Francesco Matarazzo foi um dos empreendedores mais notáveis do Brasil, e sua história é a primeira de nossa nova série Pioneiros.
Francesco Antônio Maria Matarazzo nasceu em 9 de Março de 1854 na cidade de Castellabate, próxima a Nápoles, na Itália.
Filho de um empresário italiano, Francesco tinha uma vida confortável na Itália, porém, tudo mudou quando seu pai foi assassinato por suposto envolvimento com uma mulher casada.
Após a morte do Pai, Francesco, que era o filho mais velho da família Matarazzo, teve que assumir os negócios da família;, mas devido as várias dívidas deixadas por seu pai, bem como o momento delicado que a Itália passava após ter realizado a sua unificação, o jovem não teve êxito em manter os negócios do pai.
Foi assim, que aos 27 anos de idade, ele decidiu deixar sua terra natal em busca de uma terra que se abria para Italianos, prometendo diversas oportunidades: o Brasil.
A ideia de vir para o país veio depois de uma carta de um amigo da família, Francisco Grandino, que contou aos Matarazzo que estava tendo um enorme progresso com seus negócios em terras brasileiras; e que de fato se tratava de uma terra de oportunidades, ao contrário da Itália daquela época.
Dessa forma, em 1881, o italiano deixou a vila de Castellabate e rumou para a cidade de Sorocaba, no interior do Estado de São Paulo.
Para a nova vida, Francesco traria consigo todas as suas poucas economias. Mas, sua veia comercial falou mais alto e ele decidiu converter todas as economias em um carregamento de banha de porco para ser vendida em terras tupiniquins. Até então, a banha vendida no país era em sua maioria importada dos EUA.
O carregamento viria de navio, assim como o empreendedor. Porém, ao descarregar seus produtos na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, todas os barris de banha que o empreendedor trazia para o país caíram no mar. E toda sua carga foi compremetida.
Assim, no seu primeiro dia no Brasil, Matarazzo perdeu todas as suas economias e toda sua carga.
Devido ao começo azarado, Matarazzo teve que trabalhar como mascate, uma atividade comum na época. Viajando por várias cidades e vendendo diversos tipos de produto.
Antes de ter seus próprios negócios, seu pai também havia sido mascate na Itália. Desde cedo, Francesco foi treinado para ser comerciante, mas as condições que ele seria submetido no Brasil eram muito piores do que as quais ele havia sido treinado por seu pai para enfrentar.
Trabalhando como mascate, o empreendedor começou a reunir suas primeiras economias e surgiu a ideia de ter seu primeiro produto: banha de porco enlatada.
Até então, a banha de porco era vendida em embalagens de madeira. Chamadas de barricas, as embalagens de madeira não protegiam bem o produto, que frequentemente estragava; mas Matarazzo vislumbrou a possibilidade de enlatar a banha; que representava maior durabilidade para o produto e também permitia que a banha fosse vendida em quantidades menores, evitando o desperdício no uso doméstico.
A inovação representava uma disrupção no mercado de banhas, e fez com que o italiano tivesse um diferencial competitivo extremamente expressivo.
Além de oferecer um produto melhor e mais durável, ele também poderia oferecer o produto em tamanhos menores, com margens de lucro maiores do que a venda em grandes barricas, como era feito pelos americanos.
Assim, ele criou na cidade de Sorocaba, uma pequena fábrica caseira, em que ele produzia a banha; e aos poucos seu produto conquistava a região em que morava.
No começo, Francesco comprava pessoalmente os porcos, extraía e embalava a banha. Depois, em sua carroça ele mesmo saía vendendo os produtos.
A ideia foi extremamente bem-sucedida. O produto facilitava a vida das donas de casa, e era mais barato do que o importado. Além disso, o produto começou a dar os primeiros retornos expressivos para o empreendedor.
Se como mascate, Matarazzo vendia produtos feitos por outras pessoas e tinha uma margem de lucro reduzida; como produtor ele tinha uma margem de lucro mais generosa; o que representava a possibilidade não só de ganhar mais dinheiro, mas também de poder reinvestir seu dinheiro na própria fábrica, produzindo cada vez mais produtos e ganhando cada vez mais dinheiro.
Porém, como tudo que faz sucesso, logo surgiram os concorrentes, que imitaram sua ideia e também passaram a vender banha de porco.
