Um dos mais célebres empreendedores do mundo digital, John McAfee foi um pioneiro que mudou para sempre a indústria de computadores, mas ao mesmo tempo, viveu uma história cercada de mistério, que colocar a pergunta: teria sido ele um gênio ou um maluco?
Falecido no último dia 23, o americano morreu em circunstâncias ainda pouco explicadas, e seu falecimento passou a gerar uma série de teorias, além das várias que já existiam em torno de seu nome.
O americano, nasceu em 18 de Setembro de 1945, e viveu uma vida entre picos de genialidade e o abuso de substâncias ilícitas.
Criado em um lar abusivo, John desde a adolescência se envolveu com drogas, mas ainda assim conseguiu se formar com louvor em Matemática aos 22 anos. Anos antes, ele aplicava pequenos golpes prometendo a assinatura de revistas.
Pouco tempo depois, ele começou a trabalhar como programar para uma divisão especial da NASA em Nova York, onde ficou por dois anos. Depois trabalhou como arquiteto de softwares em empresas de tecnologia, entre elas a Xerox; e também chegou a trabalhar alguns anos como professor universitário.
Considerado um funcionário brilhante, McAfee perdia oportunidades na vida quase que ao mesmo tempo que conseguia. Enquanto foi professor, ele cursava um PhD na mesma universidade em que dava aulas.
Mas, perdeu o emprego e a bolsa de estudos depois que foi descoberto que ele tinha envolvimentos amorosos com várias alunas.
Em outra faculdade, ele também foi demitido por vender substâncias para os alunos.
Além de vender, ele também era usuário, e aos 38 anos, foi internado em uma clínica de reabilitação, depois que foi encontrado na rua em meio a uma série de alucinações.
Sóbrio, ele começou a trabalhar na Lockheed, uma empresa de softwares que se deparou com um problema que afetaria toda a indústria de computadores na época.
Em 1980, dois irmãos paquistaneses conseguiram codificar o primeiro vírus de computador, chamado Brain. Uma ameaça que colocava em xeque a indústria de computadores.
A Lockheed conseguiu uma cópia do Brain e forneceu para que seus programadores tentassem encontrar uma maneira de solucionar ou evitar que ele infectasse os computadores em geral.
Nesse contexto, John McAfee levou uma cópia para casa, e em apenas um dia conseguiu criar sua própria solução, que mais tarde seria conhecido como antivírus, em 1987.
A solução é considerada uma das primeiras do mundo, mas ainda há dúvidas sobre quem foi o criador da primeira, já que vários programadores de todo o mundo alegam terem conseguido resolver o problema antes dos demais.
Porém, o grande acerto de Mcafee não foi apenas a sua invenção, mas a maneira como ele conseguiu vende-la para o mundo.
Apesar de ter fornecido gratuitamente as primeiras cópias de sua solução, dois anos depois ele deixou o emprego; e em sua residência, na cidade de Santa Clara, na Califórnia, ele fundou a McAfee Associates, a empresa de softwares que criaria o primeiro antivírus comercial do planeta, que receberia também o nome de seu criador.
A ideia de comercializar a solução veio depois do grande ‘’boca a boca’’ que tornou seu nome conhecido, graças as primeiras cópias que ele instalou para amigos e conhecidos.
O feedback validava a sua solução e mostrava que ele poderia criar um negócio a partir da invenção, e foi o que ele fez; mirando inicialmente as empresas que se sentiam amedrontadas pelas possíveis consequências de um vírus de computador.
O retorno foi tão positivo, que meses depois a solução já estava nos computadores das maiores empresas dos EUA.
De acordo com a Forbes, em 1991, todas as 100 maiores empresas da América utilizavam o antivírus McAfee em seus computadores. Um sucesso absoluto.
Cada empresa pagava uma pequena taxa de licenciamento para a empresa, que na época tinha faturamento anual em torno de 5 milhões de dólares. A licença era paga de forma periódica o que garantia uma receita recorrente para a companhia e uma previsibilidade importante para o negócio, que fidelizava uma série de clientes que se mantinham por um longo período com a empresa.
O sucesso trouxe os holofotes para a figura de John McAfee que se tornou uma figura pública, com grande influência na mídia em geral. E em uma de suas entrevistas, o empresário afirmou que cerca de 5 milhões de computadores poderiam ser prejudicados por conta de uma ameaça chamada de Michelangelo.
A notícia fez com que o antivírus estourasse em vendas nos meses seguintes, mas pouco tempo depois, apenas cerca de 10 mil máquinas foram prejudicadas.
Coincidentemente, no mesmo ano, a empresa abriu seu capital e já acumulava a valorização de 80 milhões de dólares.
Dois anos depois, o valor da empresa já tinha se multiplicado, assim como sua estrutura, que já contava com vários funcionários e acionistas.
Contudo, mesmo diante do sucesso, John McAfee oficialmente decidiu se desligar da empresa, e em 1996 vendeu todas as suas ações por cerca de 100 milhões de dólares.
Milionário, o empresário passou a ser visto frequentemente vivendo uma vida ostentação com carros caros e propriedades luxuosas. Enquanto isso, a McAfee continuou crescendo e se consolidando como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo.
Em paralelo, John foi conselheiro e investidor de algumas empresas de tecnologia até o início dos anos 2000.
Porém, foi a partir de 2009 que sua vida começou a mudar radicalmente, quando ele vendeu todas as suas propriedades, carros e até seu jato particular, e se mudou para Belize, um país pobre e extremamente violento na América Central.
MUDANÇA DE VIDA – VIDA EM BELIZE
Por lá, ele passou a viver em uma área de floresta, inicialmente sem acesso à internet. Segundo ele, um dos motivos de não usar a internet, é que por ter sido o criador do primeiro antivírus comercial do mundo, ele também se tornou a vítima preferencial de hackers de todo o planeta. Chegando a ter de trocar o IP do próprio computador várias vezes ao dia.
