Flávio Augusto da Silva é um dos maiores empreendedores do Brasil.
Ele se tornou extremamente conhecido no país depois que criou o Geração de Valor em 2011, quando ele passou a compartilhar ensinamentos através da internet. Dois anos depois, ele vendeu a WiseUP, rede de escolas de inglês que ele fundou em 1995, por 500 milhões de dólares. Na época, a moeda americana estava cotada a menos de 2 reais.
Após a venda, Flávio continuou empreendendo e criou o portal Meusucesso.com e comprou e remodelou o Orlando City Soccer, time de futebol nos EUA. Além disso, ele investiu em alguns outros negócios.
Porém, enquanto ele se dedicava a outras atividades, a WiseUP sofreu todo tipo de pressão.
Primeiro, a empresa foi comprada pelo Grupo Abril Educação, cujo presidente, o Sr. Roberto Civita, faleceu no mesmo ano do negócio. A morte do mandatário fez com que os negócios do Grupo entrassem em um limbo; o que causou confusão na gestão de todos os negócios em seu guarda-chuva, deixando-os praticamente à deriva; e com pouco ou nenhum comando.
Alguns meses depois, a Wise Up foi vendida novamente, já que o Grupo passou por uma reestruturação e se desfez do braço educacional.
Nesse meio tempo, a empresa ganhou uma nova configuração. Novos executivos, novos métodos e até uma nova sede.
Para completar, nesse meio tempo, o Brasil entrou em uma das maiores crises de sua história, o que causou grande desemprego e inadimplência geral.
Resultado de todos estes fatores? A WiseUP entrou em crise e passou a operar no vermelho. Mensalmente, milhões de reais eram perdidos. E, sem saída, boa parte dos franqueados fechou as portas.
RECOMPRA DA WISE UP
Para completar, a inadimplência chegava a bater 50 por cento em algumas escolas. Ou seja, metade dos alunos não pagava a mensalidade. O que fazia um rombo no caixa das escolas.
Em meio ao caos nacional, uma notícia surpreendente: Flávio recompra a Wise Up em Dezembro de 2015 por cerca de 300 milhões de reais. Ou 80 milhões de dólares, na cotação daquele momento; que encostava nos 4 reais.
Para alguns, Flávio tinha realizado uma tacada de mestre.
Vendeu a empresa em 2013 por 500 milhões de dólares, com o dólar a menos de dois reais. E a recomprou dois anos depois, por uma fração do preço, com o dólar valendo mais do que o dobro.
Porém, para a maioria das pessoas, Flávio estava fazendo uma enorme Loucura.
Vale lembrar que o empresário vive atualmente nos EUA, e já declarou que grande parte de seu capital está aplicado em títulos do tesouro americano. Ou seja, um dos investimentos mais seguros do mundo, e em dólar.
E a situação da WiseUP era periclitante.
Segundo o próprio Flávio, o primeiro contato foi assustador.
Primeiro, a folha de pagamento havia sido multiplicada. Além de vários novos funcionários, a empresa passou a contar com um grupo de executivos muito bem remunerados; e com salário praticamente fixo; sem ganho atrelado ao resultado.
A Sede foi transferida de Curitiba para prédios imponentes em cidades como Rio e São Paulo, que oneravam muito mais a folha da empresa.
Além disso, a empresa estava burocrática, com muitos cargos e muitos processos que tornavam muito lentas as decisões do dia a dia. E, o pior, muito caras. O que afetava toda a operação.
Em cada uma das escolas, houve uma série de mudanças ditadas pela matriz, que iam até mesmo as formas de cobrança dos inadimplentes; que limitavam muito a ação dos franqueados.
E por fim, o departamento de Marketing, antiga joia da empresa, foi terceirizado, e agora era de responsabilidade de profissionais de fora.
Com esses novos ingredientes a WiseUp passou de uma empresa lucrativa para um negócio em vias de acabar. Desde a venda, cerca de 20 por cento das escolas tinham fechado. E o prejuízo mensal estava batendo os 8 milhões de reais. E tudo isso, em menos de dois anos.
Foi nesse momento que Flávio arregaçou as mangas e começou a implementar as mudanças necessárias.
O pontapé foi logo na primeira semana de 2016 em uma reunião com os fraqueados. Enquanto a maioria das pessoas acredita que o ano só começa depois das férias de Janeiro ou do Carnaval; o bilionário já estava com toda a equipe planejando a rota de saída.
Na ocasião, Flávio usou uma metáfora.
Ele estava dentro de um helicóptero sobrevoando um transatlântico afundando. Mas, ao invés de tirar os ocupantes de dentro da embarcação; ele desceu e passou a fazer parte da tripulação para consertar o navio e coloca-lo nos rumos novamente.
TURN AROUND
E foi exatamente o que ele fez.
Além do dinheiro da compra, ele investiu alguns milhões de reais na empresa.
Primeiro para tampar os buracos recorrentes, frutos do prejuízo mensal. Depois para literalmente recompor a empresa e deixa-la com a cara antiga.
Para tanto, a diretoria foi demitida e os antigos diretores foram recontratados; entre eles, alguns membros da confiança do próprio Flávio, que o acompanharam em outras empreitadas. Pessoas que conheciam profundamente a empresa, praticamente desde a fundação.
A antiga sede da empresa, em Curitiba, no Paraná, também foi reativada, e as novas locações tiveram seus contratos de aluguel encerrados; uma vez que estar na capital paranaense era mais barato e interessante para a equipe e para a empresa, que cortavam muitos custos; inclusive com o imóvel.
