Um dos orgulhos do Brasil, o Guaraná Antárctica é um produto que leva o nome do país mundo afora, e uma bebida cem por cento nacional.
Tudo começou em 18 de agosto 1921, quando a cervejaria Antártica buscava um novo produto para conquistar o público feminino e o público infantil.
Até então, a empresa tinha forte atuação no mercado masculino com a sua tradicional cerveja; mas ela precisava de um novo produto para crescer o negócio.
Nesse processo, o químico industrial Pedro Baptista de Andrade deu início a uma série de experimentos com um fruto amazônico com sabor marcante e amargo: o guaraná.
Anos antes, em 1905, o médico Luiz Pereira Barreto já tinha criado um método de processamento do fruto, que criava um extrato com sabor extremamente forte.
Até então, o guaraná já era consumido de várias outras formas, inclusive das formas mais populares, como em pó e misturado junto ao suco de frutas.
A partir de seus experimentos, o químico conseguiu deixar o sabor do extrato mais palatável; o que serviu de base para a criação de um refrigerante com uma pegada mais natural.
Além de um sabor até então inédito, a bebida ganhou aspecto espumante e que serviu para a criação de seu nome: Guaraná Champagne.
O nome era uma alusão à bebida francesa, e buscava criar uma espécie de paralelo entre a bebida alcóolica e o refrigerante recém-criado; que inicialmente também recebeu uma embalagem que se assemelhava às garrafas de champagne.
E essa nomenclatura foi essencial para o lançamento do produto que começou com uma ação nos principais jornais de São Paulo que anunciavam a última palavra em bebida sem álcool: o Guaraná Champagne da Antártica.
E a ação foi um grande sucesso; ao ponto de transformar a nova bebida em um dos principais produtos da Antártica, e também de todo o mercado nacional de bebidas.
Desde o primeiro momento, as ações promocionais do Guaraná eram focadas tanto nas mulheres, como nas crianças, já que os homens eram frequentemente associados à cerveja da marca; e ela queria conquistar o mercado nacional de ponta a ponta.
Desde o início, a Antártica contava com o fornecimento direto de produtores da Amazônia, mais precisamente da região de Maués, no Estado do Amazonas.
Da Amazônia vinha o fruto que se transformava em extrato em São Paulo; para então ser matéria prima do refrigerante.
Com o passar dos anos, a partir da década de 40, a própria empresa decidiu criar um escritório in loco para dar conta da produção e da logística que a popularização da bebida demandava.
Para aumentar a adesão das crianças, foi criado em 1951, o guaraná Caçulinha; em embalagens de vidro com 185 ml. Além da nova embalagem, a empresa também criou o Capitão Caçula, um herói que era constantemente associado à bebida, a fim de colocar o guaraná no imaginário e na rotina das crianças. E, em pouco tempo, a nova versão também se tornou um grande sucesso.
Com vendas crescentes nas décadas seguintes, a partir de 1962, a Antártica decidiu verticalizar a produção, e controlar desde a produção do fruto até a entrega final do refrigerante nas lojas. E assim, criou uma planta industrial em Maués, ainda naquela década; e a partir de 1971, a produção passou a se dar na Fazenda Santa Helena, onde ocorre o plantio do guaraná utilizado na bebida até hoje; e que gera milhares de empregos na região amazônica.
Graças a essa nova instalação, a Antártica conseguiu não só dominar toda sua produção, mas também padronizar todas as unidades da bebida; garantindo que toda unidade do refrigerante tivesse sempre o mesmo gosto.
Além da padronização, a empresa conseguiu tornar o custo da matéria prima bem menor em poucos anos, e assim pôde aumentar seus lucros, e reinvesti-los de forma que a bebida pudesse chegar em todo o Brasil.
Além de investir em produção e logística, a empresa sempre contou com a publicidade para se tornar cada vez mais popular.
Um dos maiores diferenciais da bebida é o fato de não só ser produzida no Brasil; como também ser derivada de um produto totalmente nacional. O que foi explícito na ação que dizia que ao contrário de outros refrigerantes, o Guaraná é Coisa Nossa.
Slogan que passou a fazer parte das ações do Guaraná.
PROPAGANDAS ICÔNICAS
Além do espírito patriótico atrelado à bebida, também foram criadas propagandas que marcaram época e várias gerações de brasileiros, como a senha contra o Boko Moko, a sede de Natureza, entre outras.
As ações ajudavam a popularizar a bebida, e também a ressaltar o fato de que o Guaraná Antártica foi o primeiro refrigerante de guaraná do Brasil; tendo ganhado vários concorrentes ao longo dos anos, como o Guaraná Bhrama que surgiu em 1927.
Em meio a um forte investimento em publicidade, a Antártica também lançou o Guaraná em Lata na década de 80, o que ajudou a popularizar ainda mais a bebida, que passou a ocupar pouco espaço para os lojistas, restaurantes e ambulantes.
