Conheça a História da Samsung
Uma das maiores empresas do planeta, a Samsung é responsável por produtos que fazem parte da vida de milhões de pessoas e que tem a inovação em seu DNA.
E o que hoje é um colosso começou de uma maneira bem diferente. Mas, ao contrário de muitas empresas que contaram exclusivamente com o brilhantismo de seus fundadores, a Samsung é um caso de uma amálgama entre o setor público e o privado.
Nascida na Coréia do Sul, a empresa se tornou mais do que uma corporação e passou a ser uma espécie de representação de uma nação que enfrentou guerras, dificuldades e conseguiu prosperar através do incentivo à inovação e ao empreendedorismo.
Por conta disso, a história recente do país se confunde com a da empresa que surgiu em 1938, a partir do sonho de Byung Chull Lee, que criou um negócio para atuar em uma área totalmente diferente do que a empresa atua hoje: a venda de alimentos.
Então com 28 anos, Lee era descendente de uma família rica, e já havia sido dono de algumas plantações de arroz, quando decidiu criar uma empresa de importação e exportação de alimentos que comercializava alimentos desidratados e macarrão. Surgia assim a Samsung Trading Company na cidade de Daegu.
O nome é uma a junção da palavra Sam que significa três e Sung que é estrela, ambas em coreano. E o número três é visto como sinal de grandeza e força no país. E as três estrelas foram parte do logotipo da empresa até 1993.
O negócio surgia em uma Coréia ainda unificada, mas totalmente carente e com pouquíssima infraestrutura, que tentava se livrar de anos de dominação japonesa, que havia transformado o país em um protetorado nipônico, limitando o crescimento da região que se tornava praticamente uma colônia.
Na prática, os coreanos haviam retomado o controle do país, mas ainda havia um impasse jurídico e diplomático que só seria resolvido anos depois, com o fim da 2ª Guerra Mundial.
Nos anos anteriores, a Coreia havia se aproximado intensamente dos EUA, que se tornaram grandes parceiros não apenas na libertação do país, mas também no fomento do país asiático e da sua economia.
Com o incentivo dos EUA, a Coreia estava no mapa do comércio mundial, o que abriu espaço para o crescimento de negócios locais. Especialmente aqueles que conseguiam aproveitar o fluxo de entrada e saída de produtos do país. Setor que Byung Lee passou a atuar através da Samsung, tendo os seus principais clientes na China e na Manchúria.
A empresa que começou pequena, surfou em uma onda de grande crescimento nos primeiros anos, especialmente pelo tímido enriquecimento da população coreana, e também pela alta demanda de compradores internacionais.
Dessa forma, nos primeiros dez anos, o negócio já se tornou um dos maiores do país, intermediando a venda de produtos e também apostando no controle total das operações, quando passou a contar também com seus próprios moinhos e fábricas.
Estrutura que ampliou o leque de produtos da companhia, que passou a vender também tecidos, farinha, açúcar e algodão. E que também fez com que a empresa mudasse sua sede para a capital Seoul; contando com diferentes operações em várias cidades coreanas.
Porém, a prosperidade da empresa e da própria Coréia foi extremamente abalada pelo desenrolar da nova definição geopolítica da região, em razão dos tratados que foram celebrados após a Segunda Guerra Mundial; o que fez com que o Norte do país passasse a ser de controle provisório da União Soviética e o Sul sob o controle provisório dos EUA.
SEPARAÇÃO DA KOREA – GUERRA DA KOREA
Inicialmente, a ideia era assegurar que a Coréia pudesse garantir sua independência e não sofresse qualquer tentativa futura de dominação dos japoneses. O que culminaria na posterior unificação do país.
Porém, a União Soviética não aceitou promover a reunificação em 1947, e assim foi oficializada a divisão da Coréia com a fundação da República da Coréia, que se tornou mundialmente conhecida como Coréia do Sul; e a República Democrática Popular da Coréia, conhecida como Coreia do Norte.
O movimento por si só abalava a economia local, e impactava severamente o negócio da Samsung; e para completar o Norte decidiu invadir o Sul e realizar a unificação do país em torno de um único país comunista, sob o comando do governante Kim Il Sung, avô de Kim Johg Un.
Dessa forma, em 1950, deu-se início à Guerra da Coréia, que colocou os dois lados um contra o outro, com o Norte sendo apoiado pela União Soviética e a China, e o Sul com suporte dos EUA; em uma briga que durou 3 anos, não teve vencedor e que consolidou a separação em dois países independentes; que continuaram com tensões nas décadas seguintes.
A guerra destruiu mais da metade das instalações fabris da Coréia do Sul e seriam necessários anos para reestabelecer a capacidade produtiva do país.