A chegada de concorrentes significava não apenas um desafio para conquistar novos clientes, mas também o desafio de ter de lutar para oferecer o melhor preço para o cliente; criando uma disputa pouco sadia em que era necessário cortar custos e preços para vencer os concorrentes; diminuindo as margens finais do empreendedor.
Diante deste cenário de alta concorrência, Matarazzo teve uma sacada que o ajudou a vencer os concorrentes: comprar todos os porcos de todos os produtores da Região de Sorocaba.
A medida era extrema e arriscada, mas comprando em massa, os custos dos porcos seriam reduzidos e a relação com os produtores locais faria uma espécie de relação ganha-ganha.
Enquanto Matarazzo poderia comprar os porcos por um preço mais baixo, os produtores poderiam vender todos os porcos de forma garantida. Sendo um movimento interessante para todos os envolvidos.
A relação além de benéfica ao empreendedor, também prejudicava os concorrentes, que não teriam matéria prima para comprar nas proximidades da região. Já que os produtores não abriram mão de vendas toda a produção por um preço fixo, para venderem apenas algumas unidades de porcos por um preço levemente maior.
Nesse contexto, ou os concorrentes teriam de recorrer a outros produtores em cidades mais distantes, aumentando seus custos; ou deveriam deixar o mercado.
Desse modo, o italiano dominou o mercado de banha do interior de São Paulo; vencendo os concorrentes de ponta a ponta.
Vendendo banha de porco, Matarazzo conseguiu acumular um capital razoável, que o permitiu abrir seu próprio Armazém em Sorocaba para vender seus produtos.
Anos depois, ele também conseguiu abrir seu primeiro estabelecimento comercial na cidade de São Paulo; um armazém de produtos alimentícios, o Armazém Matarazzo.
Situado no Mercado Velho, na 25 de Março, o armazém representava a possibilidade de um salto na vida do empresário. Bem-sucedido no Interior, na capital o italiano poderia ganhar muito mais dinheiro e ter um sucesso ainda maior.
Em 1890, quando chegou, a capital tinha uma população de cerca de 65 mil pessoas. 10 anos depois, já eram mais de 240 mil pessoas, devido a expansão da indústria cafeeira na região. Representando um enorme mercado consumidor que o empresário poderia conquistar.
Se mudando para São Paulo, Matarazzo delegou o negócio de banhas de porco para seu irmão Andrea, que passou a gerir localmente a fábrica. Anos depois, a fábrica também teria uma unidade em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Pensando mais longe, o empreendedor encontrou uma forma de maximizar o aproveitamento dos porcos que eram comprados pela fábrica; não os utilizando apenas para fazer e vender a banha do animal.
Desse modo, ele passou a utilizar toda a carcaça dos porcos, vendendo tudo aquilo que era possível. A carne era vendida em cortes, ou transformada em embutidos, e os ossos eram usados para produzir botões de camisa. Quase todo o animal era aproveitado e se tornava fonte de renda, atendendo diferentes tipos de cliente.
Em seu Armazém em São Paulo, o empreendedor vendia diversos produtos alimentícios, e rapidamente se tornou a referência comercial junto aos milhares de imigrantes italianos que viviam na cidade.
Naquele momento, a indústria cafeeira foi importantíssima para o crescimento da cidade, e representou a chegada de milhares de imigrantes italianos para a capital paulista; que davam preferência para comprarem e fazerem negócios com outros imigrantes italianos, como o próprio Francesco Matarazzo.
Francesco também ajudou a aumentar esse número. Além dele, anos depois da abertura do Armazém, ele também trouxe dois irmãos da Itália, Luigi e Giuseppe, para poderem juntos aumentarem os negócios com o nome Matarazzo. Surgiu assim a Matarazzo Irmãos, uma sociedade entre os irmãos, que tinha Francesco como maior acionista.
A união dos irmãos permitia a verticalização da produção dos itens que eram vendidos no armazém. Ao invés de comprar de terceiros, quase tudo que era vendido no Armazém era de origem ligada ao próprio empresário e seus irmãos.
Enquanto os negócios dos Matarazzo cresciam, o Brasil começava a adentrar novos rumos.