Além da nova moradia, John se relacionou com uma microbiologista, que o convenceu de que se ele já havia criado uma solução para ameaças à saúde do mundo virtual, ele também poderia criar soluções para ameaças a saúde de pessoas reais. E assim, o empresário criou um laboratório no local que funciona até hoje.
Enquanto tocava a nova empreitada, ele manteve uma rotina de abusos de álcool e drogas e começou a ter relações pouco explicadas com moradores e gangues da região.
Além de se envolver amorosamente com menores de idade, ele também fez amizades com policiais locais e lideranças comunitárias; que passaram a receber presentes e até armamento pagos pelo milionário.
Há também relatos de que ele presenteava jovens que o prometiam que deixariam a criminalidade.
Fatos que tornaram uma espécie de figurar popular nas ruas do país, chamando a atenção de documentaristas do mundo todo.
A nova vida também aparentemente cobrou um alto preço, já que segundo a Forbes, sua fortuna em 2009 tinha diminuído para apenas 4 milhões de dólares.
E enquanto a fortuna do criador diminuía, a McAfee foi vendida em 2010 para a Intel por 7.7 bilhões de dólares.
CRIMES E ACUSAÇÕES EM VÁRIOS PAÍSES
E a jornada do empresário tomou contornos ainda mais nebulosos quando ele foi preso pelas autoridades de Belize em 2012, por porte ilegal de armas e fabricação de medicamentos sem autorização.
Solto, ele foi preso meses depois na Guatemala, suspeito de ter assassinato um vizinho, que foi encontrado morto em sua própria residência. Mas, ele também foi solto e alegou sua inocência até os últimos dias de vida.
Durante as investigações, ele se recusou a responder uma série de perguntas, pois segundo ele, ele estava sendo perseguido. O fato fez com que o primeiro ministro de Belize afirmasse que McAfee tinha problemas psicológicos.
Ao mesmo tempo, a situação do milionário em Belize alimentou uma série de teorias de que na verdade, ele tinha se tornado um grande fabricante e traficante de drogas na região, e uma espécie de Pablo Escobar local. Fato que nunca foi confirmado.
Para completar, quando voltou a Internet, ele criou um blog, onde alimentava teorias a seu respeito.
Além dos problemas com a polícia, John também criou um mal estar até mesmo com sua antiga empresa, ao gravar um vídeo em que ensinava os usuários a desinstalarem o antivírus McAfee; que segundo ele, era um péssimo produto.
E em 2014, quando a Intel decidiu mudar o nome do produto para Intel Security, ele agradeceu por não ter mais seu sobrenome associado à empresa.
Ainda assim, em 2016, a divisão foi vendida e voltou a ser chamada de McAfee; mas nem de longe com o mesmo brilho que tinha anteriormente.
No ano anterior, John McAfee se lançou como pré-candidato à presidência dos EUA, pelo partido Libertário, mesmo não sendo residente do país. Mas, a candidatura não avançou. Três anos depois, diretamente de Cuba, ele repetiu o anúncio, e dizia que estava em exílio, já que estava sendo perseguido pelas autoridades americanas.
Ele também se tornou um dos defensores do movimento libertário. E assumiu publicamente que não tinha recolhido impostos por 8 anos.
Além da política, o empresário se envolveu com o mercado de criptomoedas, se tornado um propagandista das moedas, e uma espécie de guru do mercado. Em algumas entrevistas, ele até alegou que sabia quem era Satochi Nakamoto, o suposto criador do Bitcoin; e que poderia revelar a sua identidade em algum momento.
Em 2019, ele foi novamente preso por porte ilegal de armas na República Dominicana, alegando estar sendo perseguido pela CIA. E novamente foi solto.
SONEGAÇÃO FISCAL E PUMP AND DUMP
Porém, em 2020 ele foi novamente preso, dessa vez na Espanha, quando estava em viagem, sob a acusação de ter violado as regras da autoridade reguladora do mercado de capitais norte-americano, ao promover algumas criptomoedas em seu Twitter, vendendo-as com um lucro de cerca de 23 milhões de dólares.
Segundo a SEC, McAfee não recolheu impostos sobre ganho de capital durante vários anos e também praticou o crime de ‘’pump and dump’’, ao promover a alta da moeda e vende-la antes da queda. Além disso, ele também teria sido patrocinado por uma das empresas para realizar tal ato; e se envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro.
A acusação lhe rendeu meses em uma cela espanhola. Em seus últimos dias de vida, John McAfee foi informado de que seria extraditado para os EUA, onde poderia ser sentenciado a 30 anos de cadeia. Horas depois da decisão, o empresário foi encontrado morto em sua cela; e aparentemente teria tirado sua própria vida.
Por conta dos eventos que aconteceram nos últimos anos, a morte de McAfee alimentou ainda mais uma série de teorias.
Para muitos, o pioneiro foi um símbolo não só como empresário da tecnologia, mas também como um grande libertário que lutou bravamente contra o Leviatã.
Além de promotor das criptomoedas, John era um crítico do sistema tributário americano e alegava que as cobranças eram injustas.
Na opinião de outros, McAfee era apenas um criminoso serial que realizava atividades ilegais em todo o lugar que podia.
E para outros, ele na verdade, era mentalmente perturbado, a ponto de acreditar em suas próprias alucinações; situação que foi desencadeada pelo uso excessivo de drogas.
De toda forma, John McAfee deixou para sempre seu nome da história como um dos empreendedores mais notáveis da modernidade. E, o questionamento continua. Teria sido ele um gênio ou um louco?
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