PRIMEIRA PARTE DA HISTÓRIA – CLIQUE AQUI
O início da Apple foi explosivo. Cerca de dois anos depois do lançamento do Apple II, a empresa já tinha aberto o seu capital na Bolsa de Valores; um recorde para a época. E o Apple II se tornou um dos produtos mais icônicos da História.
PLAYLIST DE VÍDEOS COM A HISTÓRIA COMPLETA DE STEVE JOBS
A abertura do capital fez com que a Apple ganhasse um prédio, novos funcionários, setores e também se tornasse uma corporação;
Desde 1977 a Apple tinha seu primeiro CEO: Michael Scott; um executivo experiente trazido para a empresa por influência de Mike Markulla; e que ficou encarregado de tocar a operação da empresa, já que Jobs e Wozniak não tinham experiência para gerir uma empresa que estava conquistando os Estados Unidos.
Enquanto isso, Steve Jobs se manteve no front criativo e chegava próximo de um de seus ídolos – Henry Ford.
Se Ford tinha conseguido mudar a indústria do automóvel através do modelo T, Jobs e sua equipe conseguiram transformar para sempre a indústria de computadores, consolidando a ideia de um computador pessoal.
E apesar de não ser o primeiro produto da Apple, o modelo II era o primeiro que expressava os valores e a essência da empresa e do próprio Jobs.
Jobs capitaneou a Apple, e tal como o Criador, passou a idealizar os produtos como se fossem sua imagem e semelhança. De pouco em pouco, os produtos da Apple refletiam diretamente a personalidade e a exigência de seu fundador.
Ainda que ele não fosse o grande responsável pelos aspectos técnicos, Steve tinha a capacidade de orquestrar todos os colaboradores da Apple, com um misto de autoritarismo e carisma.
De forma geral, o visionário era mal educado, ríspido e exigente com seus colaboradores; cobrando dedicação máxima, e nada menos do que o melhor.
Em outros momentos, ele também era extremamente carismático e sabia instigar nos funcionários o desejo de entregar o máximo para conseguir alcançar um objetivo grandioso.
Esse misto estava diretamente ligado a chamada capacidade de distorção da realidade.
Para cada tarefa exigida, Jobs convencia o profissional de que cada minuto de trabalho era essencial para se atingir algo grandioso, capaz de mudar o mundo. Desde os primeiros dias da Apple, os colaboradores eram estimulados a se sentirem como se fossem os escolhidos em uma jornada que mudaria a vida das pessoas de todo o planeta.
Através dessa estratégia, os funcionários se sentiam especiais, e parte de algo muito maior; mesmo que isso não significasse ter uma remuneração maior, ou algum tipo de benefício concreto.
E esse sentimento era tão forte que fazia com que as grosserias de Jobs fossem colocadas em segundo plano, já que em tese era para um bem maior.
Da mesma forma, eventualmente, o próprio Jobs separava alguns segundos para levantar o moral de seus colaboradores; mesmo que esse elogio tímido viesse em troca de horas de trabalho duro.
Além de um alto grau de exigência, Jobs também era cada vez mais seletivo quanto aos possíveis colaboradores da Apple.
STEVE JOBS – UM ELITISTA
O QUE STEVE JOBS ACHA QUE AS PESSOAS INTELIGENTES TÊM EM COMUM
Steve era um elitista, e não fazia a menor questão de esconder isso.
Para ele, somente o melhor valia a pena.
E isso valia tanto para bens materiais, quanto também para pessoas.
Segundo pessoas próximas, ele literalmente acreditava que existia pessoas que eram muito melhores do que as outras. E ele tinha certeza de que era uma delas.
E por conta disso, a imensa maioria das pessoas não merecia sua atenção. E da mesma forma, entrar para o time da Apple não era para qualquer um.
E esse julgamento não tinha um critério específico ou algum tipo de parâmetro. Em boa parte dos casos, Jobs simplesmente não ia com a cara das pessoas. E simplesmente as rejeitava.
Se nos primeiros dias da Apple, os primeiros funcionários eram amigos e conhecidos; em pouco tempo, o padrão ficava cada vez mais alto; e o critério era aplicado até mesmo para com os amigos.
A exemplo de Daniel Kottke, amigo pessoal de Jobs, e primeiro funcionário da empresa; que não recebeu ações da empresa antes da abertura do capital da Empresa, e que em pouco tempo foi lentamente descartado por Jobs.