Além disso, o departamento de Marketing foi recriado, e os contratos com as empresas terceirizadas foram desfeitos. A partir dali a Wise Up voltava a produzir suas próprias peças publicitárias. Uma das primeiras campanhas foi um comercial com os atores Fernanda Lima e João Vicente; que estreou em um intervalo do Fantástico; e ressaltava as oportunidades que uma pessoa perde por não falar inglês.
Por fim, a empresa reestabeleceu o antigo método de cobrança e pagamento, que voltava com o clássico cheque de pagamento; que havia sido abolido pela gestão anterior. Apesar de ser considerado antiquado, o uso do cheque permitia um método mais ágil de cobrança e aumentava a taxa de pagamento.
Para completar, o antigo departamento de cobranças da empresa também foi reestabelecido, para ajudar os franqueados a cobrarem dos alunos inadimplentes, e também para evitar os processos judiciais, que ao final oneram a empresa e criam ônus também para o fraqueado.
Resultado: em poucos meses, a inadimplência voltava para a casa de um dígito.
Por fim, o sistema de franquias foi suspenso, e por um tempo indeterminado, a WiseUp focaria apenas naqueles que já eram seus franqueados; para literalmente colocar o barco em movimento novamente.
Depois de arrumar a casa e reestabelecer os elementos que ajudaram o negócio nos anos anteriores, estava na hora de introduzir novidades; já que seria necessário fazer mais, não só para acompanhar o mercado; mas também para ser uma referência novamente.
Foi nesse ponto que Flávio dedicou um grande carinho e usou da expertise que acumulou nos anos anteriores e também com a plataforma meusucesso.com; a partir dali os materiais de estudo da WiseUp contariam também com uma série de documentos em formato cinematográfico para tornar o ensino de inglês mais rápido e com foco em situações reais.
Para isso, foram incluídas várias aulas e filmes que retratam a vida empresarial e que contém situações de vendas, negociações e outras situações que estimulam o ensino de inglês para o mercado de trabalho; a essência da WiseUp.
E o sistema, era um produto que nenhum concorrente possuía na época, segundo Flávio.
A introdução do sistema foi rápida e foi muito bem aceita pelos alunos. E marcou o início da transição da empresa para o mundo digital, ainda em 2016.
O produto foi uma espécie de embrião para o sistema de ensino de inglês online que foi lançado oficialmente em 2019.
Com esse conjunto de ações, a WiseUp não apenas estancou os prejuízos, como também voltou ao azul antes do final daquele ano.
Esse movimento de recuperação é chamado de Turn Around. E no caso da WiseUp aconteceu de forma dolorosa; com cortes de custo, volta às origens e também a criação de diferenciais, até então inéditos.
Mas, a engenharia de Flávio não parou por ali.
Com o intuito de crescer através da criação de Equity, Flávio decidiu se juntar a um dos maiores especialistas de ensino de idiomas do país, Carlos Wizard Martins; o fundador das escolas de inglês, Wizard; que também havia vendido a escola que fundou e estava disponível no mercado depois que sua quarentena contratual havia acabado.
Wizard havia sido um dos maiores concorrentes de Flávio, com uma rede ainda maior; que tentou comprar a WiseUp em 2008, por 200 milhões de reais na ocasião. Fato que intrigou Flávio, e mostrou a importância do Equity.
A proposta da época não foi aceita, mas os dois criaram uma relação de respeito, que enfim deu casamento em 2017 quando Carlos e seu filho Charles Martins decidiram comprar quase um terço da WiseUp por cerca de 200 milhões de reais. A união criaria a Wiser Educação, holding que controla a escola e outras empreitadas, como a Buzz Editora.
Com a operação, a empresa que havia sido recomprada em 2015 por cerca de 300 milhões de reais, já estava avaliada em 600 milhões. E isso em menos de dois anos.
Com a injeção de caixa, a Wiser decidiu aumentar o seu portfólio e comprou a rede de escolas de Inglês Number One, de Minas Gerais; que na ocasião tinha mais de 100 escolas.
Pouco tempo depois, a WiseUp reabriu seu programa de franquias e aumentou ainda mais sua rede, inaugurando 60 novas escolas em 18 meses.
Ao todo, em 2019 já eram mais de 420 escolas no grupo. Tornando a WiseUp e o grupo como um todo, maiores do que a WiseUp que fora vendida em 2013. Fato que chamou a atenção do Grupo Kinea, que tem o banco Itaú como um de seus sócios.
O grupo aportou cerca de 200 milhões de reais na empreitada, adquirindo 20 por cento do negócio, que passou a ser avaliado em 1 bilhão de reais, ainda em 2019. E o objetivo é alcançar 1 bilhão de dólares em valuation nos próximos anos.
Porém, eles não pararam por ali.
Apesar da pandemia, que fechou as escolas, a WiseUp já estava preparada.
Com os avanços tecnológicos introduzidos anteriormente, a escola já contava com o WiseUp Online, um sistema escalável e que consegue atender os alunos em qualquer lugar do planeta, bastando apenas a conexão à Internet.
Graças a esse produto que já estava no portfólio da empresa, a WiseUp conseguiu se sobressair durante a crise, e já tem milhares de alunos em espalhados vários países do mundo. Quebrando as barreiras físicas que existiam anteriormente. E sendo uma das poucas empresas de educação que sairá da crise maior do que entrou.
Mediante todos estes esforços, Flávio Augusto literalmente não só deu a volta por cima, como também transformou a WiseUP em um negócio ainda maior e que não para de crescer.
Será que há limites para o empreendedor?
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