Anos antes, veio a abolição da Escravatura no Brasil, e depois veio a proclamação da República; O novo cenário político trazia mudanças profundas na dinâmica da economia brasileira. Surgiam novas oportunidades, mas ao mesmo tempo em que novos caminhos apareciam, as antigas fórmulas de sucesso estavam se esgotando.
Nesse meio tempo, os negócios dos irmãos Matarazzo começaram a sentir o peso das mudanças e as dívidas começavam a surgir; ameaçando o futuro dos negócios.
No mesmo tempo, um evento interessante começava a irromper no Brasil: a construção do Porto de Santos.
O porto representava uma esperança de abertura do mercado brasileiro a produtos do exterior, e também poderia representar crescimento e desenvolvimento para a região de Santos e de São Paulo capital.
Nesse cenário de crise nos próprios negócios e do surgimento do porto de Santos, Francesco Matarazzo teve uma ideia aparentemente maluca, e que quase ninguém acreditou: vender farinha de trigo importada do exterior.
A farinha de trigo era a base de vários alimentos no Brasil, mas de modo geral era importada de outros países, como os Estados Unidos.
Para o empreendedor, com a criação do porto de Santos, a atividade de importação da farinha americana diretamente para a região paulista por meio de navios, poderia ser altamente lucrativa, ainda que tivesse seus riscos.
A farinha poderia ser vendida tanto para produtores de alimentos, como para o consumidor final nos estabelecimentos de Matarazzo, como também para distribuidores nacionais de farinha. Apresentando múltiplas possibilidades de ganho e lucro.
Ainda que o raciocínio fosse promissor, os irmãos de Matarazzo não acreditaram na ideia, e ameaçaram romper a sociedade com Francesco; se ele realmente se arriscasse na importação da farinha.
Sem apoio dos sócios, o empresário chegou a tentar empréstimos com bancos e empreendedores de sucesso da região paulista para financiar sua nova ideia, mas também não teve êxito. Ninguém acreditava na ideia.
Porém, sua visão falou mais alto, e o próprio Francesco decidiu tomar uma medida agressiva.
Vendeu as fábricas de banha da família. O que custou a sociedade com os irmãos, que não mais o acompanharam desde então.
Com o dinheiro que recebeu após a venda e o fim da sociedade com os irmãos, Matarazzo investiu todo seu dinheiro na ideia de importar e vender farinha de trigo. Além de estar 100% envolvido com o novo empreendimento, Francesco conseguiu trazer outro irmão para lhe ajudar, Andrea Matarazzo.
Reunidos, os irmãos criaram um novo negócio: a Matarazzo S/A.
A iniciativa começou importando farinha de trigo dos EUA.
A farinha chegava pelo Porto de Santos e a ideia foi um grande sucesso. Rapidamente, a farinha dos Matarazzo conquistou diferentes consumidores no mercado, sendo até mesmo mais barata do que a nacional na região paulista.
O sucesso da importação foi tão grande, que Francesco também importou outros alimentos para o Brasil através de seu negócio; como arroz e outros cereais.
A nova empreitada tornou Francesco Matarazzo imensamente rico, a ponto de o italiano erguer uma Mansão na então recém-inaugurada Avenida Paulista, que mostrava a toda a sociedade paulista a sua riqueza. Apesar de discreto de modo geral, a mansão do italiano era uma prova de que seus negócios eram sólidos e de que o seu nome era sinônimo de sucesso.
Logo, ele se tornou uma referência de sucesso na cidade, não só para os paulistas, mas também para outros milhares de imigrantes italianos, que assim como ele, vieram para o Brasil em busca de oportunidades.
Surfando em um sucesso impressionante, Matarazzo sofreu seu primeiro grande golpe.
Cuba havia se tornado independente da Espanha, e a relação do novo país independente com os EUA fez com que a relação entre americanos e espanhóis estremecesse.
A qualquer momento, uma guerra entre os dois países poderia ocorrer. E em caso da concretização da Guerra, a farinha de trigo americana poderia não ser mais enviada para os importadores do mundo em geral.
Por conta desse cenário, a mera possibilidade de uma guerra fez com que a farinha de trigo começasse a ficar escassa para exportação nos EUA. Logo, com menos oferta de farinha, o preço final do produto importado pelos brasileiros ficava cada vez mais caro.