Em relação aos bens materiais, Jobs também mantinha uma filosofia parecida, ou até mesmo mais severa. E com o sucesso da Apple, Jobs havia se tornado um milionário, e os seus padrões ficaram ainda mais altos.
Só interessava o estado da Arte.
Para ele, somente alguns carros eram realmente bons, a exemplo dos modelos da Mercedes, que ele admirava cada detalhe. E que ele inclusive diria um modelo, que circula sem placa de identificação.
E o critério era aplicado até mesmo para canetas. Segundo ele mesmo, a única caneta boa do mundo era da marca Pilot, e o restante era uma …
Além da qualidade, Jobs analisava rigorosamente cada detalhe dos produtos que tinha contato, de forma quase que obsessiva.
O seu grau de exigência era tão alto, que durante anos, ele morou em uma mansão que tinha um número mínimo de móveis. Além de minimalista, dizia que não tinha tempo de olhar as mobílias, da forma como julgava adequado.
Curiosamente, apesar de ser extremamente meticuloso e organizado com relação aos seus produtos, a casa de Steve estava rotineiramente desarrumada, e ele também não era a pessoa mais zelosa do mundo com a própria higiene.
Após anos de experimentações e descobertas, a personalidade de Jobs se moldou de uma maneira bastante peculiar.
De um lado, ele admirava artistas, filósofos e revolucionários; de outro lado, ele também nutria enorme admiração e respeito por grandes empreendedores e inventores. Ele transitava entre o mundo das ideias e o mundo real; unindo assim um perfil que não só passava pelo mundo das ideias, mas que também tornava suas visões realidade.
E não era apenas em relação aos seus gostos que Jobs era de certo modo contraditório.
Além de um comportamento considerado incomum, ele era adepto de uma filosofia minimalista. Menos era mais. E isso não significava que ele se contentava com pouco quando o assunto era qualidade.
SIMPLICIDADE
Simplicidade, acima de tudo.
Tudo deveria ser simples, mas jamais simplório. Simples na quantidade, e também simples para se utilizar.
Nesse ponto, ele somente queria o que existisse de melhor. Independente do preço ou de quanto esforço fosse necessário para conseguir o objetivo.
Essas características, por vezes antagônicas, influenciavam diretamente na construção dos produtos da Apple, e não eram raros os casos em que Jobs fazia exigências sem sentido ou consideradas até absurdas.
Uma das mais notórias era a implicância que ele tinha com as ventoinhas dos computadores; de modo que ele exigia que os engenheiros retirassem a peça a todo custo, para que a máquina tivesse menos barulho.
A ausência causaria aquecimento e baixo desempenho nas máquinas, e não foram raros os casos em que os engenheiros tiveram que colocar ventoinhas escondidas de Jobs para que o computador pudesse funcionar corretamente.
Da mesma maneira, ele também exigia organização e limpeza na montagem e disposição dos cabos e componentes internos; mesmo que eles não aparecessem para os clientes comuns. A justificativa era que um bom marceneiro zela pelo interior de suas peças, mesmo que ninguém jamais veja por dentro das estruturas dos móveis.
Outra implicância recorrente era com angulações das carcaças dos computadores e até com o número de parafusos e junções que as máquinas tinham.
A simplicidade também era levada a sério na disposição das obrigações na Apple. De modo geral, Jobs trabalhava de maneira próxima com os principais membros criativos da empresa e evitava burocracias e reuniões desnecessárias.
Por muitas vezes, funcionários de cargos mais simples eram surpreendidos pelo próprio, que lhes faziam perguntas e as vezes os deixava constrangido. Mas, de modo geral, os funcionários sabiam que o líder estava ali com eles o tempo todo; pelo bem ou pelo mal.
E cada detalhe era percebido, inclusive com relação a maneira como os funcionários trabalhavam, com um micro gerenciamento constante de cada setor da empresa.
Nada acontecia de fato sem o crivo de Jobs.
A filosofia de experimentação da personalidade de Jobs era traduzida também na empresa, e os funcionários frequentemente procuravam encontrar novas ideias, assim como davam sugestões e tentavam apontar novos caminhos. Mesmo que muitas vezes, eles recebessem respostas mau educadas ou estupidas por parte de Jobs, que não poupava palavrões e adjetivos pejorativos para depreciar alguém ou alguma coisa.
