Por conta de conflitos de interesses, em 1973, Soros deixou a Double Eagle, e ofereceu seus serviços a boa parte dos antigos investidores do fundo; que passaram a integrar seu novo negócio.
Anos depois, o fundo de sua propriedade foi renomeado para Quantum Fund.
No momento em que o fundo ganhou o nome de Quantum, a companhia registrava mais de 12 milhões de dólares em sua carteira; sendo apenas uma pequena parte de propriedade de Soros. Porém, ao longo do tempo, tanto Soros quanto Rogers reinvestiam a comissão de 20% que tinham sobre os investimentos totais, aumentando suas próprias fortunas investidas no fundo.
Reinvestindo e atraindo novos investidores, o fundo também aumentou sua performance, e em 1981, já controlava 400 milhões de dólares em ativos.
Apesar do sucesso, no mesmo ano, o fundo também teve percalços; quando perdeu 22% de valor em sua carteira, e viu vários investidores deixando a companhia.
Na ocasião, a com a saída dos investidores, o fundo ficou com cerca de 200 milhões de dólares em ativos.
Entre altos e baixos, o fundo passou a prosperar, e esse crescimento fez com que o fundo controlasse 25 bilhões de dólares em 2011, e cerca de 40 bilhões de dólares nos últimos dois anos.
Em média, o fundo tem retornos anuais de 20% sobre seus investimentos.
Todos esses fatos fizeram com que o Quantum fosse considerado o maior fundo de cobertura da história.
Ao longo do tempo, além de ativos financeiros, o fundo também passou a investir em negócios, como a cadeia de hotéis Fen Hotels, na Argentina.
Porém, o nome de Soros não ficou conhecido somente por seu brilhantismo como investidor e gestor de fundo de investimentos.
O MAIOR TRADE DA HISTÓRIA
Mundialmente, George Soros ganhou notoriedade no ano de 1992 quando esteve a frente de uma operação financeira feita na Inglaterra, considerada uma das mais bem-sucedidas da história.
A jogada começou em um contexto político bastante agitado na Europa.
O CENÁRIO: EUROPA PÓS-GUERRA FRIA
Com a queda do Muro de Berlim em Novembro de 1989, a Alemanha começou a dar seus primeiros passos para a completa unificação de seu território, dividido durante a Guerra Fria.
Nesse momento, sua moeda, o marco, estava enfrentando uma enorme instabilidade, que influenciava também as moedas de outros países da Europa.
Como a Alemanha estava unida de novo, foram necessárias várias medidas para integrar a região oriental, o que aumentou os gastos públicos do Governo alemão. O aumento dos gastos trouxe inflação e a necessidade de um aumento da taxa de juros do país.
Na ocasião, a Europa dava seus primeiros passos para a criação de uma zona de comércio entre seus países, e uma das medidas adotadas foi feita em 1979, com a criação de uma taxa de conversão entre as moedas europeias, chamada ERM, buscando manter um equilíbrio entre as moedas de cada país. Em português, o ERM ficou conhecido como Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio ou (MTC).
A ideia do ERM era além de criar uma referência para a Europa, também indexar seus valores a uma de suas moedas mais poderosas, o marco alemão.
A medida englobava vários países como a Itália, a França, a Bélgica, Holanda, e claro, a própria Alemanha.
Porém, ainda que os países europeus quisessem estreitar suas relações e seus laços, a Inglaterra se mantinha reticente em adotar o ERM dependente do marco alemão para indexar sua moeda, a libra esterlina.
Historicamente forte, a libra sempre foi um sinônimo de segurança em todo o mundo, e para os ingleses, entrar em um acordo que controlaria o valor de sua moeda em relação as demais seria um possível prejuízo. Além disso, na visão dos ingleses, a Alemanha seria muito beneficiada na operação.
A posição da Inglaterra durante o período da ERM era mantida principalmente pela visão de sua primeira ministra, Margaret Tatcher, que discordava veementemente do acordo.
Porém, após forte pressão interna do congresso inglês, a Inglaterra acabou aceitando fazer parte do ERM; principalmente pela força de seu ministro das finanças, John Major.
