A HISTÓRIA DE MICHAEL DELL E DA DELL COMPUTADORES

O computador se tornou um instrumento indispensável em todo o mundo, mas houve um tempo em que ter um computador era para poucos e boa parte da mudança que levou o computador pessoal para os lares de milhões de pessoas veio da inspiração de um jovem que enxergou uma lacuna e fez uma fortuna a partir dela: Michael Dell.

Tudo começou em 1984, quando aos 19 anos, Michael que então era um estudante de medicina, decidiu dedicar o seu tempo livre a um dos seus hobbies: a manutenção de computadores pessoais.

Os computadores na época eram algo para poucos e marcas como Apple e IBM começavam a dominar o mercado mundial. E na ocasião, o jovem contava com máquinas das duas empresas. Mas, o luxo não foi concedido e sim conquistado por ele.

Aos 12 anos, Dell começou a trabalhar aos finais de semana como lavador de pratos em um restaurante para conseguir seus primeiros trocados. O dinheiro tinha como objetivo a compra de selos para que ele pudesse formar uma coleção.

Mais tarde, os selos viraram um negócio, e ele comprava e vendia selos diversos para outros jovens de sua cidade, Houston, Texas, nos EUA.

Com o dinheiro feito nessa atividade, ele teve o privilégio de comprar seus próprios computadores, e o interesse virou uma grande paixão, ao ponto de ele conhecer todos os detalhes de cada máquina do mercado.

Curioso, ele passou a pesquisar detalhes sobre os componentes que formavam os computadores e como o funcionamento da máquina acontecia. Depois, ele monta e desmontava suas próprias máquinas.

Desse interesse, ele passou a ter a habilidade de montar ou até mesmo modificar computadores, uma atividade que era uma espécie de moda entre os jovens americanos que tinham acesso ao mundo da informática.

Aos poucos, o hobby foi evoluindo e ele aprendeu a fazer pequenas modificações que muitas vezes melhoravam a experiência de amigos e familiares com seus computadores. Dessas situações, ele percebeu que as pessoas tinham necessidades diferentes quando o assunto eram as máquinas, ainda que na época os computadores tivessem pouquíssimas funções.

Outro ponto que intrigava o jovem era o fato de os computadores na época custarem muito caro.

Além de serem produtos inovadores e que ainda não tinham sido popularizados junto ao grande público, Dell sabia exatamente quais eram os custos de se fabricar um bom computador, e da mesma forma, sabia que os grandes varejistas da época como Best Buy e Radioshack tinham uma margem de lucro absurda na venda dos eletrônicos.

Dessa forma, ele constatou que havia uma indústria comercial que tinha pouco apreço com os usuários de computadores, e que em geral, estava preocupada apenas com o lucro que poderiam obter na venda de cada unidade.

E ao mesmo tempo, ele conhecia profundamente o mercado de peças para computadores, e sabia que os componentes avulsos eram baratos; apesar de serem produtos até então limitados a poucas pessoas que conheciam e sabiam como comprá-las. Algo que o consumidor comum não tinha acesso.

Foi dessa análise que ele pensou em uma forma de negócio que pudesse quebrar essa situação e que possibilitasse que os consumidores pudessem ter computadores mais acessíveis. Para isso, ele teria que criar um modelo de negócio inovador e que até então parecia impossível.

Desse insight ele criou um plano de negócios que consistia na junção de componentes avulsos para então se formar um computador. Ou seja, ele usaria peças de diferentes fabricantes para então montar um computador, sem que esse aparelho tivesse exatamente uma marca, como na época havia a IBM e a Apple, por exemplo.

A partir daí ele pegou cerca de mil dólares emprestados e decidiu tornar o negócio realidade, começando a operar literalmente em seu próprio quarto.

A empreitada recebeu o nome de PC’s Limited. E o objetivo era simples: ele mesmo compraria os componentes avulsos dos computadores e posteriormente os reuniria criando um computador até então inédito no mercado.

PC’S LIMITED

Porém, para escapar das grandes varejistas, ele não venderia as unidades para as lojas; ele venderia os computadores direto para os consumidores, eliminando os intermediários.

Com essa ideia, ele eliminaria as comissões e as margens de lucro dos varejistas que encareciam muito o preço dos computadores pessoais.