Na Apple a filosofia era de melhoria constante, mesmo que isso significasse dar o máximo em troca. Porém, não eram raras as vezes em que os produtos lançados entregavam melhorias e avanços que eram tão modernos que os clientes ainda não tinham a necessidade de tê-los; ou então, nem sequer entendiam plenamente o seu funcionamento.
Jobs se inspirava constantemente em Henry Ford e tentava sempre lançar produtos inovadores que mostravam para as pessoas que elas tinham problemas ou necessidades que elas não imaginavam.
‘’Não dá para sair perguntando às pessoas qual é a próxima grande coisa que elas querem. Henry Ford disse que, se tivesse questionado seus clientes sobre o que desejavam, a resposta seria um cavalo mais rápido e não um automóvel.”
O APPLE III
Na busca de se manter sempre a frente de todo e qualquer concorrente, e na tentativa de introduzir inovações, a Apple passou a trabalhar em um novo computador, o Apple III.
O objetivo era manter a empresa sempre a frente no quesito inovação, mas na ocasião, a IBM já havia entrado com força total no mercado de computadores, através da sua linha de PCs.
A nova máquina seria mais do que uma melhoria do Apple II, e tinha Wozniak como seu primeiro capitão, cuidando dos alicerces do sistema da máquina. Porém, Woz teve um acidente aéreo que o deixou impossibilitado de continuar o projeto.
Após alguns meses afastado, Woz percebeu que não tinha o mesmo entusiasmo em relação à Apple. Um dos motivos eram os embates recorrentes com Steve, principalmente por acreditar que alguns profissionais deveriam ser mais valorizados e reconhecidos.
Desmotivado, Wozniak deixou o trabalho na Apple em 1981 e retornou para a Universidade para terminar sua graduação em ciência da computação e engenharia elétrica. Posteriormente, ele passou a atuar eventualmente como consultor e motivador de alguns projetos da empresa.
Sem sua direção, o sistema do Apple III ficou prejudicado e sofreu com a influência de várias sugestões de funcionários da Apple, e uma insistência de Jobs para fazer modificações internas, como a diminuição do sistema de ventilação.
Com essa construção tumultuada, o modelo III foi lançado em 1980, mas logo foi um grande fracasso. Além de ter recursos que os consumidores não valorizavam, a máquina apresentava defeitos e limitações, e não empolgou. Enquanto isso, o modelo II continuava sendo comercializado.
Mas, a atenção de Steve Jobs não estava naquele computador e sim em algo muito maior.
XEROX PARC
Poucos meses antes, ele e alguns membros da Apple foram até o setor de pesquisas da Xerox, o Xerox PARC; um centro lendário que era uma espécie de templo para os amantes dos eletrônicos e da inovação.
Na época, a Xerox estava finalizando uma parceria com a Apple, e convidou os membros da empresa para conhecer o parque e alguns dos trabalhos que estavam sendo desenvolvidos por lá.
Nessa oportunidade, Jobs teve contato com três grandes projetos do Parque que a matriz dava pouca importância. Desses, ele somente se interessou por um; mas que faria toda a diferença: a interface gráfica.
A invenção estava esquecida no parque, mas Jobs e seus colegas perceberam que aquele sistema era o que faltava para os computadores da Apple, e o que poderia deixar a empresa 10 anos à frente de qualquer concorrente, por mais poderoso que fosse.
Para completar, aquilo seria o salto que eliminaria os esforços nascentes da IBM.
A tecnologia então desprezada, logo foi amplamente replicada pelos engenheiros da Apple, e Jobs começou a trabalhar em um projeto extremamente audacioso.
No ano anterior, a vida de Jobs tinha um novo elemento; a chegada de sua filha Lisa, fruto do relacionamento com sua ex-namorada Chrisaan Brennan.
Entre idas e vindas, o casal ficou vários anos juntos; e por conta disso, Jobs duvidava da paternidade da menina. Porém, por força judicial, Jobs teve de fazer um teste que atestou que Lisa era sua filha.
Steve tentou a todo custo descredibilizar o teste, alegando que não havia 100 por cento de certeza no exame. Tentativa que foi ignorada pelo juízo, que determinou que o reconhecimento da paternidade.
