DE SACOLEIRA A DONA DE UM IMPÉRIO – A HISTÓRIA DE CARLA SARNI

O Empreendedorismo é um dos maiores fatores de transformação do mundo. Através dele, homens e mulher de todo o mundo conseguiram mudar de vida e alcançar feitos considerados inimagináveis.

E a empreendedora Carla Sarni é mais um exemplo dessa transformação.

Nascida em Pitangueiras, no interior de São Paulo, Carla Renata Sarni teve uma infância e adolescência de privações. Seu pai era motorista e sua mãe cabelereira, e desde cedo, eles ensinaram a ela a importância de cada centavo, e de como era necessário trabalhar duro para conseguir aquilo que se deseja.

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No final do período escolar, Carla decidiu se tornar professora infantil e assim deu início a preparação para dar aulas. Porém, seis meses antes de concluir o magistério, ela foi convidada por um primo para ir para a cidade de Alfenas em Minas Gerais para estudar. A cidade que é um recanto de universitários, possui uma Universidade pública que é referência em todo o país.

Diante da oportunidade, Carla decidiu cursar Odontologia em Alfenas, e para conseguir tornar o sonho realidade, ela fez um acordo com mãe, que havia acabado de abrir uma pequena loja de roupas em Pitangueiras.

Como a família não tinha dinheiro para manter Carla em outra cidade, ela teria que trabalhar para pagar integralmente seus custos. E a ideia inicial era que sua mãe fosse sua fornecedora de roupas para que ela vendesse para as colegas de faculdade e assim conseguir o dinheiro para se bancar na nova cidade.

Pelo acordo, se Carla não conseguisse se manter, ela teria que voltar para casa.

Foi assim que Carla rumou para Alfenas após passar no vestibular.

Durante o curso, além das roupas, ela também vendia bombons caseiros, sapatos, bijuterias e qualquer outro produto que ela conseguisse um fornecedor. Desse modo, além de estudante, Carla exercia a atividade que é conhecida popularmente como Sacoleira.

Normalmente, durante o dia ela levava encomendas para alunos e professores entre os períodos de aula, e a noite ela percorria as diferentes repúblicas estudantis oferecendo seus produtos.

Com muita dedicação e sem medo de tomar um não, Carla conseguia vender regularmente todo o seu estoque. Mas apesar de ser uma boa vendedora, ela também teve que lidar com o preconceito dos colegas, que a chamavam de Camelô.

Ainda assim, a atividade compensava, e além de bancar seus custos durante o período escolar, em pouco tempo ela teve uma sobra que era destinada para ajudar a mãe e os irmãos. Infelizmente, durante o período, Carla perdeu o pai, o que impactou a renda da família, e dava uma motivação ainda maior para que ela continuasse as vendas.

Enquanto vivia a jornada dupla de estudante e sacoleira, ela também encontrava tempo para participar de um projeto social da faculdade que prestava atendimento odontológico para os moradores da região que não tinham condições de pagar por um dentista.

A atividade era inicialmente contada como tempo de estágio obrigatório, mas após o período exigido, ela continuou servindo ao projeto por ter se encantado pelo trato com as pessoas mais necessitadas.

A experiência deu a ela os primeiros e valiosos ensinamentos como dentista. Primeiro pela parte prática, que a tornou tempos depois uma boa cirurgiã dentista. E o segundo, por que o trato com as pessoas fez com que ela abrisse os olhos para as carências e eventuais necessidades que as pessoas tinham em relação à Odontologia. Nesse momento, ela percebeu que um dos maiores problemas era o custo elevado de um tratamento e de uma manutenção dentária regular.

Após se formar, Carla se mudou para São Paulo em 1995, em busca de oportunidades como dentista. Por lá, ela conseguiu uma acomodação na casa de seus tios, e logo arrumou seus primeiros trabalhos em clínicas pequenas na zona leste paulista.

As primeiras experiências mostraram para ela uma realidade preocupante. As clínicas eram em ambientes hostis e não prezavam pela higiene. E em boa parte, além de preços injustos, os donos não eram exatamente honestos com os clientes.

E, de forma ainda mais impressionante, mesmo com todos os problemas, as clínicas ainda tinham um número razoável de clientes.

Durante estas experiências, Carla trabalhou em clínicas que tinham regimes diferentes de contratação. Em alguns deles, os dentistas eram pagos por dia e não por clientes, então demoravam propositalmente entre um cliente e outro. Em outro lugar, cabia a ela providenciar até mesmo os materiais de higiene para as consultas.

Cansada dessas decepções, ela enfim conseguiu uma oportunidade para trabalhar em um consultório unitário que já montado, e que era alugado por um advogado, que já possuía uma carteira de clientes.

Nessa condição, ela percebeu que poderia trabalhar o quanto conseguisse, precisando dividir parte do rendimento com o dono do consultório, em um esquema de parceria; comum na área odontológica. Logo, ela continuaria como empregada, mas com uma boa dose de autonomia.

