâmica da empresa, que possui poucos custos graças ao seu modelo escalável, tal como as grandes Startups mundiais, utilizando de um modelo tributário simplificado, dado a natureza do serviço.
Modelo que consiste na eliminação de custos fixos, potencializado pela capilaridade do aplicativo, que depende basicamente da disposição de prestadores de serviço, que disponibilizam os próprios veículos para a realização do serviço, assumindo integralmente os riscos da atividade, e os custos de manutenção de seu instrumento de trabalho. Fazendo com que o aplicativo se torne apenas um meio para a atividade fim (transporte), que é realizada, de fato, pelos prestadores de serviço.
Para se ter ideia da força do aplicativo, em avaliações recentes a empresa foi avaliada em mais de 50 bilhões de dólares, superando empresas brasileiras de renome como Itaú, Bradesco, Vale e Petrobrás. Recentemente a empresa recebeu aporte de grandes players do mercado mundial, como a Microsoft. Entre os ambiciosos planos futuros da empresa está a oferta de carros autônomos, em alguns anos, que irão dispensar o motorista, e por tanto eliminando o custo gerado pela remuneração do prestador de serviço. Trazendo uma verdadeira revolução ao transporte de pessoas.
Além dos mimos, uma das razões pelas quais os consumidores em todo o mundo têm optado pelo serviço consiste no fato dos motoristas obrigatoriamente apresentarem uma maior polidez junto ao cliente, por conta da avaliação de conduta realizada por cada cliente, após cada corrida. Os critérios avaliativos são subjetivos e resguardados ao usuário, sendo aplicáveis diferentes tipos de penalidade ao prestador de serviço em caso de reclamação ou baixa avaliação.
Somando a comodidade trazida pelo serviço à extrema preocupação com a relação junto ao usuário/cliente, a empresa tem se tornado a queridinha dos jovens em todo o mundo, superando a oferta de táxis em várias cidades importantes, como, por exemplo, Nova York; em que o número de carros da Uber já ultrapassa os famosos táxis amarelos.
Deixando a questão do conflito com os taxistas e o Poder Público, o Uber conseguiu trazer uma nova dinâmica a um serviço tradicional e que manteve preso a um monopólio por décadas, amparado por legislações que resguardavam também os interesses dos governantes, e de arrecadação do Estado, dado ao esquema de concessão da licença-placa dos veículos.
Tal relação, sob a ótica do empreendedorismo, tem muito a ensinar. Não somente pelo fato de ser um inegável case de sucesso.
O Uber resolve uma necessidade: o transporte urbano de passageiros. Por sua vez, também soluciona um problema: as reiteradas reclamações de usuários de táxis no mundo inteiro. Solucionando de forma mais eficiente e eficaz uma necessidade recorrente, derrubando um modelo decano de serviço. Preenchendo assim os requisitos de um empreendimento por essência.
Porém, o grande insight no caso do Uber está na quebra de paradigmas, e no fato de facilitar as necessidades dos usuários, sem entrar no mérito do serviço dos táxis.
Pode-se fazer um cotejo deste case com uma fábula famosa:
Uma mulher preparava habitualmente o pernil para o jantar da ceia de natal cortando as duas pontas da peça de carne, antes de colocá-lo no forno. Espontaneamente o marido perguntou-lhe por que motivo assim procedia. E ela respondeu: ‘’Era assim que a minha mãe fazia.’’ Os dois aproveitaram para perguntar a Mãe o porquê de ela sempre cortar as duas extremidades do pernil. A Mãe respondeu: ‘’Porque era assim que a minha mãe fazia’’. O casal decidiu então telefonar à Avó dela para saber por que motivo ela cortava as pontas ao pernil. A resposta: ‘’Por que o meu forno era pequeno.’’
Essa história nos faz refletir sobre a maneira com que fazemos nossas atividades do dia-a-dia, sendo que na maioria das vezes, o fazemos sem questionar o motivo. Talvez por hábito. Talvez por lição. Talvez simplesmente por assimilação de um ou outro exemplo.
Aplicando ao caso, provavelmente, muitas pessoas ao questionar o monopólio do serviço de táxi veio a se perguntar o motivo disso. E provavelmente, recebeu a resposta: por que sempre foi assim; ou, por que é assim que é.
Graças ao questionamento de empresas como a Uber, é possível a criação de soluções diferentes para problemas comuns, que já pareciam solucionados. Esse é um dos pilares do Empreendedorismo: Gerar sempre melhoria. Tornando as atividades cada vez mais eficientes.
A partir desse princípio tivemos a criação de instrumentos como o correio eletrônico (e-mail), o próprio computador, e tantos outros avanços. Tudo isso com base no questionamento de alguns empreendedores acerca da realidade que viviam. Afinal, por que se faz dessa forma? Por que não fazer melhor? Por que não fazer diferente?
Logo, esse exemplo é cheio de ensinamentos para aqueles que desejam empreender, mas que ainda não conseguem validar ou desenvolver uma ideia de produto ou serviço.
O questionamento da realidade e da maneira como as coisas estão pode nos revelar diversas oportunidades que até então passaram despercebidas. Simplesmente pelo fato de estarmos todos conformados com as práticas atuais. O que é um traço marcante do chamado senso comum. Aceitamos aquilo por que parece ser a única verdade ou solução para um problema.
Talvez por conta disso, muitas pessoas passam a vida inteira tentando enxergar oportunidades, e quando se deparam com soluções simples e objetivas, como, o Uber, por exemplo, se perguntam: Por que não pensei nisso antes?
Para tanto, é importante começar a fazer o exercício de questionamento para tudo aquilo que está a sua volta. Existe ali algum incômodo? É possível fazer melhor? Mais barato?
Este simples exercício além de desenvolver o seu senso crítico, irá apurar a sua visão e capacidade de identificar oportunidades.
A mudança é mais simples do que parece. Mas é preciso treino, hábito e habilidade.
Que tal começar a desenvolvê-la?
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