Mesmo depois do exame, Jobs continuou dizendo que não era o pai da criança, e a ignorou durante os seus primeiros anos. Curiosamente, a abandonando, tal como seus pais haviam feito com ele.
E a notícia não ficou restrita à vida pessoal de Jobs, e gerou matérias em revistas e jornais que maculavam o nome da Apple, por conta da conduta de seu principal nome.
Contudo, Jobs agia normalmente, e continuava sua jornada tal como havia vivido os anos anteriores: totalmente focado em sua missão: a Apple.
Steve realmente acreditava que sua missão na Terra era revolucionar o mundo através dos computadores; e as possibilidades seriam infinitas, e ainda havia um longo caminho para percorrer.
Assim, ele manteve o foco total no trabalho, deixando a vida pessoal em segundo plano. Segundo ele, Foco não era se dedicar a uma única coisa, e sim dizer não para todas as outras.
Na ocasião, Jobs trabalhava arduamente para integrar em um mesmo computador, uma cópia da interface gráfica que havia visto no PARC, e também a inclusão de um mouse em seu novo computador; tal como o mouse utilizado no Alto, o computador da Xerox.
De forma declarada, Jobs estava usando os recursos da Xerox, mesmo que isso não fosse visto com bons olhos pelos desenvolvedores daquela empresa. Seu lema era a frase de Pablo Picasso: ‘’ Bons artistas copiam, grandes artistas roubam’’.
Apesar disso, a utilização dos recursos da Xerox não era exatamente um roubo, já que além dele, outras 2000 pessoas também visitaram o parque e testemunharam a invenção desprezada; e além do mais, havia um acordo entre as duas empresas.
APPLE LISA
Os recursos estariam presentes no novo computador da Apple, que reunia uma série de inovações além do mouse e da interface gráfica, até então inédita em um computador pessoal comercial.
E o novo computador recebeu um nome que foi exaustivamente exigido por Jobs: LISA.
O que segundo ele era um acrônimo que significava Local Integrated Software Architecture …, mas que depois o próprio Jobs assumiria que era uma homenagem a sua filha … mesmo que ele não a reconhecesse na época.
Porém, Jobs foi deslocado por ordem do conselho da empresa, e saiu da operação criativa do Lisa para se dedicar a um projeto de um computador de baixo custo, que até então atendia pelo nome de Annie, e viria para substituir o Apple II.
Sem Jobs, o Lisa foi lançado em 1983 como um computador premium, com preço de 2 mil dólares; um absurdo para a época. O alto preço se justificava pela série de inovações e recursos acumulados na máquina, mas mesmo assim, o Lisa não caiu no gosto do público, e foi mais um fracasso comercial.
A EQUIPE MACINTOSH
Deslocado para o projeto Annie, a contragosto, Jobs começou a alimentar uma rivalidade dentro da própria Apple.
Um dos seus primeiros atos foi a exclusão gradual do criador do projeto original, Jeff Raskin, que queria desenvolver um computador de baixo custo. Fato que Jobs discordava veementemente. E que minou a relação dos dois, até a saída de Raskin da Apple em 1982.
Jobs ficou com raiva da direção do conselho, por tirar dele o Lisa, computador que ele deu o nome de sua própria filha. E assim, ele queria mostrar ao conselho que ele era o responsável pelo sucesso da empresa, e, portanto, faria o que fosse necessário para dar uma resposta à altura, criando uma máquina revolucionária.
Com esse espírito, ele usou de sua habilidade de distorção da realidade, e fez com que os funcionários da nova equipe acreditassem que eram especiais, e que fariam algo que mudaria para sempre a história do mundo.
Para ilustrar seu pensamento, Jobs colocou na mente dos colegas que ali eram os piratas, em uma luta contra a Marinha, representada pela Diretoria e pelas outras divisões da empresa.
Posteriormente, um membro da equipe até hasteou uma bandeira pirata na divisão.
A divisão não estava na Sede da Apple, e sim em uma casa de dois andares perto da sede da empresa, o que dava um sentimento de segregação.
Dessa forma, pouco a pouco Jobs implementou na sua equipe o mesmo pensamento que ele tinha em relação a maioria das pessoas, e a si mesmo. Criando assim uma unidade, em que o grupo se achava melhor do que os demais funcionários.