Por conta do conflito, os negócios da Samsung foram extremamente impactos e conseguiram sobreviver graças a grande diversificação que possuía. Principalmente, pois parte das atividades foram deslocadas para a cidade de Busan, onde os negócios agrícolas mantiveram a saúde do negócio; ainda que os negócios na capital Seoul tenham praticamente acabado.
A CONSOLIDAÇÃO DA COREIA DO SUL E A SAMSUNG
Mesmo assim, a empresa se tornou muito menor do que era anos antes, e havia também perdido várias de suas operações que estavam no Norte.
Dessa forma, a Samsung colocou em prática uma filosofia que esteve presente em toda a sua trajetória: a capacidade de se reinventar constantemente.
Com a consolidação da Coreia do Sul, o novo estado passou a contar com apoio intenso dos EUA, que fomentaram na região um sistema capitalista inicialmente baseado na agricultura e na exportação. Política que foi impulsionada por um projeto semelhante ao Plano Marshall na Europa, que injetou mais de 3 bilhões de dólares no país asiático durante a década de 50.
Mas, esse apoio também instituiu um governo autoritário e controlador que passou a ditar as regras na economia, com forte apoio às principais empresas do país, dentre elas a Samsung.
A política coreana possibilitou ao mesmo tempo o crescimento do país e de algumas importantes empresas nacionais, algo semelhante com a tentativa que foi feita pelo Governo Brasileiro no início dos anos 2010, com a criação dos chamados Campeões Nacionais.
Nesse contexto, o próprio fundador da empresa, Byung Lee, se tornou intimamente relacionado com os governantes coreanos. Fato que se manteve pelas décadas seguintes, mesmo depois de várias trocas de poder e golpes de estado.
O magnata sempre esteve próximo do governante da vez. E o Governo local sempre foi um grande parceiro da empresa. O que faz com que a Samsung constituísse uma espécie de amálgama junto ao Estado Coreano.
E após a Guerra, a empresa começou a investir em novas áreas, não só para recuperar o antigo sucesso, mas também para ser uma espécie de ‘’longa manus’’ do Governo, fomentando setores importantes na infraestrutura coreana.
A partir dali a empresa começou a atuar na construção de refinarias, na venda de fertilizantes e até no mercado financeiro através da venda de seguros de vida.
Outra atividade importantíssima foi a exportação de sucatas de ferro, que se tornou possível graças a concessão governamental que deu a Samsung o direito de aproveitar os rastos deixados pela guerra, que incluíam até mesmo os restos dos equipamentos bélicos que ficaram espalhados pelo país.
Em paralelo, a empresa também pegava dinheiro emprestado e comprava as fábricas que haviam sido parcialmente destruídas ou abandonadas. As reconstruindo e vendendo com grande lucro.
E foi a partir de 1969 que a empresa também passou a atuar no setor de eletrônicos, que faria dela mundialmente conhecida. Primeiramente com a fabricação de televisores em preto e branco, que oficializava a linha de eletrodomésticos da companhia.
Os eletrodomésticos tinham um papel múltiplo. Primeiro, a fabricação deles contava com subsídio do Governo, que reduziu os impostos pela metade para as fabricantes nacionais; o que os fazia custar menos para os lares coreanos. E mais barato que os importados. Ao mesmo tempo, eles estimulavam a indústria nacional, com a consequente geração de empregos.
Conjuntamente, com o passar dos anos, os produtos da empresa se tornavam cada vez melhores, e apresentavam uma linha cada vez maior, que contava com geladeiras, máquinas de lavar e fornos micro-ondas. E os eletrônicos logo seriam também exportados para outros países, começando pelo Panamá.
Mas, o setor que mais tarde faria da empresa mundialmente conhecida, não foi sua a única empreitada que a companhia estava desenvolvendo.
Em paralelo, a Samsung também começou a realizar uma ousada estratégia de alavancagem que permitiu que ela aumentasse cada vez mais os seus ramos de atuação, e também o seu crescimento.
Curiosamente, a empresa utilizava simultaneamente o capital emprestado tanto pelo governo, quanto por bancos privados. E como o governo lhe dava condições extremamente favoráveis, em pouco tempo ela passou a encorpar seu braço financeiro, de forma que anos depois ela passou a comprar alguns dos principais bancos do país; que ironicamente emprestavam dinheiro para a empresa anos antes.
Na mesma época, a Samsung voltou a investir fortemente no setor de exportação, o que fez com que a empresa se tornasse a maior exportadora da Coreia; comercializando diferentes produtos mundo afora. Estrutura que foi viabilizada graças a uma facilitação proporcionada pelo Governo local.
E o império não parava por aí. Já que a corporação avançou também para a produção de equipamentos para engenharia, indústria e também entrou com tudo no ramo químico e petroquímico; e até desenvolvendo também equipamentos para aviação.