Percebendo as disfunções dos outros profissionais, até mesmo de colegas de trabalho, Carla começou a oferecer um atendimento de qualidade para os clientes, e em pouco tempo, se tornou reconhecida na região pela atenção que dava aos pacientes; ao ponto dos clientes esperarem meses para serem atendidos pela dentista Carla Sarni;

Além de se dedicar em cada uma das consultas, dando sempre o seu máximo, Carla aproveitava também os sábados para atender clientes até durante a noite. Em uma destas noites, ela foi abordada por um homem que precisava de ajuda para solucionar uma dor de dente, mas que não tinha condições de pagar o tratamento.

Sensibilizada, ela ajudou o homem, que anos mais tarde a reencontraria.

Percebendo que poderia ganhar mais por conta própria, Carla passou a economizar ao máximo para ter o seu próprio consultório. E quando chegou o momento de se demitir, ela foi surpreendida pelo próprio patrão, que ofereceu para ela a compra de toda sua cartela de clientes e a cessão definitiva do estabelecimento.

A oferta foi aceita, e assim, Carla dava seus primeiros passos como dona do próprio consultório. Pelo acordo, ela teria 12 meses para pagar o combinado ao antigo patrão.

Com medo de não conseguir honrar o compromisso, a dentista trabalhava de segunda a segunda, com apenas uma única folga por mês.

Enquanto trabalhava para pagar a dívida com o ex-chefe, a avó e uma tia de Carla a presentearam com uma cadeira de dentista totalmente nova.

O presente abriria uma nova possibilidade para ela. Ao invés de trocar a cadeira do consultório em que atendia, ela decidiu manter as duas; e alugar uma sala ao lado para uma amiga, que poderia usar o espaço e a cadeira antiga.

Dessa forma, Carla aos poucos dava os primeiros passos para deixar de ser autônoma. Enquanto dentista, ela estava dependente do número de clientes que era capaz de atender. E dessa forma, caso ela não trabalhasse, ela não ganharia. Então, no final das contas, ela estava trocando o seu tempo por dinheiro.

Com a ideia de alugar esse novo pequeno consultório ela criou uma fonte de renda passiva, em que ela receberia dinheiro mesmo sem estar trabalhando naquele outro consultório; consolidando um complemento a sua renda principal que dependia exclusivamente de seu esforço diário.

Em pouco tempo, Carla quitou o pagamento do consultório e com o dinheiro que sobrava ela dava início a novas empreitadas, e em menos de três anos, ela já alugava 5 salas no mesmo local, que abrigavam diferentes profissionais, e que garantia fontes de renda alternativas para ela. Além disso, ela também conseguiu reformar o espaço e dar uma nova cara para o local.

Por coincidência, boa parte dos clientes que enchiam as salas vinham por indicação de um pastor, que curiosamente era aquele mesmo homem que Carla havia ajudado tempos antes. Segundo ela, a gratidão daquele homem era tão grande que ele regularmente contava a história durante as celebrações de sua Igreja.

A junção das forças de trabalho dos dentistas deu origem a uma empresa, que ficou conhecido como clínica odontológica, e assim surgia a Sorridents.

A clínica mantinha os mesmos pilares desde quando Carla ainda trabalhava por conta própria. Oferecer para os clientes um atendimento de qualidade a um preço justo, através de muita dedicação e trabalho duro.

Como dona do negócio, Carla deixou o dia a dia como dentista e passou a se dedicar como a grande responsável por um projeto que transformaria o conceito de odontologia.

Na prática, a Sorridents atendia às classes C e D com atendimento no nível das classes mais altas, a um preço acessível. Dessa forma, as pessoas logo identificavam que poderiam pagar pouco e levar um grande serviço em troca.

Em pouco tempo, a clínica se tornou um enorme sucesso. Além do atendimento humanizado, a empresa contava com profissionais que atendiam diferentes áreas da odontologia, e assim era possível atender diferentes tipos de necessidades ortodônticas; ampliando o leque da Sorridents.

Esses ingredientes, transformaram a clínica em um grande case de sucesso, pronto para crescer e se multiplicar.

Em 2000, cerca de 5 anos depois da chegada de Carla a São Paulo, surgiu a oportunidade de adquirir um imóvel nas proximidades da clínica. Até então, o imóvel antigo estava abarrotado, e não havia espaço para crescer a estrutura.

Diante da oportunidade, Carla usou todos os recursos que possuía e entrou em um financiamento bancário para criar uma loja modelo para a Sorridents. Segundo ela, até o próprio carro foi vendido para tirar o projeto do papel e ela voltaria a andar de ônibus como nos anos anteriores.

O imóvel escolhido tinha 12 salas e consumiu cerca de 1 milhão e meio de reais.

A mudança ajudou a empresa a crescer, contratando mais pessoas e atendendo muito mais clientes; e após os três primeiros meses, o faturamento já havia triplicado. E o movimento era tão forte que até o marido de Carla, Cléber, deixou o emprego como militar para se dedicar à empresa.

O sucesso foi logo consolidado na cidade de São Paulo, e as pessoas perceberam que a marca era sinônimo de bom atendimento, qualidade e preço justo; o que era uma revolução no conceito de odontologia até então.