O sentimento, de certo modo até tóxico, fez com que os funcionários da divisão entrassem por vezes em conflito com outros membros da empresa. E eles tinham o lema: ‘’trabalhando mais de 90 horas por semana, e adorando’’. Lema que virou até estampa de camiseta do grupo.
Com esse espírito, o projeto ganhou novo nome: Macintosh. O nome é uma homenagem a uma espécie de Maçã.
A ideia era que o Macintosh custasse menos de mil dólares para o consumidor, mas aos poucos Jobs começou a implementar diversas melhorias e inovações na máquina, semelhantes a aquelas que ele idealizou para o Lisa.
Por conta disso, tanto o Lisa, quanto o Mac, custaram quantias enormes para os cofres da Apple, que ainda sobreviviam majoritariamente com os rendimentos do Apple II.
A máquina recebeu o conceito de Jobs de integração de hardware e software, também conhecido como desenvolvimento de ponta a ponta. Ao contrário do padrão, Steve queria o controle total de tudo o que fazia parte da máquina, buscando torná-la cada vez mais próxima da perfeição, com harmonia entre todo o sistema; a fim de gerar uma melhor experiência para o usuário.
Essa filosofia era marca registrada de Jobs.
Além disso, o Mac teria um sistema fechado; o que tornava o seu sistema incompatível com ajustes ou melhorias técnicas, que eram comuns nos computadores da época. O conceito também era uma regra imposta por Jobs, que queria que o seu computador fosse o mesmo para todos os clientes.
E a ideia de sistema fechado era tão levada a sério que Jobs exigiu que os parafusos do gabinete do computador fossem especiais, de modo que somente poderiam ser abertos com o uso de uma chave de fenda específica para o Mac.
Em paralelo ao desenvolvimento do Mac, a Apple começou a sofrer mudanças.
Primeiro, Mike Markulla assumiu em 1981 o cargo de CEO da empresa, e passou a ditar novos rumos para a empresa.
Segundo Steve Wozniak, Markulla foi o principal responsável pelo sucesso da Apple, já que nem Jobs, e nem ele, tinham noção sobre como desenvolver uma startup ao ponto de se tornar uma grande corporação como a Apple.
E para acelerar o processo de desenvolvimento da nova linha de computadores, a Apple celebrou um acordo de parceria com uma empresa de software que ajudaria no desenvolvimento de um sistema operacional para as máquinas.
A parceira que ainda era pequena, era tocada por alguns jovens, sendo o principal deles: Bill Gates. E a pequena empresa era a Microsoft.
MICROSOFT
O acordo foi celebrado em um contrato e duraria dois anos.
De início, Jobs e Gates tiveram muita afinidade, apesar de ao mesmo tempo terem rusgas consideráveis. Contudo, Jobs respeitava Gates pois reconhecia que ele tinha uma visão sobre computadores parecida com a dele.
Gates admirava muito o trabalho de Jobs, e se encantou pela interface gráfica criada pela Apple e que até então era uma exclusividade comercial da empresa.
E assim, as duas equipes trabalharam em conjunto no desenvolvimento do sistema operacional do Mac, introduzindo uma série de avanços e inovações que levariam o computador pessoal para outro patamar.
Os avanços demandavam tempo e esforço e o prazo de dois anos expirou, antes da conclusão do projeto.
Enquanto isso, em paralelo, a Microsoft estava desenvolvendo seu próprio sistema operacional com interface gráfica, o Windows. Fato que só foi descoberto mais de dois anos depois.
Na prática, o Windows era uma cópia do sistema operacional da Apple, mas com algumas alterações e melhorias criadas pela própria Microsoft.
Jobs e sua equipe descobriram tarde demais e ficaram possessos com Gates; que em sua defesa alegou que os sistemas eram de fato semelhantes, mas não se tratava de uma cópia, pois o Windows tinha características diferentes.
A Justificativa não convenceu, e a Apple decidiu processar Bill Gates e a Microsoft em várias ações.
Cerca de 10 anos, foi reconhecido em juízo que a Microsoft não tinha que indenizar a Apple, principalmente pois o contrato de não competição entre elas era de dois anos, e o Windows só foi revelado ao púbico em 1985, tempos depois do acordo original entre as empresas.
Na prática, Jobs havia tomado para a Apple a tecnologia desenvolvida pela Xerox, e Gates fez o mesmo contra Jobs. A situação até virou filme: Piratas do Vale do Silício; lançado em 1999.