Entretanto, com as crises petrolíferas a partir dos anos 70, a Samsung entendeu que precisava ingressar em outros mercados crescentes, de forma a dominar mercados que estavam nascendo de acordo com o desenvolvimento do planeta.
Foi a partir dessa visão que a corporação entrou com tudo no mercado de semicondutores, atividade que estava em franca expansão no Japão e nos EUA; e que aos poucos se tornou um dos carros chefes da empresa; o que abriu as portas para o mercado de alta tecnologia; que evoluiu para a fabricação de chips e discos de armazenamento, que fizeram da Samsung a maior fabricante do gênero em todo o mundo, décadas depois.
O ingresso na indústria da informática era o alicerce para que a empresa deixasse de ser uma gigante nacional para se tornar um colosso global; mas outras mudanças estariam por vir.
Em 1987, o fundador da empresa, Byung Chum Lee faleceu aos 77 anos dando lugar ao seu filho, Kun-Hee Lee.
SEGUNDA FUNDAÇÃO DA SAMSUNG
Sob seu comando, foi declarada a segunda fundação da empresa em 1988.
Um movimento essencial que literalmente descolou a Samsung do passado e a transformou em uma empresa majoritariamente de tecnologia; aproveitando um mercado nascente e altamente lucrativo, que proporcionou o dobro de crescimento anual para a empresa nos anos seguintes.
Em resumo, a segunda fundação significava que o Grupo Samsung existente até então se subdividiria em 5 empresas diferentes, e apenas uma delas manteria o nome original; atuando majoritariamente no setor de alta tecnologia; como acontece até hoje.
Na prática, significava a atuação nas áreas de eletrônicos, engenharia e química. Mantendo também o braço financeiro que se manteve nacionalmente.
Na mesma época, a empresa também lançou seu primeiro telefone celular.
Dessa forma, a Samsung se popularizou como uma empresa de tecnologia que conseguiu conquistar aos poucos o mercado internacional, lidando com bastante preconceito; já que inicialmente, por ser coreana, era apontada como uma empresa de segundo escalão.
Contudo, a empresa continuou aprimorando constantemente o seu parque tecnológico com a aquisição de uma linha de robôs produtivos de última geração, e seguiu nos anos seguintes sob uma altíssima exigência de qualidade e um enorme investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Ilustrando essa alta exigência, é descrito que no início dos anos 90, o presidente Kun Hee Lee queimou um lote de eletrônicos da empresa na frente de seus empregados, alegando que a qualidade era muito baixa. E que era necessário que eles mudassem tudo, menos suas esposas e crianças.
De toda forma, em 2006, a Samsung se tornou a maior fabricante de televisores em todo o mundo, ultrapassando a Sony. E hoje conta com uma linha completa de eletrodomésticos vendidos em todo o mundo, que são líderes de seus seguimentos. Mostrando que os esforços deram resultado.
Da mesma maneira, no mercado de celulares, a Samsung também conseguiu ganhar protagonismo.
Primeiro com uma linha de telefones que consolidou a marca coreana no mercado a partir dos anos 2000. E desde 2009, a empresa entrou com tudo no mercado de Smartphones, aliando seu know how já existente na alta tecnologia; criando produtos inovadores e que passaram a ser tendência no mercado. Dessa forma, em 2012, ela se tornou a maior fabricante de celulares do planeta; título obtido graças ao sucesso da tecnológica linha Galaxy, que se tornou o principal rival do Iphone.
Por conta disso, a marca se tornou uma referência mundial no mercado e atualmente alterna a liderança com a Apple, duelando também com as chinesas Xiaomi e Huawei.
E hoje, a Samsung é uma das maiores fabricantes de eletrônicos do planeta, com produtos de A a Z que fazem parte da vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
Além dos eletrodomésticos e eletrônicos, a coreana produz equipamentos de alta tecnologia para engenharia, química, comunicações, aviação e até navios; através de uma gama de diferentes subsidiárias com atuação mundial.
Fato que conferiu faturamento de 1.4 trilhão de dólares para a empresa em 2020, representando mais de 20 por cento do Produto Interno Bruto da Coreia do Sul.
Infelizmente, também em 2020, a marca se despediu de seu presidente, Kun Hee Lee, que faleceu aos 78 anos. Ele foi o responsável por transformar a marca em colosso global. Mas apesar de seu brilhantismo, também se envolveu com polêmicas e foi condenado a três anos de prisão por corrupção em seu país.
De toda forma, a Samsung é uma gigante que não para de crescer de criar enormes inovações. E se depender de seu histórico, a empresa vai continuar se reinventando e se tornando cada vez maior a cada novo capítulo.
E por conta de todos os seus feitos, a história da Samsung, é mais uma história de sucesso que merece ser contada em nosso canal.
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