Para completar, como ele tinha acesso a diferentes componentes eletrônicos, ele poderia fazer uma máquina por encomenda, de acordo com a necessidade do cliente. Ou seja, ele oferecia a possibilidade de personalização das máquinas, algo restrito na época a apenas alguns entusiastas; e que poderia ser de acesso do público comum.

A materialização de sua ideia surgiu somente um ano depois, em 1985, com a criação do modelo Turbo PC, que era equipado originalmente com processadores da 8088 da Intel e poderia ser ajustado de acordo com a necessidade do cliente. E que em sua versão considerada padrão era cerca de 20 por cento mais barato do que os feitos pelas grandes corporações.

Para criar suas máquinas, Dell recorreu inicialmente a alguns fornecedores locais, que tinham estoques encalhados de computadores, que em muitos casos tinham processadores ou componentes considerados ultrapassados para o varejo tradicional.

Sabendo que as máquinas estavam encalhadas, Michael negociava o arremate de lotes de computadores encalhados, que eram vendidos aos montes, com um desconto interessante para o lojista e com a promessa de pagamento a prazo.

Em outra vertente, ele também negociava e encomendava peças avulsas de produtores locais e também comprava diversos componentes que eram fabricados na China, e que eram vendidos em grandes quantidades, mas com preços baixíssimos.

Com essas matérias primas, caberia a ele desmontar as máquinas originais e formar diversas novas máquinas a partir da junção de diversas peças de diferentes origens e fabricantes.

Dessa maneira, ao final, os primeiros computadores de Michael Dell eram uma espécie de Frank Stein da informática. Uma mistura de tudo um pouco. Mas, que representavam exatamente o que os consumidores comuns queriam.

Com esses diferenciais a empresa logo chamou a atenção dos primeiros compradores, uma vez que representava uma disrupção no mercado de informática da época.

Para completar, Dell investiu fortemente na veiculação de anúncios de sua empresa em revistas especializadas em computadores; publicações que eram febre nos EUA durante a década de 80.

Com esses alicerces, além de conseguir honrar suas obrigações, Michael logo deixou sua casa e rumou para um estabelecimento, onde podia dar vazão para uma quantidade muito maior de computadores.

Além disso, o sucesso possibilitava a aquisição de componentes em volumes cada vez maiores, o que tornava o seu produto cada vez mais lucrativo e permitia também que peças melhores e mais caras também fizessem parte do portfólio de personalização da marca.

Tudo isso fez com que apenas no primeiro ano, a PCs Limited faturasse mais de 6 milhões de dólares; um feito impressionante para um jovem de apenas 20 anos.

O sucesso possibilitou que a empresa passasse a montar seus próprios produtos de forma exclusiva, sem a necessidade de reunir peças de diferentes fontes, como ocorria no primeiro modelo. E a alta demanda de trabalho fez com que Dell abandonasse para sempre a faculdade.

Dois anos depois, a empresa já operava também no Reino Unido. E após outros 4, já eram 11 países atendidos pela empresa.

DELL COMPUTADORES

Famoso pela revolução que proporcionou no mercado, Michael decidiu colocar seu sobrenome no negócio e a partir de 1988, a empresa foi renomeada para Dell Computer Corporation. No mesmo ano, a empresa abriu o seu capital na Bolsa de Valores, o que ajudou a tracionar ainda mais o crescimento da companhia.

Na década de 90, a Dell se notabilizou como a empresa responsável por democratizar o computador pessoal, principalmente nos EUA, mas até então seu foco era apenas o consumidor comum. Apesar disso, havia ceticismo do mercado a respeito da empresa que tinha pouca penetração no mercado empresarial e corporativo.

Outro problema que a empresa enfrentou foi o começo da guerra de preços que se instaurou na década e que fez com que o preço do computador em geral abaixasse muito, comprometendo boa parte das vendas da Dell.

Nesse turbilhão, a empresa teve que apresentar novas credenciais para continuar crescendo.

Para as empresas, a Dell conseguiu se sobressair oferecendo produtos personalizáveis entregues por encomenda. Enquanto as grandes corporações enviavam ao mercado modelos padrões feitos em escala, a Dell produzia modelos ajustados para a necessidade de cada empresa, mesmo que tivesse que vender dezenas ou centenas de máquinas iguais.