De todo modo, com o Windows, a Microsoft se tornou uma gigante e hoje está presente em mais de 98% dos computadores do planeta.
Ao invés de manter o sistema restrito a apenas uma marca, conforme era a visão de Jobs que fazia o sistema exclusivo para a Apple; a Microsoft licenciou o seu sistema para praticamente todas as demais fabricantes de computadores do planeta. Um modelo de receita infinitamente mais rentável; quando o assunto é apenas o software.
O NOVO CEO DA APPLE
Em meio a um turbilhão, Mike Markulla decidiu se aposentar, e a Apple precisava de um novo CEO. E o nome indicado foi o de John Sculley, o então presidente da Pepsi.
Sculley foi o mais jovem presidente da Pepsi e tinha uma forte experiência em Marketing, algo que seria interessante para a Apple.
Para completar ele tinha um histórico que empolgava principalmente Steve Jobs.
John foi o responsável por uma das melhores campanhas de marketing da história: o Desafio Pepsi. Uma série de ações que colocava pessoas comuns para tomarem refrigerantes em um teste para decidir qual bebida era a melhor, sem saber qual era qual: Coca- Cola ou Pepsi.
Na época, a Pepsi foi considerada a melhor opção nos testes cegos. E a campanha causou um impacto expressivo, consolidando a Pepsi como o segundo refrigerante mais vendido nos Estados Unidos, diminuindo a diferença de vendas em relação à Coca, e deixando os demais rivais para trás.
E mais do que isso. O sucesso da campanha incomodou tanto a Coca que fez com que ela lançasse mudasse sua fórmula original, criando uma mais doce, com o objetivo de eliminar a concorrência da Pepsi.
O caso é considerado um dos mais bem-sucedidos cases, e inspirava fortemente Steve Jobs, que acreditava que Sculley poderia fazer exatamente o mesmo trabalho na Apple; desafiar a líder de vendas de computadores: a IBM;
Sculley tinha dúvidas se conseguiria enfrentar o desafio, mas foi convencido pessoalmente por Jobs, após uma série de encontros. Além de argumentos fortes, Steve disse a célebre frase a ele: “Você quer vender água com açúcar para o resto da vida ou você quer vir comigo mudar o mundo”.
Foi assim que em 1983, John Sculley se tornou o terceiro CEO da Apple, e um parceiro que teve uma relação de altos e baixos com Jobs.
De início, a Apple lançou o Lisa, computador iniciado por Jobs e terminado pela equipe oficial da empresa. Porém, a máquina não agradou os consumidores, principalmente por seu alto preço.
Enquanto isso, Jobs preparava o lançamento do Macintosh, e sabia que precisaria ser feito algo de diferente, já que os dois últimos lançamentos foram fracassos de vendas.
Outro problema era que o Mac que originalmente deveria custar em torno de 1000 dólares, ficou planejado em quase 2500 dólares. O que poderia novamente ser um entrave.
Nesse meio, entrou o espírito criativo de Jobs, e a liberdade criativa concedida por Sculley.
Juntos, os dois debateram exaustivamente a ideia de se criar um comercial tal como se fosse um filme, com uma paródia do livro 1984, de George Orwell; que também coincidia com a data de lançamento do produto, janeiro de 1984.
O COMERCIAL 1984 – O MAIOR COMERCIAL DE TODOS OS TEMPOS
A ideia era criar uma história em torno da máquina, reforçando a ideia de que o Macintosh seria um instrumento de liberdade e de poder nas mãos dos usuários. Mesmo que o vídeo em si pouco apresentasse as características do Mac.
O objetivo era mostrar que a Apple tinha um novo produto e que causaria barulho do início ao fim.
Dessa forma, a Apple contratou o premiado diretor Ridley Scott, que comandou as filmagens do curta que ao final mostrava a destruição de um telão, em que estava o Grande Irmão, o vilão do livro; e que era, na verdade, uma referência à grande líder do mercado de computadores, a IBM.
Ao final do comercial, havia a mensagem: Porque 1984 não vai ser igual a 1984.
O comercial de apenas 30 segundos foi exibido em 22 de janeiro de 84, durante o Super Bowl, o jogo final da Liga de Futebol Americano, a NFL. Um dos eventos televisivos de maior audiência do planeta.