Já em 88 foi criado o Guaraná Diet, que conseguia um sabor similar, com uma quantidade bem menor de calorias; sendo também o primeiro refrigerante brasileiro em configuração dietética. E com o slogan que dizia que o Guaraná Diet era o único que chegava próximo do sabor do Guaraná Antártica.
Porém, o grande estouro que colocou o Guaraná como uma das bebidas principais do Brasil começou com a parceria do publicitário Nizan Guanaes e o músico César Brunetti, que criaram dois jingles que passaram a compor as propagandas do Guaraná na década de 90. O Pizza e Guaraná, e o Pipoca e Guaraná.
Lançados em 1991, os jingles compuseram duas das propagandas mais famosas do país, e ajudaram a impulsionar o sucesso do refrigerante.
O Sucesso foi tão grande que o Guaraná não só ganhou o Brasil, mas também o mundo; sendo exportado oficialmente a partir de 1996, quando as primeiras unidades foram enviadas para Portugal, China, Japão e Estados Unidos.
No início as vendas foram extremamente tímidas no exterior, contando somente com brasileiros que moravam naquelas localidades; porém, a partir de 2000, o Guaraná se tornou literalmente um produto global, a partir da fusão da Antártica com a Bhrama, formando a AMBEV.
A criação do conglomerado fez com que o Guaraná se tornasse o principal protagonista de seu gênero no Brasil, com o fim do Guaraná Bhrama, que foi descontinuado por conta das exigências regulatórias brasileiras para a defesa da concorrência.
Além do Guaraná Bhrama, também foram descontinuadas outras bebidas similares como os Guaranás Polar e Kas; e uma limitação que fez com que o Guaraná Baré só pudesse ser comercializado na região Amazônica. Todas as marcas faziam parte do Grupo AMBEV, que a partir dali concentrou quase que unicamente no Guaraná Antártica.
Desde então, o Guaraná também mudou de nome, e deixou de ter o nome Champagne, passando a ser conhecido somente como Guaraná Antártica. E com o slogan ‘’Original do Brasil.’’
E apesar do novo nome e slogan, o Guaraná continuou o mesmo, e ainda investindo fortemente em publicidade e propaganda.
Primeiro, em 2001, o Guaraná se tornou patrocinador oficial da seleção brasileira de futebol, em um contrato que se mantém até hoje e está renovado até 2028. E com a parceria, a marca é exposta em todo o planeta durante os jogos, treinos e eventos da seleção canarinho; tanto masculina, quanto feminina. Sendo amplamente explorada principalmente durante os eventos de Copa do Mundo.
Além disso, as propagandas continuaram repercutindo, principalmente por sua irreverência e criatividade. Entre elas, a lendária propaganda com o ídolo argentino Diego Maradona, vestindo a camisa da seleção brasileira.
Outra ação poderosa que ajudou a resgatar o foco no público infantil foi a parceria com a Nintendo que gerou o Caçulinha Pokemon; o conhecido guaraná caçulinha com uma embalagem especial, que contava com uma tampa em formato de Pokebola, que tinha uma miniatura de Pokemon dentro; item que se tornou mania entre as crianças do início dos anos 2000.
Porém, a ação sofreu com acusações de venda casada, e com o passar do tempo e queda da febre dos Pokemóns, o produto foi descontinuado.
Nos anos seguintes, o Guaraná continuou ganhando o mundo e se tornou um dos principais produtos de exportação do Brasil, podendo ser encontrado em lojas de todos os continentes; estando presente em mais de 50 países, de forma oficial.
Desde a criação da AMBEV, há também um acordo de distribuição com a PepsiCo, que faz com que a bebida seja distribuída em diferentes países mundo afora. Tudo isso é possível, por conta da exportação do extrato de guaraná produzido pela própria empresa no Brasil.
Graças a todo esse impacto, o Guaraná Antártica está entre os 15 refrigerantes mais consumidos do mundo, e há um esforço dos participantes para que a bebida fique entre as 10 mais vendidas do planeta nos próximos anos; a partir da popularização da bebida nos mercados internacionais; em especial, pois o Guaraná não tem paralelos ou semelhantes no mercado global.
Desde sua criação, a bebida mantém o mesmo sabor, cor e aspecto. Mas, também ganhou versões ao longo dos últimos anos, como o ZON e o Guaraná Black; mas sem sucesso. O Guaraná também virou água saborizada, o Guarah, e até picolé, feito em parceria com a Kibon, mas as versões também não prosperaram.
Ainda assim, atualmente o Guaraná é vendido nas configurações Original e Zero, e em 9 tipos diferentes de embalagens e tamanhos. E continua sendo uma bebida de enorme sucesso.
De todo modo, o Guaraná Antártica se mantém há quase 100 anos como um orgulho brasileiro, e um produto literalmente do Brasil para o mundo.
E por conta disso, a história do Guaraná Antártica é mais uma história de sucesso que merece ser contada em nosso canal.
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