Como Matarazzo era um dos grandes importadores, a farinha que ele distribuía ficava cada vez mais cara em relação aos demais concorrentes nacionais.
Nesse momento, Matarazzo foi pessoalmente a Argentina, tentar trazer farinha de trigo local para o Brasil, na esperança de conseguir um preço melhor para o consumidor final.
A manobra era arriscada, e o empreendedor seguiu seus instintos, contra o conselho de amigos e outros empresários do ramo. Até então, havia um tratado entre Brasil e EUA para a importação de farinha, que garantia um desconto nos produtos americanos. Diferencial que não existia em relação aos produtos argentinos, já que naquele momento, Brasil e Argentina não tinha laços comerciais estabelecidos no mercado.
Após celebrar um acordo com os argentinos para a compra da farinha de trigo, o preço da farinha argentina se tornou muito mais caro do que o da farinha brasileira, devido aos custos de frete, a época do ano e também devido ao fato do preço da farinha nacional também ter se tornado mais baixo.
Nesse contexto, a empreitada do empresário havia se tornado um grande fracasso.
Para completar, a carga que ele havia encomendado do país portenho, ficou presa durante o transporte ferroviário, devido a um problema no trem que trazia os produtos. Por conta disso, o produto argentino demoraria semanas para chegar. Aumentando o prejuízo do italiano.
Nesse meio tempo, um evento ajudou Matarazzo: a Guerra entre EUA e Espanha se concretizou. Desse modo, não haveria mais farinha americana para ser importada.
Por conta disso, na prática somente Matarazzo teria farinha importada no Brasil, enquanto outros importadores ficariam sem a quem recorrer.
Nesse momento, o empreendedor vislumbrou um novo cenário, e vendeu a farinha argentina por um preço até então inimaginável; pois o preço da farinha de trigo em geral havia disparado. Desse modo, a operação teve um pouco de sorte, e fez com que o empreendedor tivesse grande lucro na operação.
Para completar a virada, somente o italiano detinha a parceria com os argentinos; fato que o faria o único capaz de intermediar a venda de farinha argentina para distribuidores brasileiros. O tornando um dos maiores empresários do ramo, já que ele controlava o fluxo de farinha argentina no Brasil.
Porém, o empreendedor sabia que não poderia ficar refém dos argentinos. E mais cedo ou mais tarde, ele teria que ter um plano B.
A exemplo do que houve no mercado americano, qualquer problema que ocorresse com os Hermanos poderia atingir os seus negócios. Então, Matarazzo teve a ideia de criar sua própria produção de farinha de trigo.
Até então, a maior parte da farinha de trigo ofertada no Brasil era de origem estrangeira. Por conta disso, a farinha chegava ao Brasil com uma qualidade menor, já que era transportada por longos caminhos.
Além disso, boa parte era perdida por estragar devido às más condições de armazenamento, ou mesmo pela demora entre a produção e a venda ao consumidor final. Mas, o empreendedor queria mudar essa realidade.
Assim, ele criaria um moinho em terras nacionais. O moinho ficaria próximo a linhas férreas, e o produto seria ensacado e vendido direto para o mercado nacional; podendo posteriormente ser também exportado pelo Porto de Santos.
Para tanto, ele precisaria importar máquinas modernas da Inglaterra, e a empreitada lhe custaria muito mais do que ele poderia arcar. Por conta disso, o empresário recorreu a investidores ingleses para dar vida ao novo sonho.
Após uma dura negociação, Matarazzo conseguiu o crédito junto aos ingleses, e assim ele deu origem ao seu grande plano. Em 1900, o Moinho Matarazzo localizado na rua Monsenhor Andrade, no bairro do Pari, ficou pronto. A obra durou apenas 10 meses, e mostrou a grande sacada do empresário: produzir no Brasil tudo aquilo que antes era importado.
A produção de farinha de trigo de Matarazzo foi um sucesso. E logo, o empresário vislumbrou outros mercados que poderiam seguir a mesma fórmula.
Se até então algo era importado, significava que havia uma lacuna a ser preenchida na produção nacional.
Com o know-how de industrial adquirido com o Moinho, e com sucessivos empréstimos junto a investidores ingleses, Matarazzo passou a produzir também tecidos, cosméticos, produtos de limpeza e até mesmo criou uma usina metalúrgica.