Menos de um mês depois, Tatcher renunciou ao cargo de primeira ministra, e John Major foi eleito o primeiro ministro inglês pelo parlamento britânico.
A subida de Major ao poder representou o triunfo da ERM sobre a economia inglesa.
Assim, a partir de Outubro de 1990, a Inglaterra passou a figurar completamente no acordo, após uma adesão lenta.
Em um cenário de entrada da Inglaterra no ERM e de uma Alemanha recém-unificada, uma série de turbulências assolou a Europa.
Enquanto a moeda alemã estava se valorizando, a Inglaterra dava seus primeiros sinais de recessão econômica.
O aumento do valor do Marco refletia imediatamente na Libra. Se houvesse um aumento no preço do Marco, a Inglaterra deveria fazer esforços para valorizar a Libra; e se o Marco caísse, a moeda inglesa também perderia valor.
Para acompanhar a indexação ao Marco, vários países europeus aumentaram suas taxas de juros.
Mas, enquanto isso, a Inglaterra vivia uma situação complicada. Para aumentar o valor da Libra, ela precisaria aumentar sua taxa de juros. Mas, para conter sua crise interna, ela deveria abaixar as taxas, a fim de fomentar o seu mercado interno.
Para completar, rumores de que a economia da Inglaterra poderia ruir a qualquer momento começaram a se espalhar pelo mundo.
No começo dos anos 90, a disparada do valor do marco também representava uma valorização da libra esterlina. Porém, essa valorização era artificial, já que a economia inglesa estava em um momento de dificuldade.
Nesse cenário de incerteza, George Soros começou a investir massivamente na compra de Libras, sabendo muito bem que a situação do país era precária.
Soros também incentivou outros investidores a fazerem o mesmo.
O plano de Soros era comprar a moeda inglesa antes de um cenário de alta, e quando a moeda explodisse em valor, ele venderia rapidamente toda a quantia que havia comprado. Literalmente apostando contra o banco central inglês.
Historicamente, os bancos centrais das nações são fundamentais para a regulação do mercado, indicando muitas vezes os rumos que o mercado irá ter. Posto isto, apostar contra o Banco Central de uma nação é quase como apostar contra a banca de um casino.
Em 16 de Julho de 1992, a Alemanha decidiu fazer um grande aumento em sua taxa de juros. Esse aumentou acabou levando os outros países adeptos do ERM a fazerem o mesmo. Obrigada pelo acordo, a Inglaterra seguiu o mesmo movimento, valorizando sua moeda.
Ainda assim, o temor em relação a economia inglesa fazia com que investidores vendessem libras e comprassem marcos alemães.
Em Agosto do mesmo ano, o ministro das finanças da Inglaterra anunciou que não haveria uma nova desvalorização da moeda inglesa.
Porém, tudo mudou quando a Itália decidiu desvalorizar sua moeda, a Lira, por também enfrentar uma grave crise econômica interna.
O movimento fez com que a Alemanha também fizesse o mesmo, por força do mecanismo cambial europeu.
Em meio a um cerco de forças vizinhas, a Inglaterra enfrentava um de seus momentos mais delicados, em que poderia haver aumento de juros ou desvalorização de sua moeda. Apesar disso, seus governantes permaneciam reticentes.
Em paralelo, a Lira italiana perdia valor dia após dia, e quem havia investido na moeda italiana perdeu milhões na ocasião.
Em 15 de Setembro de 1992, o governador do Bundesbank, o banco central da Alemanha, teve uma conversa informal com um jornalista, em que afirmou que novas desvalorizações cambiais seriam necessárias para que a economia alemã se estabilizasse.
A conversa se tornou uma notícia mundial e cairia como uma bomba no mercado europeu. E o jornalista tinha a gravação da conversa para comprovar o ocorrido.
Para Soros, a declaração pública do presidente do Bundesbank foi a senha que os investidores esperavam para vender as libras esterlinas.
A HORA DO TRADE
E assim, no dia seguinte, uma quarta-feira, dia 16 de Setembro de 1992, Soros deu início ao seu grande plano.
Se aproveitando da diferença de fusos horários entre os EUA, de onde operava, e a Inglaterra, Soros começou a operar seu plano para que suas reservas de libras fossem vendidas integralmente no começo do pregão do mercado europeu.