Tal reconhecimento fez com em 2005 a empresa já contasse com 23 unidades próprias. E o modelo se provou tão eficaz e replicável que a Sorridents se tornou uma franquia em 2007, conquistando várias unidades no país.

O modelo de sucesso foi replicado diversas vezes, ao ponto de em 2009, a empresa contar com 40 unidades próprias e várias unidades franqueadas. Mas, não bastavam os milhares de clientes e as diversas unidades.

Para crescer, a Sorridents utilizou uma linha de crédito de um projeto governamental que tinha juros pós-fixados, e por estar alavancada, a empresa tomou um grande susto ao ser informada pelo banco de que a taxa de juros havia mudado, e que a partir dali a empresa tinha uma dívida muito maior do que o imaginado; e para completar, as parcelas bancárias iriam impactar o fluxo de caixa da empresa; o que na prática, impedia o pagamento de diversas obrigações.

Nesse cenário, segundo a própria Carla, a empresa passou a dever 23 milhões de reais. E para completar, não havia hipótese de refinanciamento ou da concessão de novas linhas de crédito em outros bancos.

Desesperada, ela resolveu sacrificar a vida pessoal para salvar a empresa, e assim ela se desfez de seus carros e também do imóvel em que morava com o marido e os filhos. Mas, os valores obtidos nem de longe resolviam o problema, e apenas ajudariam a estancar a sangria por poucos meses.

Praticamente sem saída, Carla recebeu uma oferta de um concorrente para vender a empresa. Tentada, ela decidiu preparar a empresa para a venda, mesmo sabendo que a operação faria com que o trabalho de anos fosse vendido por um valor muito menor do que o verdadeiro, e tudo por conta do descontrole financeiro.

Nesse turbilhão, Carla foi agraciada com um prêmio honorário de Jovens Lideranças, que contava com uma banca de personalidades, dentre elas Luiza Helena Trajano, responsável pelo Magazine Luiza.

O prêmio fez com que as duas se conhecessem, e no dia seguinte à premiação as duas se encontraram em um almoço que mudaria a trajetória de Carla.

Durante o encontro, ela comentou que estava em vias de vender a empresa para a concorrência em virtude da dificuldade financeira e da alta taxa de juros daquele momento.

Nesse momento, Luiza Helena não só se dispôs a ajudar Carla a conseguir um empréstimo mais em conta, como também lhe deu um conselho que mudou sua perspectiva sobre negócios. ‘’ Focar em ser a melhor empresa, não a maior’’.

Segundo a própria Carla, esse conselho foi fundamental para um processo de turn around na Sorridents.

Para conseguir uma condição melhor junto ao banco, seria necessário enxugar a empresa, a fim de diminuir a folha de pagamento e também otimizar os recursos para que a empresa pudesse ver a luz no fim do túnel.

Ao longo dos anos, a empresa acumulou cargos e custos que não eram exatamente necessários, principalmente pelo fato de que o crescimento acelerado se deu majoritariamente pela persistência e instinto da própria dona.

Foi diante dessa situação que a empresa teve que dispensar alguns funcionários e simplificar alguns processos. Tal mudança fez com que Carla e o Marido tivessem que trabalhar até mesmo de madrugada para fazerem o serviço que era feito até então por outras pessoas.

Aos trancos e barrancos, a empresa conseguiu um respiro e enfim convenceu um banco a ceder uma linha de crédito para que a Sorridents pudesse sobreviver e caminhar com as próprias pernas.

Com a situação resolvida, a ideia da venda não avançou e no ano seguinte, a Sorridents já podia contratar novos funcionários.

Em 2017, cerca de oito anos depois, a empresa já havia quitado os 23 milhões de reais. E enquanto isso, ela não só se recuperou como também cresceu ainda mais por meio do sistema de franquias.

Com bases sólidas, a empresa conseguiu superar a crise econômica que começou em 2015 e além de abrir novas unidades, também lançou seu próprio cartão de crédito e investiu em uma empresa de convênio odontológico para facilitar a vida de seus clientes.

Atualmente, a Sorridents conta com 380 unidades em todo país. sendo elas majoritariamente franquias. Ao todo, são mais de 5 milhões de clientes atendidos regularmente.

Além disso, Carla Sarni também é dona de uma empresa de clínicas oftalmológicas chamada Olhar Certo e é sócia da atriz Giovanna Antonelli em uma rede de clínicas estéticas chamada Giolaser.

Ao todo, os negócios de Carla somam 440 franquias que devem faturar 423 milhões de reais em 2020 segundo a Infomoney.

E atualmente, Carla Sarni é uma das empreendedoras mais admiradas do Brasil e um exemplo do poder de transformação do empreendedorismo. Sua história foi inclusive apreciada como um case de sucesso na prestigiada universidade de Harvard, mostrando a força e o talento da empresária brasileira.

E por conta de todos estes feitos, a trajetória de Carla Sarni é mais uma história de sucesso que merece ser contada em nosso canal.

https://exame.com/pme/como-ela-usou-dicas-de-luiza-trajano-e-pagou-dividas-de-r-23-mi/

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