Com o passar dos anos, ele também criou e adquiriu fábricas de sabão, velas, fósforos, pregos e cerâmicas.
Além disso, ele também se tornou dono de um frigorífico, de uma refinaria de açúcar, uma usina de cal, uma destilaria de álcool e uma fábrica de papel; entre outras empreitadas.
Ao todo, foram mais de 200 fábricas sobre o controle do magnata; consolidando o maior complexo industrial da América Latina.
Posteriormente, o empreendedor se arriscou a ter até mesmo sua própria instituição financeira.
O segredo do sucesso de Matarazzo estava em dois pilares: A substituição de importações, produzindo no Brasil tudo aquilo que antes era obtido somente por meio de importação e a Verticalização Integral da produção; em que o empreendedor era responsável por toda a cadeia produtiva daquilo que fabricava, desde a matéria prima, insumos, até o produto final. Todo o processo era controlado por ele.
Reunidas, as atividades faziam parte de um império que ficou conhecido a partir de 1911 como Indústrias Reunidas – Fábricas Matarazzo, ou IRF Matarazzo. Um complexo que chegou a empregar mais de 30 mil pessoas, com fábricas em São Paulo, Santos e até na Argentina.
O empresário produzia tudo aquilo que a nascente classe média brasileira precisava e suas atividades eram geridas em um prédio no Anhangabaú.
Anos depois, o edifício se tornou a sede do Banco Banespa e atualmente é a sede de da Prefeitura de São Paulo.
Apesar de suas centenas de instalações, Matarazzo visitava pelo menos uma de suas instalações diariamente; hábito que ele manteve mesmo após celebrar 80 anos de vida.
O empreendedor acordava diariamente por volta das 4 da manhã, e trabalhava até a noite, religiosamente.
Com apenas alguns luxos, como sua casa e um carro importado, Matarazzo costumava reinvestir todos os seus lucros em seus próprios negócios. Assim, ele criava novas fábricas e também comprava fábricas que já existiam, entre concorrentes e novos mercados que ele gostaria de integrar ao seu império.
Em 1934, ele revelou ao biógrafo Costa Couto um resumo de seus segredos de sucesso:
“Alguma inteligência, certa capacidade gerencial, muito trabalho e sorte”.
Reunidas as empreitadas de Matarazzo totalizavam na época uma fortuna de 10 bilhões de dólares, em valores da ocasião.
Em determinado momento, Francesco Matarazzo chegou a ser o sexto homem mais rico do mundo, atrás de outras lendas como JP Morgan e John D. Rockefeller.
Além de uma enorme fortuna, o empresário também promoveu ações de caridade e foi importante em sua terra natal.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Matarazzo viajou até a Itália e ajudou a abastecer diversas vilas e cidades locais, através de suas doações. Por lá, o Conde permaneceu durante os anos de 1914 e 1918, enquanto durou o conflito.
A atitude fez com que ele recebesse do Rei italiano Vitório Emanuelle, os títulos de Comendador e, anos depois de Conde.
O Conde Matarazzo, como ficou conhecido, foi homenageado diversas vezes por autoridades da Itália e do Brasil. Além disso, o empresário se tornou uma espécie de celebridade e ícone nos dois países.
Apesar da crescente admiração pela figura do Conde e sua sorte e sucesso nos negócios, Matarazzo sofreu aquele que foi talvez o golpe mais duro de sua vida, no começo da década de 20.
Ermelino Matarazzo, seu filho preferido, segundo mais velho, e provável sucessor, faleceu em um acidente de carro enquanto passava férias na cidade de Turim, na Itália.
Pai de 13 filhos, Francesco tinha adoração por Ermelino, e jamais superou a perda do herdeiro. Há relatos de que ele até incentivou financeiramente seus filhos a colocarem o nome Ermelino em seus netos.
Porém, ainda que sofresse em sua vida pessoal, nos negócios Matarazzo continuava firme.
No mesmo ano da tragédia, ele adquiriu um terreno de 100 mil metros quadrados no bairro Águia Branca, em São Paulo, para concentrar várias de seus fábricas em um só lugar; um de seus grandes sonhos até então.
Na mesma década, o seu império ainda adquiriu uma indústria química, frigoríficos, uma destilaria e até mesmo uma distribuidora cinematográfica, um mercado extremamente novo no país.