Para conseguir lucrar na sua jogada, Soros conseguiu negociar a venda de 10 bilhões de libras, um valor que na ocasião ele não possuía.
A venda das Libras consistia em uma operação financeira chamada de ‘’Venda a Descoberto’’, ou ‘’Short Selling’’, em que o investidor vende ativos que não tem, por um preço mais alto do que o preço que ele deseja comprar em um futuro próximo.
Desse modo, Soros negociaria a venda de Libras por um preço alto, sabendo que ao final do dia poderia recomprar as Libras por um preço muito menor do que o preço que venderia a moeda inglesa.
Foi assim que na abertura do mercado Soros vendeu todas as reservas do Quantum Fund e o valor que não possuía, quando a Libra estava com o preço mais elevado naquele dia.
Começando a venda massiva da moeda inglesa, outros investidores também decidiram aderir ao plano de Soros.
Com a crescente venda de libras, pouco a pouco, a moeda inglesa passou a ter uma desvalorização sem precedentes para um único dia.
A cada nova venda, o pânico se instalava no mercado europeu.
Para completar, Soros e seu fundo passaram a comprar marcos alemães, forçando ainda mais uma desvalorização da moeda britânica.
Enquanto o investidor operava, o Banco Central Inglês foi pego de surpresa e começou a comprar sua própria moeda dos investidores, na busca de aumentar suas reservas internas e estabilizar o valor da Libra.
Se houvesse menos oferta de Libras no mercado, o valor da moeda poderia aumentar, e os ingleses apostavam que poderiam reverter assim o pânico do mercado.
De hora em hora, o Banco Central autorizava novas compras e o prejuízo para a economia inglesa só aumentava, tentando de certa forma estancar a sangria daquele dia.
Ao mesmo tempo, havia uma esperança dos investidores de que a Inglaterra anunciasse sua saída do ERM para enfim deixar de ser refém do mercado europeu, que sufocava em definitivo sua economia.
Enquanto a saída não ocorria, o banco central tentou aumentar a taxa de juros diversas vezes; com a esperança de assim aumentar novamente o preço da Libra.
Em paralelo, George Soros voltava a ativa e agora passava a comprar libras, por um preço extremamente menor do que tinha vendido no começo do dia.
Porém, os esforços do governo e do banco central não foram suficientes, e ao final do pregão do mercado, a moeda inglesa teve a maior perda de sua história, marcando o dia que ficou conhecido como a ‘’Quarta-Feira Negra’’.
Ao final daquele dia, o primeiro ministro inglês anunciou que além de um novo aumento da taxa de juros, a Inglaterra deixaria o ERM para sempre.
Por conta desse evento, a Inglaterra nunca mais se associou a outros países em um mecanismo monetário desde então. E por esta razão, os britânicos não adotaram o Euro como Moeda oficial, como os demais países da união europeia.
Curiosamente, poucos anos após o abandono da ERM a Libra teve uma valorização enorme, e se tornou ainda mais forte do que antes de aderir ao mecanismo.
O SALDO DA APOSTA
Em meio ao caos financeiro, George Soros e seu fundo terminaram o dia com um lucro de 1 bilhão de libras.
Entretanto, o prejuízo final da operação como um todo fez com que a Inglaterra perdesse mais de 3.4 bilhões de libras. Algo como 12 libras por cada habitante, na época.
O evento, considerado a maior operação de trading da história, deu a George Soros a alcunha de ‘’O Homem que quebrou o Banco Central inglês’’.
A jogada mostrou ao mundo a força e as capacidades de Soros como investidor, e também fez com que as pessoas começassem a levantar as primeiras críticas acerca de seu caráter.
Se de um lado ele havia executado com maestria um movimento financeiro dificílimo, do outro ele havia prejudicado uma nação inteira com uma única tacada, lucrando uma enorme fortuna com isso.
Eticamente correto ou não, esse expediente se tornou sua grande especialidade. Porém, a estratégia recorrente fez com que seu nome não se tornasse um dos mais bem quistos mundo afora.
Ao longo dos anos seguintes, Soros se beneficiou em diversas crises de mercado, sempre estando um passo à frente.
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