Na época, os comerciais durante o evento eram relevantes, mas o comercial da Apple mudou tudo. Considerado um dos maiores, ou talvez, o maior comercial de todos os tempos, ‘’1984’’ transformou o intervalo do Super Bowl, e desde então, cada minuto desta janela é disputado pelas maiores marcas do planeta.
O sucesso absoluto da campanha era o primeiro passo de promoção do Mac, e segundo Sculley, a campanha gerou o equivalente a mais de 54 milhões de dólares em mídia, de forma espontânea.
APPLE MACINTOSH
Para completar, dois dias depois o próprio Jobs fez uma de suas melhores apresentações para mostrar o novo produto ao mundo. O evento ocorreu no Flint Center, também localizado na cidade de Cupertino.
Na ocasião, o Mac foi programado para abrir o evento, com um toque especial: reproduziria um texto em voz alta:
“Olá, eu sou o Macintosh. Com certeza foi ótimo sair dessa sacola. Não estou acostumado a falar em público, gostaria de compartilhar com você uma máxima que descobri da primeira vez em que entrei em um mainframe da IBM: NUNCA CONFIE EM UM COMPUTADOR QUE VOCÊ NÃO PODE ERGUER.
Obviamente, eu posso falar, mas agora eu gostaria de sentar e ouvir. Então, é com orgulho considerável que eu apresento um homem que tem sido como um pai para mim… STEVE JOBS”.
A introdução fez com Jobs ganhasse o palco tal como um rockstar. E dali em diante, deu seu show particular.
Revolucionário, o Mac surpreendia o mundo com uma interface gráfica nunca vista antes pelo grande público. Além disso, ele tinha funções profissionais, como a possibilidade de se enviar arquivos para imprimir imagens em qualidade de uma gráfica.
E para embalar a apresentação, Steve colocou um disquete que fez com que a máquina reproduzisse uma famosa trilha sonora de filmes da época.
Ao final, segundo o biógrafo oficial Walter Isaacson, foram mais de 5 minutos de aplausos e gritos por parte da plateia.
Cada detalhe havia sido pensado exaustivamente, e mesmo os pontos mais simples eram fruto de dias de trabalho.
Um dos pontos de maior atenção era a embalagem do produto. Desde então, Jobs valorizava imensamente o Unboxing de seus produtos, de modo que o consumidor recebesse o Mac em uma caixa pensada para que cada peça fosse retirada da caixa de uma certa maneira e ritmo, para tornar cada segundo épico; consolidando uma experiência memorável desde o primeiro contato com o aparelho.
Outro ponto foi uma ação que presentou famosos como Michael Jackson e Mick Jagger, e que colocava o Mac na mão de pessoas que influenciavam o mundo na ocasião; com o objetivo de criar um sentimento de que os bons e os especiais usavam aquele computador.
Todos os esforços geraram um enorme alvoroço e transformou o Mac em um sonho de consumo; mesmo que seu preço não fosse dos mais baratos. A título de exemplo, em valores atualizados, ele custaria mais de 6 mil dólares.
De cara, foram vendidos 50 mil computadores nos primeiros 100 dias.
O sucesso inicial fez com que as divisões do Lisa e do Mac fossem unidas, e passassem a operar em conjunto em prol exclusivo do Mac. Tudo sob o controle de Jobs.
Mas o alvoroço esbarrou nos primeiros problemas apresentados pela máquina.
Primeiro, ela apresentava uma memória RAM subdimensionada para suas funções, o que causava lentidão; segundo, o sistema fechado e exclusivo da Apple criava dificuldade e impossibilitava a conectividade com outros aparelhos que não fossem da própria fabricante. Para completar, não era possível fazer reparos ou melhorias na máquina, principalmente devido a sua caixa quase que inviolável.
Nesse contexto, a Apple também não conseguiu dar o suporte e o pós-venda adequado para os primeiros adotantes, e em pouco tempo, as vendas começaram a despencar.
Desse modo, o final de 1984 foi extremamente tumultuado para a empresa. Primeiro, devido ao fracasso estrondoso do Lisa. Segundo, pela queda das vendas do Mac.
Mas, o pior ainda estava por vir.
A QUEDA DE STEVE JOBS
Cada vez mais meticuloso, Steve Jobs começou a tumultuar o ambiente da empresa em todos os setores.