A robustez e a solidez do Império de Matarazzo fez com que o empreendedor passasse praticamente ileso pela Grande Depressão em 1929.
Enquanto a indústria cafeeira perdeu 40% de suas exportações, o empresário continuou apostando no mercado nacional. Na mesma época, vários concorrentes enfrentavam prejuízos durante a crise, e acabaram sendo comprados pelo magnata italiano.
Na década de 30, Matarazzo teve ligações com políticos paulistas, mas preferiu não se envolver nas questões nacionais, para não prejudicar seus negócios. Nem mesmo durante o começo da Era Vargas, quando o estado de São Paulo se revoltou contra o presidente.
Apesar de seu sucesso, admiração e gratidão pelo Brasil, Francesco Matarazzo nunca se naturalizou brasileiro, assim como não teve participação na política nacional. Porém, há relatos históricos de que ele manteve relações com um movimento que irrompia em seu país natal, liderado pelo futuro ditador Benito Mussolini. A relação atestada por alguns historiadores, seria a única mácula em sua biografia. Apesar disso, o Conde não testemunhou os piores anos do ditador na Itália, pois ficou doente anos antes e faleceu antes da 2ª guerra mundial.
De todo modo, Matarazzo foi se retirando pouco a pouco dos negócios, e teve uma velhice com vários problemas de saúde.
Por conta disso, ele escolheu pessoalmente seu sucessor no final de sua vida, e preparou a sua sucessão durante alguns anos.
Após a morte de seu filho mais velho, Ermelino, o patriarca escolheu seu filho mais novo, Chiquinho, para tomar conta de seus negócios. A decisão foi contestada pelos demais herdeiros, até mesmo depois da morte do empresário.
Até o final de sua vida, Matarazzo treinou seu filho para assumir seus negócios, e tentou convencer seus filhos a aceitarem sua decisão. Apesar das críticas, o magnata confirmou seu desejo em seu testamento.
Aos 82 anos, ele faleceu por insuficiência renal em 10 de fevereiro de 1937.
O funeral do empresário levou cerca de 100 mil pessoas às ruas na cidade de São Paulo.
No momento de sua morte, Matarazzo era o italiano mais rico do mundo, e o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em 20 bilhões de dólares.
Após seu falecimento, Chiquinho Matarazzo manteve-se a frente dos negócios da IRFM por quatro décadas, sendo por muitos anos o maior empresário da América Latina.
Porém, a partir de 1969 as empresas tiveram o primeiro balanço negativo de sua história. Em 1977, o comando foi passado para Maria Pia, a neta mais jovem do patriarca. Após diversos esforços, em 1983 várias empresas da família entraram em concordata.
Para completar, o império sofreu com processos trabalhistas, disputas familiares e sucessivos prejuízos e foi pouco a pouco se dissolvendo.
Enquanto Francesco Matarazzo vendeu apenas uma de suas fábricas, a de produção de fósforos, pois não conseguiu integrá-la aos seus negócios, mesmo sendo lucrativa; os herdeiros tiveram que vender quase todas as fábricas do Magnata.
Nem mesmo a mansão da família resistiu ao fim do Império; quando foi destruída por uma tempestade em 1996.
Hoje, restam algumas fábricas que tiveram origem no Império da marca, como o Sabonete Francis que é de um dos herdeiros do empreendedor.
Apesar do fim do império empresarial, os herdeiros de Matarazzo continuam a ocupar posições de influência na sociedade brasileira, e entre eles está o Ex-Senador e Vereador por São Paulo, Eduardo Matarazzo Suplicy, que é bisneto de Francesco.
A incrível trajetória de Francesco Matarazzo é mais uma história de sucesso que merece ser contada em nosso canal e foi um pedido de nossos inscritos Warley Marcio Silva, Luis Fernando TV Net, Roger Kieling, A arte do Tijoleiro, Rodrygo Arley, Gomes, Jimmy Felipe, Silvio Maciel, Alan Santos e Samuel Teixeira.
Lembrando que estamos produzindo diversos conteúdos sobre empreendedorismo….
Fontes de apoio: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/biografia-francesco-matarazzo-empresario-fabrica-capitalismo-fascismo-italia.phtml
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