O esforço da empresa ajudou a sedimentar um novo diferencial para a Dell. Enquanto muitas empresas ofereciam computadores cada vez mais baratos, a Dell decidiu sair da guerra de preços e se destacar por oferecer computadores confiáveis e de acordo com o que realmente os clientes precisavam.

Desse modo, ainda que o produto da empresa ficasse um pouco mais caro, ele compensava com uma performance acima da média; uma confiabilidade muito grande e um serviço de pós-venda e atendimento ao consumidor como nenhuma outra empresa possuía na época. Prova desse compromisso era o oferecimento da maior garantia do mercado, já incluso no preço das máquinas.

Com esses pontos a Dell cresceu no mercado corporativo e ganhou uma reputação de confiabilidade e benefícios que se pagavam no longo prazo, já que a empresa tinha máquinas confiáveis e com garantias que cobriam defeitos nos primeiros anos de uso.

Além desses diferenciais inclusos nos computadores comuns, a Dell se destacou na mesma época por ser uma das principais referências na fabricação de computadores móveis, conhecidos como notebooks ou laptops.

Enquanto as concorrentes ofereciam notebooks com menos performance do que os computadores de mesa, a Dell conquistou o mercado com a mesma política que tinha para os computadores de mesa, tais como garantia maior e a possibilidade de personalização. Com esse pacote, a Dell tomou a dianteira e se tornou uma das principais fabricantes de notebooks do planeta.

Mas nem tudo foram flores durante o período.

TENTATIVA NO VAREJO

Em busca de aumentar sua participação de mercado, a Dell cedeu e passou a vender seus computadores através de intermediários, assim como suas concorrentes faziam na década anterior. Porém, o modelo engessado das varejistas travava a possibilidade de personalização e fazia com que o computador da marca não fosse mais tão interessante. Diante do fato, a Dell voltou a concentrar suas vendas no modelo sob encomenda.

Em outra esfera, a Dell também foi pioneira ao ser uma das primeiras fabricantes a ter um site; que permitia não só a compra dos computadores, mas também a personalização completa dos computadores; fator que tornava a experiência do cliente ainda melhor, e que ajudou a companhia a conquistar ainda mais espaço no mercado mundial; conquistando em 1999 o posto de maior fabricante de computadores dos Estados Unidos.

Nos anos seguintes, a Dell se consolidou como uma das empresas mais respeitadas do mundo e uma referência em computadores de alta qualidade, e o principal, de valorização do cliente.

Porém, novamente o caminho foi de altos e baixos.

CRISE

Enquanto acreditava no foco na qualidade e no cliente, Michael Dell foi alvo de críticos e acionistas da própria empresa.

Em 2004, Dell se retirou da presidência da empresa, e passou a ocupar um lugar no conselho diretivo da empresa. Porém, em 2007, ele precisou voltar ao cargo por pressão dos acionistas, que acreditavam que a empresa havia perdido parte de sua alma depois da saída de seu fundador.

Em 2013, novamente por pressão dos acionistas, a empresa teve que passar por um delicado processo de reestruturação da empresa, que culminou na recompra das ações que estavam listadas na Bolsa de Valores, com o consequente fechamento do capital da Dell.

Diante da manobra, Michael ficou com 75 por cento das ações, e o restante ficou com um grupo de investidores capitaneados pelo magnata Carl Icahn e pela Microsoft.

Desde então, Dell mostrou mais uma vez o seu valor levando a companhia a uma grande recuperação, que possibilitou uma nova abertura de capital em 2018.

Hoje, além de computadores, a empresa também fabrica telas, tablets, impressoras e também provém serviços e equipamentos para redes. Estima-se que a empresa tenha 25% do mercado mundial de computadores pessoais, atrás de HP e Lenovo. E seja também a líder no segmento de computadores para grandes corporações e serviços públicos, atendendo a 95 por cento das empresas listadas no ranking Fortune 500. Curiosamente, dominando o setor que era o seu ponto fraco anteriormente.

Tais fatores fizeram com que Michael Dell se tornasse uma das figuras mais influentes do mundo, e o detentor de uma fortuna estimada em mais de 27 bilhões de dólares. Hoje, além de bilionário, o empreendedor também está envolvido em causas de filantropia, e por sua origem texana foi apelidado de o cowboy dos computadores.

E por conta de todos estes fatores, a história de Michael Dell é mais uma história de sucesso que merece ser contada em nosso canal.

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