Seu relacionamento com John Sculley ia de mal a pior. Se no começo os dois se deram muito bem e tinha interesse extremamente alinhados, a lua de mel durou pouco; e deu início a uma guerra.
Por conta das perdas recorrentes, Sculley precisava apertar os cintos e controlar os gastos da empresa, só que enquanto ele se esforçava para tornar a empresa mais eficiente, Jobs criava uma infinidade de novos custos para a Apple.
Além de novas funções e aplicações exclusivas para o Mac, Jobs levava o seu perfeccionismo ao extremo, e sua exigência gerava novos gastos de forma recorrente.
Não bastasse o descompasso financeiro, Jobs também estava tornando o ambiente de trabalho infernal. Além de exigir dedicação máxima dos funcionários, ele manteve a segregação dos membros do Mac em relação aos demais membros da empresa, mesmo após as divisões terem sido unificadas.
Sem rodeios, ele deixava claro e evidente o seu lado elitista. Para ele, os membros originais da Equipe Mac, eram melhores que os demais. E ponto final.
Mas, até mesmo os membros considerados superiores não escapavam da ira de Jobs e dos acessos de raiva, repletos de xingamentos. E quanto a esse comportamento, Steve era democrático: todos recebiam patadas e uma exigência quase doentia por avanços e melhorias em todos os setores, seja hardware, software, design ou até as simples organizações de peças.
Com esses elementos, a Apple virou uma panela de pressão prestes a explodir.
Jobs era de certo modo um romântico, e acreditava que era ele um agente de transformação, responsável por alimentar a inovação dentro da Apple a qualquer custo. Seja financeiro ou o emocional dos funcionários. Para ele, todos os fins justificariam os meios.
Porém, se o jeito dele compensou até certo ponto, as suas qualidades estavam sendo encobertas por seus defeitos e seu comportamento sem limites.
Os funcionários da Apple não aguentavam mais trabalhar para ele, ou com ele. E na mesma medida, o conselho da empresa também tinha o pavio cada vez mais curto com relação a Jobs. E Sculley também estava incomodado.
Nesse contexto, uma guerra silenciosa começou nos bastidores da Apple.
De um lado, Jobs perdia funções e tinha sua atuação cada vez mais limitada dentro da empresa. E assim, ele deu início a uma série de ações antagônicas.
Steve estudou dialética e sabia muito bem pensar e trabalhar em dois caminhos antagônicos. De um lado, ele tentava se reconciliar com John Sculley. E para isso, não eram raras as ligações telefônicas durante as madrugadas para conversar ou aparar algumas arestas.
Em paralelo, Jobs conversava com membros do conselho diretivo e com funcionários da Apple, minando a influência de John, e até sugerindo a sua demissão.
No todo, as ações antagônicas tinham como único objetivo o benefício do próprio Jobs. Se houvesse uma reconciliação com Sculley, ótimo; se ele saísse, também seria bom. Ou até mesmo, poderia existir uma terceira opção interessante.
Contudo, os esforços de Jobs foram em vão.
Sculley tentou encontrar um meio termo; mas o conselho decidiu que Jobs deveria ser afastado das principais decisões da empresa, mantendo um cargo consultivo.
A deliberação foi por grande maioria, e ao final, o próprio Sculley também votou pelo afastamento de Jobs. Até, Mike Markulla, que foi o mentor de Jobs, apoiou o conjunto.
Irado, Jobs não aceitou a oferta e decidiu sair definitivamente da Apple. Para ele, não fazia sentido ser afastado da empresa que ele mesmo criou.
A SAÍDA DE JOBS DA APPLE
Curiosamente, ao longo dos anos, ele refletia sobre o que acontecera com um de seus ídolos, Edwin Land; inventor e fundador da Polaroid, que também foi afastado da própria empresa.
Orgulhoso, Jobs não aceitou o ostracismo, e preferiu abandonar a Apple.
Para isso, ele vendeu todas as suas ações, menos uma. E por conta dela, tinha direito de se manter no conselho da empresa pelos próximos anos.
A liquidação das ações rendeu a ele 100 milhões de dólares. E assim, aos 30 anos e multi milionário, Jobs deixava a empresa que fundou; e que até então era sua única razão de vida.
Jobs jamais perdoaria Sculley, e nos anos seguintes, ele passaria por um caminho que lhe traria novas lições, e o prepararia para algo muito maior…
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